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Entrevista com um psicanalista

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Por:   •  12/9/2014  •  Artigo  •  1.136 Palavras (5 Páginas)  •  2.248 Visualizações

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Entrevista com um Psicanalista

Tinhamos a intenção de registrar a entrevista com um gravador, porém o psicólogo

entrevistado disse que aquilo que fosse importante, o que a nossa memória registrasse

ficaria no consciente e que assim seria muito mais interessante. Dispensamos assim o

gravador e registramos por escrito as anotações, conforme ele ia respondendo as nossas

perguntas, e também de acordo com o que ficou registrado em nossos conscientes.

1) Qual a linha teórica que embasa o seu trabalho e porque escolheu esse trabalho?

Resposta: Psicanálise. Por que fui “abduzido” no momento em que cursava Psicologia na

UFRGS, em 1976, pois novos ventos sopravam em Porto Alegre, representados pelas ideias

de Lacan. E já no 1º. dia de aula, na porta do prédio da Faculdade, um colega que estava

desistindo do curso (indo para Sociologia) me ofereceu a coleção completa de Freud e eu

comprei. Em 1978 começou o estágio de Clinica com essa referência teórica e já não tinha

mais dúvidas sobre a sua escolha.

2) Onde fez a sua formação ou sua especialização nessa área e quanto tempo durou?

Resposta: Iniciei a formação na UFRGS. Um começo que nunca termina, há 33 anos, entre

estudo, prática e análise pessoal.

3) Quando você começou a trabalha (prática) nesta linha e em que lugares você

atuou?

Resposta: Sempre tive clinica privada e na Prefeitura Municipal de Cachoeirinha iniciei

em 1984, depois de apresentar um projeto de Clinica Social ao Prefeito. Naquela época o

regime dos servidores públicos era celetista e não estatutário como é atualmente.

4) Em que casos essa linha é mais eficaz?

Resposta: É eficaz nas neuroses em geral, mas também, principalmente a partir de Lacan,

pela neurose, com a devida distinção entre as clinicas nas neuroses e as clínicas nas

psicoses, pois são diferentes.

5) Você acredita que o psicólogo precisa escolher uma linha teórica específica para

trabalhar, porquê?

Resposta: Somente a escolha permite o engajamento profissional:

1º. escolha da área de atuação: clínica, organizacional, escola, etc...

2º. escolha da Teoria para fundamentar a prática para poder ir a fundo. O ecletismo serve

mais para representar a confusão que precede uma escolha, essa escolha que tem que tocar

a alma, o espírito, caso contrário se tornará um profissional medíocre.

6) Quais as diferenças entre as práticas desenvolvidas em consultórios particulares e

as desenvolvidas na Saúde Pública?

Resposta: Não há diferença do ponto de vista de que a teoria e a prática são as mesmas, há

diferença de contrato, porque na saúde mental pública não há pagamento pelo atendimento,

bem como implica vínculo do profissional com o tempo de serviço, com a possibilidade

de interrupções por causas políticas, administrativas ou institucionais, enquanto na clinica

privada não.

7) Qual a atuação do psicólogo no contexto social da rede pública?

Resposta: Os procedimentos não são unificados, eles são determinados pelas referências

que determinam a formação de cada psicólogo.

8) Tendo em vista que a clientela do SUS é oriunda dos segmentos mais pobres da

população, o portador de sofrimento mental que busca o serviço permanece no

trabalho oferecido no contexto de Saúde Coletiva?

Resposta: O que define o perfil de duração do tratamento tem há ver com a quebra do tabú

da “loucura”, ou seja, quanto mais tempo uma comunidade desenvolve atendimento em

saúde mental, muda a cultura da comunidade, o que permite observar que a resistência à

continuidade do tratamento já não é o maior impeditivo.

9) O SUS determina um número “X” de consultas psicológicas?

