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O Conto de Fadas na Análise do Comportamento

Por:   •  7/5/2020  •  Seminário  •  1.642 Palavras (7 Páginas)  •  196 Visualizações

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O Conto de Fadas na visão da análise do comportamento

Em minhas reflexões sempre penso: “Ah se eu soubesse que não era só mais uma historinha....”

Quando passamos por situações na vida de adulto e nos deparamos com realidades que só acreditávamos existirem nos contos de fadas, vejo como desperdicei horas e horas ouvindo as historinhas repetidas vezes para no fim, nada.

Nada não, como será que estas histórias fizeram parte da formação de quem sou hoje? Do que penso, do que sinto? De minha ética, como me comporto e como enfrento os obstáculos e situações adversas da vida?

 

Pois é, não sei se aprendi bem, mas com certeza as regras e conceitos que tenho hoje sofreram uma influência enorme dessas horas a fio em que eu ficava ouvindo os contos de fadas.

Tudo começa, e termina, assim:

“Era uma vez uma jovem princesa (garota, menina) de uma beleza invejável, muito boa e amável. De tão bela e boa despertava na bruxa má o desejo incontrolável de inveja, ciúme e morte. Tudo de ruim lhe acontece durante o desenrolar da história, muitas pessoas boas tentam ajudá-la, mas ninguém consegue evitar o trágico acidente, que o mal lhe aconteça, até que no final da história aparece o príncipe, encantado, é claro (lenhador, caçador etc.), e salva a bela moça do seu fim trágico, acordando-a daquele sonho terrível, casa-se com ela e vivem felizes para sempre.”

Para sempre mesmo? Ninguém nunca continuou as histórias para contar o seu desenrolar. E esta é a questão. Crescemos ouvindo que na batalha entre o bem e o mal, o bem sempre vence, que a mocinha é desprotegida, frágil e que precisa de um homem forte, lindo que a salve das amarguras do mundo....

Imagino como ficou então a Fiona, que espera o príncipe encantado chegar e quem lhe aparece é um ogro, o Shrek, asqueroso, desajeitado, feio e sem a menor intenção de fazê-la feliz para sempre.

O que é um conto de fadas senão algo mágico para trazer à sociedade, de uma forma figurativa, normas, conceitos e regras. Desde os primórdios, nas sociedades antigas, até mesmo antes do surgimento da escrita, já se utilizavam narrativas para se passar conhecimentos e conceitos. Os poemas épicos gregos, as parábolas de Jesus Cristo, enfim contos já fazem parte da estrutura da sociedade. Todos eles surgem a partir da própria história e necessidade desta sociedade.

Estrutura básica dos contos de fadas:

Início - nele aparece o herói (ou heroína) e sua dificuldade ou restrição. Problemas vinculados à realidade, como estados de carência, penúria, conflitos, etc., que desequilibram a tranqüilidade inicial;

Ruptura - é quando o herói se desliga de sua vida concreta, sai da proteção e mergulha no completo desconhecido;

Confronto e superação de obstáculos e perigos - busca de soluções no plano da fantasia com a introdução de elementos imaginários;

Restauração - início do processo de descobrir o novo, possibilidades, potencialidades e polaridades opostas;

Desfecho - volta à realidade. União dos opostos, germinação, florescimento, colheita e transcendência.

 

É importante situar sempre o conto de fada na época em que foi escrito e na cultura e sociedade de seu autor, traduzindo sempre para questões atuais.

No processo de desenvolvimento da criança, os contos de fadas são importantes para a criação e o reforço de habilidades sociais, respeito às normas e regras da sociedade, ética e cultura. Cada criança vai se identificar com um determinado ponto dos contos de fadas, sendo importante que se discuta com a criança esses conceitos e que lhe dê parâmetros de realidade, não apenas de final feliz, mas como conquistar esse final, e se ele não for feliz, ensinar também o que fazer.

A infância é uma fase onde o indivíduo ainda vive no mundo concreto, de fantasias e brincadeiras, o figurativo ainda é difícil de compreender, por isso há necessidade de concretizar os contos de fadas através do que lhe é compatível no mundo atual da criança.

Com isso, os contos de fadas permitem a criança trazer a tona, ao verbal, seu mundo interior de pensamentos e sentimentos que nem mesmo ela conhece, dando a oportunidade para a lapidação destes e o estímulo a novos comportamentos, exercitando o autoconhecimento desde os primórdios da infância. Servem como modelos de comportamentos otimistas e ajudam na solução de problemas.

Os personagens dos contos trazem o sentido de justiça, criando um parâmetro do que é apropriado em termos de conduta, sem exacerbar e discriminar nesse aspecto, como nas fábulas. Os contos estabelecem ao herói a felicidade, enquanto o malfeitor acaba sendo castigado pelas conseqüências de seus atos. Logo ações boas trazem conseqüências boas e ações más trazem conseqüências ruins.

Diante disto, olhando para os contos de fadas como forma de aprendizagem observa-se:

Chapeuzinho Vermelho: Originalmente a história tem um final trágico, Chapeuzinho Vermelho morre e não tem nenhum caçador que vai lhe salvar e tirar a vovó de dentro da barriga do lobo mau, mas para amenizar esse impacto nas crianças, o final foi alterado. A moral da história é que não se deve dar confiança aos estranhos.

Na história a mãe coloca a regra (vá direto para casa da sua avó, pelo caminho da cidade, não fale com quem você não conhece), a filha desobedece e sofre as conseqüências dessa escolha (aprendizado pelas contingências).

Hoje vemos muitas crianças e adolescentes, por vezes até adultos, utilizando de ambientes como a internet no lugar da floresta, entram em relações duvidosas e com freqüência confiam segredos e a própria vida a um estranho. Na vida real o lobo mau nem sempre morre e nem sempre é punido, mas as conseqüências são desagradáveis e algumas vezes fatais para a vítima.

Pedro e o Lobo: A história vem ensinar à criança as conseqüências das mentiras e a noção de responsabilizar-se por seus atos.

A historia trás a regra de que mentir consecutivamente leva ao descrédito, faz com que as pessoas não confiem em quem mente, mesmo que seja verdade. O mentiroso, sem crédito, perde o auxilio das pessoas, tem vínculos fracos em suas relações e sofre perdas significativas. A noção de causa e efeito, mentir leva ao descrédito e faz com que se perca coisas importantes, traz a noção de que responsabilidade dos atos (eu menti, logo as pessoas não acreditaram mais em mim, não vieram me ajudar e o lobo comeu minhas ovelhas)

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