O Brincar e a Realidade
Por: Gabriel Marcondes • 30/1/2019 • Ensaio • 770 Palavras (4 Páginas) • 268 Visualizações
Resumo da Obra: "O Brincar e a Realidade"; WINNICOTT, Doald Woods
Donald Winncott, pediatra e psicanalista inglês, nos deixou um legado de recriação da psicanálise. Com uma teoria fortemente influenciada pelo atendimento a crianças em situação de vulnerabilidade no periodo pós-guerra, buscou entender os primeiros estágios do desenvolvimento humano pré-edípico, trazendo uma releitura dos fundamentos de Freud e incorporando elementos de Klein, além de trazer também suas proprias inovações teóricas e clínicas, fruto de uma observação sensível que ia além do indivíduo, abarcando também o papel da família e do meio no desenvolvimento da psique.
Na teoria de Winnicott, o bebê ao nascer não possui uma distinção entre o eu e o não-eu, e toma o ambiente por sua extensão, o que abrage principalmente a mãe como parte do eu. Sua teoria estuda profundamente a função da maternagem, e cunhou o termo "mãe suficientemente boa", para designar quando esta é capaz de, em um primeiro momento, atender às necessidades da criança e funcionar como continente para a onipotência mágica do bebê, para em um segundo momento iniciar gradativamente seu processo de frustração e introdução à realidade.
Entre estes dois momentos ocorrem os fenômenos transicionais, um dos temas que fundamentou e popularizou sua teoria, que poderia ser dito como um fenômeno universal e facilmente observável e nossa sociedade, mas que até então não havia sido explorado pela psicanálise, e que a refunda com desdobramentos profundos.
É na ausência da mãe e nos primeiros momentos de frustração da criança que surge a necessidade de um objeto ou fenômeno que represente a mãe simbolicamente, com a função de amenizar a intensa angústia de sua ausência. A criança então usa de primitivos mecanismos projetivos e elege um objeto, como uma manta ou um brinquedo, simbolizando o seio da mãe, como no conceito kleiniano de objeto interno, mas que tem uma presença na realidade externa, funciando como uma ilusão de continuidade do contato com a mãe. O fenômeno transicional deve incitar a pergunta: "isso existe dentro ou fora de você?", e a criança deve conciliar este paradoxo, situando este objeto em uma área entre o eu e o não-eu, fundando um espaço intermediário, o espaço potecial ou o espaço do brincar.
Esta área intermediária é de suma importância no desenvolvimento psíquico, pois conecta a realidade interna e externa, sendo posteriorente relacionado ao espaço onde o indivíduo participa da experiência cultural. É também neste espaço que é possível ao indivíduo manifestar aspectos de sua personalidade e trazê-los ao ato, do interno ao externo, de forma espontânea e não intencional, dando a oportunidade para a busca do eu (self) e para a estruturação de sua personalidade com base nos frutos desta busca.
Podemos também dizer que no processo de maternagem, e também de uma forma continuada e mais sutil na elaboração deste espaço intermediário, a mãe funciona como um espelho para a criança. A mãe dita suficientemente boa deve permitir que a criança desenvolva sua própria espontaneidade no espaço potencial, desta forma criando os alicerces da individualidade do bebê. Quando a mãe acolhe e incentiva a criança a manifesar sua espontaneidade, a criança desenvolve um sentimento de ser real, de ter sua individualidade e contato com seu eu (self).
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