Resposta: Não, não existe esta determinação. O SUS propõem que a qualidade seja a

prioridade em relação à quantidade, porém a demanda pressiona no sentido de se buscar

práticas psicoterapeuticas breves (entre 10/20 sessões), porém o excesso de demanda

pressiona na direção de abreviar o tempo de tratamento. O que algumas vezes inviabiliza o

tratamento psicanálitico, que é mais longo.

10) Porque você escolheu Lacan?

Resposta: Porque eu estava num momento, em um tempo, em que Porto Alegre passou a

ser a rota dos psicanalistas da Argentina que vinham dar formação. Isso começou a vir da

Argentina, depois vieram os franceses. Lacan escolheu a Psicanálise porque achava que

a psiquiatria não dava mais conta. Percebeu a força de Freud, diferente dos seus colegas

que não tinham lido Freud ou, se tinham lido, não tinham visto coisas, o agito, o manancial

daquela gente do século XX. Lacan fundou escola, começou a trabalhar só com um grupo

que estava disposto a retomar Freud. Começa então a agregar teorias de outras ciências

como Linguistica e Fisiologia, o que abriu o leque da psicanálise. Toma a Topologia

(matemática) para visão psicanalítica, bem como literatura e a filosofia. A Teoria do

Significante (Linguistica: significante/significado): Tudo que possa transformar o sujeito

naquilo que ele possa se tornar.

11) O que podemos observar estudando um pouco sobre Lacan que ele tem duas

“partes” a primeira parte é que ele tenta retomar a virulência da descoberta de Freud

(fase Freudiana) e a segunda parte é que ele avança sobre a descoberta de Freud (fase

Lacaniana).E você se identifica por qual dessas partes?

Resposta: Eu não tenho admiração por só uma parte do trabalho de Lacan. Eu admiro ele

em si pois,numa época em que a psicanálise já estava tomando rumos diferentes daquele

proposto por Freud ele teve a iniciativa de fazer uma releitura de Freud e depois com todo

o seu conhecimento desenvolveu a psicanálise de Freud com outras áreas por exemplo, a

Topologia.

12) Lacan de um certo modo pelo que entendemos tinha uma certa admiração pelas

descobertas de Freud até porque fez uma releitura de suas descobertas. E o que você

acha das descobertas de Freud?

Resposta: Freud é o pai da psicanálise,ele é único pois logo em seguida os seus seguidores

nunca fizeram exatamente igual sempre inovando alguma coisa um exemplo disso é que

Lacan tinha um modo diferente que Freud,enquanto Freud controlava de forma precisa o

tempo de suas terapias Lacan já não se importava muito com o tempo de suas sessões. Para

mim um psicanalista é único que toma como “base” a teoria de Freud e acrescentando suas

idéias.

13)Freud dizia que no inconsciente estavam todos os desejos sexuais reprimidos já que

o contexto daquela era mais reprimido e agora que estamos no século XXI que temos

mais liberdade para falar sobre assuntos sexuais a psicanálise ainda tem essa idéia que

no inconsciente fica desejos sexuais reprimidos. Qual é a visão da psicanálise?

Resposta: Ainda existe sim esses desejos reprimidos,porque tudo que é recalcado fica no

nosso inconsciente.

14) Me diga alguma curiosidade de interessante daquela época que não se vê mais

hoje em dia.

Resposta: Quando fui para escola de Lacan nós estudávamos de domingo a domingo não é

que nem hoje.

15) Hoje em dia existe alguma escola de Lacan aqui em Porto Alegre?

Resposta: Sim eu dou formação Lacaniana.

Conclusão:

Para o psicanalista entrevistado a psicologia acadêmica, como ciência, ter que ter a

racionalidade como guia, pois ela não é religião, pois a psicanálise é fundamentalmente

prática. Fora da análise não há análise. Um sujeito culto que somente lê as teorias da

psicanálise, não o transforma em um psicanalista. O Analista trabalha com o sujeito e não

com a massa. Quando o sujeito da massa vem se tratar, ele começa a sair da massa. O que

podemos concluir é que mesmo que não seja siga mais a risca a teoria de Freud ainda tem

algumas idéias Freudianas inserida na clínica de alguns psicanalistas.

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