Ficha de Leitura: Observar os processos psicológicos presentes em uma sessão de terapia
Por: bianca zanuzo • 16/7/2020 • Pesquisas Acadêmicas • 1.581 Palavras (7 Páginas) • 395 Visualizações
Nome do observador: Bianca Zanuzo
Data da Observação: 30/04/2020
Horário da Observação: Início:18:33 Término: 19:17
Observação Nº1
Objetivo da observação: Observar os processos psicológicos presentes em uma sessão de terapia.
A presente observação se passa em um consultório psicanalítico, situado na esquina da rua República com a Araújo, na cidade de São Paulo. No hall de entrada do prédio há três grandes pilares, um verde, um cinza e o outro branco. Logo após há alguns degraus de mármore que levam ao elevador. Apesar da construção sofisticada, o prédio possui algumas salas vazias com paredes de vidro e placas de "aluga-se". Somado ao fato de que não há ninguém no hall, nem mesmo porteiro, dá a impressão de ser um lugar pouco frequentado. A sala de espera do consultório tem pouca iluminação, apesar de possuir uma grande janela e alguns abajures, um em cima do aparador de madeira antiga, outro ao lado de duas poltronas no canto da sala.
A paciente Joana, uma mulher de aproximadamente 40 anos, vestindo trajes de academia, um boné, capuz e óculos escuros, chega inquieta e começa a andar de um lado para o outro na sala. Ver aquela cena me deixa ansiosa, parece que aquela mulher está muito angustiada com alguma coisa. Ela se senta na poltrona, mas logo levanta e volta a andar pela sala. Até que num impulso abre a porta do consultório e pergunta se pode entrar. O psicólogo, que estava em uma ligação, responde que logo a atende mas ela insiste e ele, parecendo incomodado responde "espera por favor"(sic), ela volta para a sala contrariada. Aquela cena me deixou um pouco constrangida, acredito que se eu fosse a terapeuta ou a paciente essa situação iria interferir na forma como eu reagiria na sessão. Para mim foi uma cena desconfortável de assistir.
Após alguns minutos o terapeuta, um homem de aproximadamente 40 anos, com um aspecto sério, cabelos levemente grisalhos, chama Joana para entrar. O consultório é amplo, porém com pouca iluminação. O ambiente possuía janelas grandes e vários abajures, me perguntei se o terapeuta fazia coleção deles. Havia também uma estante de livros com muito objetos de decoração em cima e bem no centro da sala um sofá em frente a uma poltrona, onde ocorreria a sessão. Acredito que o terapeuta resida ali, pois havia uma cozinha e portas separando outros cômodos.
A paciente Joana entra e se senta na poltrona do terapeuta, e só saiu quando o psicólogo ficou em pé a encarando. Aquela cena me lembrou um atendimento que assisti na sala de espelhos onde uma paciente histriônica teve a mesma atitude de Joana. Ela parece se sentir bem a vontade, perguntando sobre a ligação em que o psicólogo estava e brincando dizendo que ele precisa ir na terapia.
O terapeuta pergunta o porquê de Joana estar de óculos, ela os tira juntamente com o boné e o encara, como se esperasse uma reação. Começa a dizer que marcou a sessão com seu nome de batismo porque quando fala seu nome as pessoas enlouquecem. O psicólogo parece não entender do que ela está falando, então ela pergunta se ele não a reconhece pois é uma atriz famosa e aparece em várias revistas e filmes.
Joana fala muito sobre ela, mas de forma superficial. Acaba falando mais especificamente de seu alter ego de atriz, Chiara Ferraz e todo seu sucesso. O terapeuta pergunta se era importante que ele a reconhecesse e ela muda de assunto, como se não quisesse responder. A moça parece tentar seduzir o terapeutaem diversos momentos, insinuando que "iriam rolar no sisal" (sic). No momento em que vi isso, só consegui pensar comigo mesma "quanta encenação, o que ela quer provar com isso?", para mim estava claro que ela traria muitas dessas questões para a terapia.
Ao ser questionada do motivo por que estava lá, Joana diz que começou a se preocupar pois havia dias em que não conseguia levantar da cama nem se mexer. Disse ter ido em um médico que a encaminhou para um psiquiatra, que alegou que ela estava deprimida. Isso parece tê-la deixado ofendida pois achava impossível uma mulher como ela se sentir dessa forma. Exclamava não haver motivos para isso, pois estava em seu auge e depressão é para pessoas fracas.
Após isso ela procurou ajuda em diversas áreas, fez regressão, constelação familiar, rituais religiosos entre outras coisas. O psicanalista ria levemente de suas histórias, como se ficasse sem graça. Tudo era falado de uma forma muito encenada, ela gesticulava e chegava a se levantar ao falar. Não sei se pelo fato de ser atriz, mas me pareceu que ela tinha fortes traços histriônicos (DSM, 2013).
Joana diz que voltou ao psiquiatra e ele a receitou um medicamento tarja preta. Ela então disse uma frase que para mim foi muito boa: "vai que aquilo muda minha personalidade, eu sou assim" (sic). Essa frase me fez pensar nas pessoas que sofrem de algum transtorno de personalidade, e em como fica a cabeça delas em pensar que uma medicação pode diminuir sintomas desse transtorno que a acompanharam por boa tarde de suas vidas, que a fizeram "ser assim". Olhando por esse lado entendo a fuga dela em aceitar que pode ter algum problema psicológico, alguém que é egossintônico pode estranhar ao se ver funcionando de maneira diferente.
O terapeuta diz que até o momento ouviu muito sobre Chiara e pouco sobre Joana, que está interessado em saber o que a Joana que marcou a sessão tem a dizer. Após ele falar isso, Joana desconversa novamente, se levantando e abrindo a geladeira, como se tivesse intimidade com o terapeuta.
Ele então pergunta há quanto tempo ela é engraçada e Joana responde que desde pequena, que fez muito esforço para chegar onde chegou, pois não nasceu bonita então deveria ser engraçada. Ao ser questionada se ela não se achava bonita, Joana diz que para ela não importava de não se achar bonita, mas que tinha que ser bonita para os outros. Eu tinha a impressão de que aquela mulher há tempos funcionava de forma que fosse aceita e agradável para os outros. Me sentia angustiada pois além disso dava a impressão de que ela queria esconder alguma coisa por trás de todo aquele espetáculo.
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