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Identidade de gênero é passivo de mudança?

Por:   •  27/5/2017  •  Ensaio  •  1.106 Palavras (5 Páginas)  •  523 Visualizações

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Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Filosofia e Ciências Humanas

Departamento de Psicologia

Curso de Graduação em Psicologia

A identidade de gênero é passível de mudança?

Trabalho apresentado por Ítala Cleane à Profa. Selma Leitão como avaliação da 2ª chamada da disciplina de Controvérsias na Psicologia.

Recife, 2016

  1. Introdução

O indivíduo transgênero é aquele que não se identifica com seu sexo biológico. De acordo com a revisão mais atual do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o livro-diagnóstico oficial da Associação Americana de Psiquiatria, o DSM-5, a transgeneridade deixa de ser considerada um transtorno (GID – Desordem de Identidade de Gênero), dando um passo em direção à sua despatologização. Passa então, a ser chamada disforia do gênero, que seria o sofrimento de quem não se adequa ao gênero que lhe foi designado ao nascimento.

Essa mudança traz a luz uma discussão importante sobre as várias nuances da identidade de gênero. Em primeiro lugar, torna-se importante deixar claro as diferenças entre “sexo”, “identidade de gênero” e “expressão de gênero”. O sexo é o conjunto de características físicas e funcionais que, biologicamente falando, distinguem o homem da mulher. A identidade de gênero é o gênero com o qual o indivíduo se identifica. Já a expressão de gênero se refere a maneira como cada um externa a identidade com a qual se identifica. Outro conceito que vale ser esclarecido é o de papéis sociais de gênero, que é o conjunto de comportamentos e funções associados a masculinidade ou feminilidade.

Tendo esses conceitos em mente, é possível se fazer uma análise de vários fatores na tentativa de esclarecer se a identidade gênero é passível de mudança uma vez que seja estabelecida.

2.0 Desenvolvimento

De acordo com Márcia Arán (2006), a reafirmação do fenômeno da transgeneridade atualmente pode ser atribuída a dois fatores. O primeiro desses fatores refere-se aos avanços da biomedicina no que se refere a técnicas cirúrgicas de adequação de sexo e ao progresso na terapia hormonal. O segundo fator refere-se à forte influência da sexologia na disseminação da identidade de gênero como um fator de construção sociocultural.

O sujeito encontra-se num processo continuo de construção de valores que se modificam através de sua maneira de enxergar a sim mesmo e ao mundo. A identidade de gênero, como própria de cada um, estaria dentro desse contexto de constante elaboração.

Ao afirmar que a identidade de gênero é construção social, tem-se a impressão de que o indivíduo é apenas passivo ao ser inserido em seu meio social após o nascimento. Essa visão traz a ideia de que o indivíduo apenas absorve tudo que está ao seu redor sem participar ativamente nem na construção do meio, nem na construção de si.

A questão da identidade de gênero diz respeito diz respeito a constituição do sentimento individual de identidade. Robert Stoller (1978), após inúmeros estudos com crianças que nasceram com suas genitais deformadas ou foram erroneamente rotulados como do gênero oposto por terem suas genitais escondidas, afirma que “é mais fácil mudar o sexo biológico do que o gênero de uma pessoa”. Para ele, a criança constitui um núcleo de identidade do gênero até os 3 anos de idade, que não se altera ao longo da vida psíquica do indivíduo, mas que pode ser associada a novos papéis de gênero ao longo de seu desenvolvimento.

A psicanálise também defende essa ideia de permanência constituída por volta dos 3 anos, após a passagem pelo complexo de Édipo, quando a criança aprende a se diferenciar do corpo da mãe, criando, assim, a sua permanente identidade de gênero. 

A afirmação chave da passibilidade de mudança de gênero ao longo da vida é de que a identidade de gênero é parte da construção da subjetividade do sujeito. Em sua constante interação e troca com o mundo, o indivíduo está sempre apreendendo e modificando valores, modificando assim qualitativamente as visões que tem de si mesmo, à medida em que essas modificações podem hora revalidar e reforçar seus autoconceitos, ou contestá-los e levá-los a se auto reavaliar para acomodar os novos conceitos numa reconstrução do que foi descoberto insuficiente.

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