Laranja Mecânica
Artigo: Laranja Mecânica. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: nandatri • 26/2/2015 • 1.578 Palavras (7 Páginas) • 386 Visualizações
Introdução:
Laranja Mecânica (A Clockwork Orange) é uma escolha que pode levantar dúvidas e levar a questões das mais diversas índoles. O seu realizador, Stanley Kubrick, é apontado por muitos como um símbolo da desconstrução da realidade. Por outros é tido como a consciência mor de uma sociedade que caminha, apressadamente, para a extinção de valores e da própria humanidade.
Perseguido por críticas hostis, Kubrick viria a afirmar que: "Ainda que exista uma grande hipocrisia a respeito da violência, todas as pessoas estão fascinadas por ela. Afinal, o homem é o assassino mais cruel que jamais pisou o planeta". E é esta violência, filmada de maneira condenatória e nunca apologética, que Kubrick nos mostra de maneira crua.
Laranja Mecânica é um filme de antecipação, centrado nas "aventuras de um jovem cujas principais inclinações são a violência, a violação e Beethoven". Sendo um regresso ao triângulo sexo/violência/morte que o realizador já abordara em filmes anteriores (com Lolita e Dr. Estranho Amor como referências incontornáveis).
O filme atualiza e encerra de maneira definitiva a questão da violência e dos laços que a ligam ao cinema e a todas as suas formas de quase teatro em que o filme se desenrola. Foi com esmero que Kubrick trabalhou a vertente visual, com o uso perfeito da câmara lenta e das grandes angulares.
Proibido em vários países, devido à suposta apologia da brutalidade que veiculava (Burgess, o autor do livro que deu origem ao argumento, defendia que: "mais vale optar pela violência do que não optar por nada"), o filme tornou-se polêmico por descrever um futuro, não muito longínquo, onde os procedimentos violentos se exercem desde as mais altas esferas do Governo sobre os cidadãos.
A ação acompanha o percurso expiatório de Alex, que vai da imaginativa prática do mal (com todas as suas nuances, e liderando uma gang) à prisão. Depois de encarcerado, e já conhecido como 655321, Alex transforma-se numa espécie de angelical e deixa-se submeter a um tratamento (o Processo Ludovico), que o limpa de todos os seus instintos agressivos (mesmo os de autodefesa), em troca da redução da pena.
Segue-se uma segunda fase em que Alex paga, com o corpo, todo o mal que fizera (a vingança das suas vítimas segue-se, em desfile) e a sua recuperação institucional ao mais alto nível, após uma reviravolta política. "Crime, castigo e recompensa" parece ser o espírito norteador desta metáfora sarcástica, mas terrivelmente verdadeira, sobre a ironia inerente à relatividade e transitoriedade dos fatos e às prerrogativas do poder.
Toda a filmografia de Kubrick aponta para o "herói" solitário que perambula perdido, por labirintos que são tecidos à sua volta. Geralmente não consegue controlar o destino que o aguarda, e de dedo em dedo vai tentando procurar uma saída. Saída esta que pode apenas significar seguir a sua vida. Um labirinto é a analogia perfeita de quem se encontra perdido, de quem não vislumbra as entradas e as saídas.
Questionamento:
Será "A Laranja Mecânica" um elogio à violência ou um manifesto contra a mesma e contra a estrutura social contemporânea?
Análise Psicológica:
Analisando os elementos que constituem o filme, é levantada uma gama de discussões que vão além da ultraviolência explícita na obra de Kubrick.
As ciências da psicologia e da psiquiatria utilizam da forma visionária que é passada pelo filme, para levantar questões a fim de analisar mais profundamente o ser humano.
A grande nuance traçada pela obra em estudo se baseia em duas doutrinas, quais sejam, a teoria behaviorista e a teoria inatista, as quais façamos uma breve análise.
– Teoria Behaviorista
A teoria behaviorista é também conhecida como teoria comportamentalista, ou seja, teoria do comportamento.
Tal teoria surgiu no começo deste século como uma proposta para a Psicologia, para tomar como seu objeto de estudo o comportamento, ele próprio, e não como indicador de alguma outra coisa, como indício da existência de alguma outra coisa que se expressasse pelo ou através do comportamento.
Assim, as atitudes e comportamentos dos seres humanos deveriam ser analisados somente quanto aquilo que se pode observar, ou seja, a observação, se tornou um termo e uma operação fundamental para o behaviorismo: ela define a categoria "comportamento", seu objeto de estudo. Comportamento é o observável e, por definição, observável pelo outro, isto é, externamente observável. Comportamento, para ser objeto de estudo do behaviorista, deve ocorrer afetando os sentidos do outro, deve poder ser contado e medido pelo outro. Dai dizer-se que em observação o que importa é a concordância de observadores, e portanto, a necessidade de um treino rigoroso nos procedimentos de registro e análise.
Então, para os behavioristas o ser humano é pressuposto do que se pode observar, no entanto, tal teoria possui severas críticas, principalmente pelo fato de que ao defendê-la, a pessoa estaria negando os avanços realizados pela ciência, vez que estudos indicam a influência neurológica das ações e comportamentos humanos.
Assim, para esta teoria o ser humano somente pode ser analisado a partir do óbvio, ou seja, de suas ações comportamentais e não por fatores influenciáveis biologicamente.
– Teoria Inatista
A teoria inatista se fundamenta em uma concepção de ser humano inspirada na filosofia racionalista e idealista. O racionalismo se norteia pela crença de que o único meio para se chegar ao conhecimento é por intermédio da razão, já que esta é inata, imutável e igual em todos os homens.
Enfatizando os fatores maturacionais e hereditários, essa perspectiva entende que o ser humano é um sujeito fechado em si mesmo, nasce com potencialidades, com dons e aptidões que serão desenvolvidos de acordo com o amadurecimento biológico.
Tal teoria tem a dizer que o ser humano já nasce biologicamente predeterminado, não tendo possibilidade de mudança, não agindo efetivamente e nem recebe interferências significativas do social. Nada depois do nascimento é importante, visto
...