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Estigma: Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada

Por:   •  7/9/2018  •  Resenha  •  2.410 Palavras (10 Páginas)  •  922 Visualizações

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RESENHA DE LIVRO:  GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 1988, 158p.

Goffman, Erving (nasceu em Mannville, Alberta, 11/06/1922; morreu na Filadélfia, 19/11/1982) foi um cientista social e escritor no Canadá. Estudou Sociologia e Antropologia Social nas universidades de Chicago e Toronto. Em 1958, integrou aos docentes da Universidade da Califórnia, tendo sido elevado a Professor Titular em 1962 e em 1968, ingressou-se na Universidade da Pensilvânia, sendo professor de Sociologia e Antropologia. Goffman, em 1981-1982, foi presidente da Sociedade Americana de Sociologia.

O livro “Estigma - Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada” apresenta os conceitos de estigma e identidade social e como a execução dos papeis sociais influi na maneira como cada pessoa idealiza a sua imagem e pretende mantê-la. Goffman considera em sua obra, os sentimentos do indivíduo estigmatizado sobre si próprio e a sua relação com as pessoas ditas “normais”. Explora ainda a variedade de estratégias que esses indivíduos aplicam para suportar com a rejeição e a complexidade de tipos de informações sobre si próprios que se projeta na sociedade.

Assim, o autor propõe elucidar a relação entre estigma e a demanda do desvio social, o qual se confirma em diversos contextos onde os indivíduos são inseridos; também procura compreender como estas relações são constituídas e cultivadas ao decorrer do contato social.

O livro divide-se em cinco capítulos. Os primeiros quatro consideram a maneira como controlamos a circulação de informações que nos poderá desacreditar. O último capítulo focaliza o desvio em si e provoca o estudo do comportamento desviante como uma legítima subdivisão da sociologia.

Após um breve prefácio, o autor inicia a apresentação com uma história comovente sobre uma menina que nasceu sem nariz e tem desejo de namorar.

Convenciona-se que a questão do estigma tem originado na antiga Grécia como a presença de sinais corporais a fim de evidenciar situações extraordinárias ou maldosas sobre o status moral daqueles que as apresentavas. De certa forma, mantém-se esse conceito, ampliando-se o sentido para uma categoria de “desgraça”. (p. 5)

O termo estigma e seus sinônimos ocultam uma dupla perspectiva: No primeiro caso, está lidando com a condição do desacreditado, no segundo com a do desacreditável. Assim, sobre estigma compreendemos como um tipo peculiar de relação entre estereótipo e atributo, entre aquilo que o próprio indivíduo é e aquilo como a sociedade enxerga nele. Há ainda atributos em que grande parte da sociedade induz ao descrédito. É citado 03 tipos de estigma: abominações do corpo (como as deformidades físicas, que podem tanto já ter nascido com o individuo ou adquirido ao longo de sua vida); as culpas de caráter individual (como crenças falsas, vontade fraca e desonestidade); e, estigmas tribais de raça, nação e religião (perpassados por gerações familiares e culturais). (p.7)

Fato é que o indivíduo, em todos esses tipos, pode se encontrar impedido de ser socialmente aceito e que seus atributos possam ser tanto ignorados ou não percebidos, pelo fato de não significarem humanos em sua plenitude, tornando-se pessoas desacreditadas. É terrível observar que em sua vida, o estigmatizado pode achar indivíduos que não são iguais a ele, mas que possuem o mesmo estigma. O interesse é direcionado para a vida coletiva. O estigmatizado pode simplesmente isolar-se do mundo que o rejeitou ou pode instruir-se novas maneiras de ser aceito e encontrar-se preparado para o que ele pode deparar fora de seu grupo. Ele pode também se descobrir com os chamados “informados” (p.27), que são as pessoas que não possuem o estigma, mas que bem o conhecem, e na relação com um individuo estigmatizado, existe a minimização do estigma ou ele é unicamente ignorado.

Pode ser explicada a característica central da circunstância de vida, do sujeito estigmatizado sendo uma questão do que é frequentemente denominado de "aceitação" (págs. 27, 49, 71). Aqueles que possuem relações com ele não conseguem transmitir o respeito e a consideração que os aspectos não contaminados de sua identidade social os haviam levado a prever e que ele havia previsto receber; ele faz eco a essa negativa descobrindo que alguns de seus atributos a garantem.

Durante a constituição de sua carreira moral, o estigmatizado possui uma aprendizagem relativa quanto à sua condição, podendo sofrer mudanças na concepção do seu ser. A história de vida e a história do estigma dessa pessoa devem ser separadas, pois o estigma pode ter várias procedências, tanto congênitas quanto adquiridas. O indivíduo pode rapidamente se aceitar, ou jamais, isso dependerá do meio social em que ele está inserido.  (p.41)

O caráter que conferimos ao indivíduo conforme a aparência que nos dá, é chamada de  identidade social virtual. A categoria e atributos que podem ser demonstrados denomina-se identidade social real. (págs. 108, 115)

A “imagem real” pode ser “afetada pela virtual”, o que pode influenciar nas condutas, surgindo disfarces para não tornar evidente as limitações, acobertando os estigmatizados por medo, pois eles não sabem como as pessoas reagirão frente as suas características. O acobertamento, a máscara, poderá ser descoberto, havendo do sujeito certamente uma postura não compatível com o que se espera, além de dispor de uma forte energia psíquica para organizar mentiras e encobri-las para que não acrescente os seus conflitos. Atitudes estas mantidas na sociedade “normalizadora”, pois camuflando os meus defeitos, desencadeio o processo que os outros também escondam os seus. Compreendemos assim que há o encobrimento (atitudes para esconder as características limitantes ou discrepantes em relação ao “padrão de normalidade”) e o acobertamento (repertórios que os estigmatizados criam para que possam interagir com a sociedade sem serem identificados). (p. 90)

O indivíduo estigmatizado tende a sustentar as mesmas crenças sobre a identidade que nós; a sensação de ser uma “pessoa normal”, um ser humano como qualquer outro que merece uma oportunidade justa para iniciar em alguma atividade, pode ser uma de suas por profundos sentimentos a respeito de sua identidade. Ou ainda, usará, provavelmente, o seu estigma para "ganhos secundários" (p.12), como desculpa pelo fracasso a que chegou por outras razões. Considerando o que pode enfrentar ao entrar numa situação social mista, o indivíduo estigmatizado pode responder antecipadamente através de uma capa defensiva. Esse indivíduo também pode tentar aproximar-se de contatos mistos com agressividade; isso pode provocar nos outros uma série de respostas desagradáveis.

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