HIPERACTIVIDADE: NOVOS SINTOMAS DE ORDEM E TRATAMENTO
Projeto de pesquisa: HIPERACTIVIDADE: NOVOS SINTOMAS DE ORDEM E TRATAMENTO. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: 201476 • 23/6/2014 • Projeto de pesquisa • 2.491 Palavras (10 Páginas) • 382 Visualizações
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HIPERATIVIDADE: NOVOS SINTOMAS DE ORDEM E DESORDEM
Simone Bianchi
D.E.A. pelo Département de Psychanalyse de Paris VIII
Especialista em Psicanálise - UFF
Psicanalista, correspondente da EBP-Rio de Janeiro
Rio de Janeiro - Brasil
sincaroch@hotmail.com
Resumo
Em conseqüência das transformações na família que decorrem dos
efeitos do discurso da ciência, tais como, o apagamento da diferença
sexual e o declínio do Nome-do-pai, encontramos a hiperatividade como
um novo sintoma na clínica com as crianças.
Palavras-chave: sintoma, significante, objeto, gozo.
HYPERACTIVITY: NEW SYMPTOMS TO ORDER AND DISORDER
Abstract
Due to the transformations in family from science guideline effects such
as erasing of sexual difference and the decline of the Name of the
Father, we find hyperactivity as a new symptom in treating children.
Keywords: Symptom, significant, object, joy.
Introdução
Hoje, nos deparamos com a criação de uma nova sintomatologia
psiquiátrica: a hiperatividade. Originalmente a psiquiatria a classificou como
um distúrbio do comportamento, designando-o como uma “agitação”.
Assim, temos uma aproximação de dois termos: agitação e hiperatividade.
Trata-se de um corpo vivente onde o movimento do sujeito é considerado
desordenado ao olhar do observador. No entanto, é preciso fazer uma
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distinção entre esses dois termos na clínica. O primeiro refere-se à clínica
do olhar, e necessita de um Outro consistente, Outro da lei que reconheça o
sujeito agitado. Existe aí um julgamento de valor, que incide sobre a
distinção entre os comportamentos socialmente apropriados e aqueles que
são impróprios. O segundo também se refere à clínica do olhar, mas
comporta uma nova segregação em nome da ciência. O hiperativo não é
somente um agitado, mal-comportado. O hiperativo é um quadro clínico e
como tal destitui o Outro consistente da lei, substituindo-o pelo novo
“homem sem qualidades”,1 o indivíduo estatisticamente padrão. A ciência
moderna busca enquadrar os sujeitos, a partir de uma norma do
comportamento ditada pelos estudos estatísticos, comparativos, que não se
importam com a singularidade. Assim, a criança hiperativa é identificada
por um comportamento fora da norma, pois a ciência quantifica seu
comportamento e estabelece que se trata de um sintoma que desvia do
normal.
A partir dos anos vinte, a escola francesa de psiquiatria composta por Henri
Wallon, Julian de Ajuriaguerra, Serge Lebovici, René Diatkine e Michel
Soulé, propõe-nos a noção de “instabilidade motora”. Para esses autores, a
hiperatividade é uma manifestação sintomática de um comportamento
ansioso; ou uma defesa maníaca frente à depressão baseando-se no
conceito kleiniano. A escola anglo-saxônica escolhe uma concepção
neurológica e generaliza o uso do termo hiperatividade, que inicialmente
designava os comportamentos oriundos das seqüelas das encefalites. Sua
hipótese orgânica eleva o distúrbio à mesma dimensão das lesões cerebrais,
um disfuncionamento cerebral, o que os leva a fazer uso da substância
anfetamina para tratá-lo. Nos Estados Unidos já foram publicados diversos
artigos, apontando a eficácia do tratamento com esta substância em
crianças. O DSM III e IV propõe a terminologia “Transtorno de déficit de
atenção/hiperatividade”, o que abre a possibilidade de que ele seja tratado
pelo cognitivismo comportamental. Inicialmente esse transtorno era isolado,
mas hoje em dia ele é associado a outros, tais como o transtorno da
aprendizagem, da linguagem, do comportamento e da ansiedade.
A pantomima do sujeito
Podemos nos perguntar: qual é o parceiro do sujeito hiperativo? O olhar
que o vigia, o avalia e o classifica? Ou um discurso que ele ignora? Partimos
da hipótese de que a hiperatividade, chamada pelo behaviorista de distúrbio
do comportamento, seja a pantomima de um texto à espera de ser lido. As
terapias cognitivas comportamentais visam o retorno da ordem dos
distúrbios do comportamento, onde o corpo aparece com a capacidade
instintual de adaptação a ser reeducado. O behaviorista, aliando-se ao
discurso do mestre, pretende ter uma solução para a provocação do
comportamento, foracluindo um além da psique. Para nós, a hiperatividade
é uma resposta do sujeito frente à insegurança linguageira que enrijece
desde seu encontro com o buraco da significação da língua,
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