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O Estrangeiro Resenha

Por:   •  4/10/2018  •  Resenha  •  1.493 Palavras (6 Páginas)  •  266 Visualizações

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Albert Camus (1913-1960) foi um escritor, filósofo e jornalista argelino, conquistou o Prêmio Nobel de Literatura, era filho de mãe espanhola e pai francês, viveu no tempo em que a Argélia era colônia da França, teve seu pai morto em batalha na Primeira Guerra Mundial. Camus, autor de “A Peste” e “A Queda”, viveu na Segunda Guerra Mundial e no Pós-Guerra, o que influenciou na direção de suas obras que envolviam questões políticas. Um momento marcante de sua trajetória como escritor e jornalista, foi por volta dos anos 1950, quando ocorreu a Revolução Argelina, quando ele faz críticas ao seu colega e existencialista Jean-Paul Sartre (1905-1950), alegando que ele como francês, não compreendia realmente os problemas da Argélia na época da França imperialista. Sartre trás para a Filosofia a ideia de solidão do homem no mundo, a sua liberdade e responsabilidade pela mesma. A obra de Camus “O Estrangeiro” tem algumas semelhanças com a obra do Sartre “A Náusea” em questões de sentir-se estranho ou estrangeiro no mundo, de sentir-se só e incompreendido, Sartre diz que o homem para preencher-se de sentido entra em um processo de engajamento, ou seja, na busca de um mundo melhor e de justiça, e em Camus isso se dá em sua teoria do “absurdo”, não só dele mas também de autores como Fiódor Dostoiévski e Franz Kafka, onde no “absurdismo” camusiano, ele denomina que a existência humana é marcada pelo absurdo. Essa filosofia do absurdo, segundo o autor, se dá no paradoxo da busca do significado inerente à vida e a inabilidade humana para encontra-lo, ou seja, por mais que seja humanamente impossível dar um significado universal para a vida, o homem ainda almeja encontra-lo, e ainda assim, ele (o homem) existe. Ele descreve algumas alternativas em que o homem adere como ‘’solução’’ ou resposta para este paradoxo, e em uma delas, ele diz que alguns passam a aceitar esse absurdo e viver a vida apesar da ausência desse sentido, pois ele é dado pelo próprio indivíduo que se encontra livre no mundo.

https://www.infoescola.com/biografias/albert-camus/

https://razaoinadequada.com/2018/01/10/camus-o-absurdo/

“O Estrangeiro” (1942) foi o primeiro romance de Albert Camus, o livro é dividido em duas partes, na primeira parte conhecemos o personagem Mersault e a segunda parte é onde acompanhamos o seu julgamento pelo assassinado de um homem árabe. O Mersault, assim como Camus é um argelino, especificamente de Argel, e logo na primeira fala do personagem o livro trás uma frase de grande impacto e repercussão na obra camusiana:

“Hoje, mamãe morreu. Ou talvez, ontem, não sei. Recebi um telegrama do asilo: “Sua mãe faleceu. Enterro amanhã. Sentido pêsames”. Isso não esclarece nada. Talvez foi ontem.” (Camus, 1942, p. 09)

Logo em sua primeira fala o personagem mostra-se apático diante do que se pode chamar pelo senso comum de uma tragédia em sua vida, e não é diferente no decorrer da narrativa, Mersault mostra-se ausente de grandes reações ou comoções, como alguém que aceita os ocorridos sem manifestar-se. Essa ‘’apatia’’ que o personagem vive acaba por chocar a sociedade, desde o enterro de sua mãe até o assassinato cometido pelo mesmo, quando ele mostra em seu julgamento não ter um motivo bem definido para justificar tal ato, o que faz o promotor alegar que ele nunca demonstrou remorso algum, e apesar disso, o Mersault dirigindo-se ao leitor concorda que, de fato, não se arrependera muito de seu ato. Apesar da reação da sociedade para com o a ausência de reações do personagem, o leitor é inteirado sobre como era o cotidiano quando o Mersault ainda vivia com sua mãe antes dela ir morar em um asilo, onde ele relata que ela aparentemente também estaria entediada com a sua companhia:

“Quando ela estava lá em casa, mamãe passava todo o tempo a me seguir em silêncio com os olhos

Ainda no início do livro, o Mersault apresenta ao leitor a personagem Marie Cardona, uma antiga datilógrada do escritório, que acaba por se envolver com Mersault e até o pedir em casamento, mas ele a responde deixando uma ideia de que aceitaria, mas que na verdade aceitaria casar com qualquer outra, e que não faria muita diferença aceitar ou não. Apesar da indiferença aparentada por ele em seu romance com Marie, nota-se algumas vezes que ele demonstra brevemente demonstrar algum princípio de interesse por ela, mas logo ele recalca.

“O trauma provoca lesões no ego e feridas no narcisismo, acarretando um desequilíbrio entre investimentos objetais e narcísicos e estase de libido no ego. O traumatizado pode apresentar sintomas que evidenciam a retirada de libido do mundo externo, hipersensibilidade do ego e fixação no narcisismo infantil. Tais sintomas podem ser auto-erotismo exacerbado, depressão hipocondríaca, pusilanimidade, incapacidade de suportar sofrimentos ou esforços e desprazeres morais ou físicos, angústia e excitabilidade elevadas, com tendência para acessos de raiva, para a distração e fuga de idéias, e a necessidade de contrariar e opor-se aos outros.”

Essa necessidade de opor-se aos outros e sentir-se um estranho ou estrangeiro em relação aos outros e ao mundo. Ele se mostra em todo o livro como um sujeito que aparentemente não enxerga muito sentido em sua vida, sem algum objetivo ou engajamento aparente. Sigmund Freud (“Além do Princípio e do Prazer”, 1920) afirmou que o homem nasce com a “pulsão”, que é diferente do instinto, e onde o aparelho psíquico atribui a esta pulsão, sentidos e representações que o sujeito põe em prática através de ações. Freud chama de libido as pulsões quando elas se ligam às representações, e, quando o aparelho psíquico não consegue realizar essa ligação, o sujeito reage com ausência de sentido, um vazio, apenas a descarga de excitação momentânea, gerando um alívio imediato. Em contraposto existe a pulsão que promove a busca pela vida, pelo crescimento. Esta primeira pode ser observada em alguns momentos, como quando ele tomou um café no velório de sua mãe, quando desejava por breves momentos a sua ‘’namorada’’ Marie, a qual ele não se mostrava apaixonado, mas a desejava sexualmente e, fica claro também quando ele atira por três vezes seguidas no árabe, mas não consegue explicar no que o motivou a fazê-lo.

Todos os indícios confirmam que essas crianças registraram bem os sinais conscientes e inconscientes de aversão ou de impaciência da mãe, e que sua vontade de viver viu-se desde então quebrada. Os menores acontecimentos, no decorrer da vida posterior, eram bastante para suscitar nelas a vontade de morrer, mesmo que fosse compensada por uma forte tensão da vontade. Pessimismo moral e filosófico, ceticismo e desconfiança tornaram-se os traços de caráter mais salientes desses indivíduos. Podia-se falar também de nostalgia, apenas velada, da ternura (passiva), inapetência para o trabalho, incapacidade para sustentar um esforço prolongado; portanto, um certo grau de infantilismo emocional, naturalmente não sem algumas tentativas de consolidação forçada do caráter. (pp. 48) Em 1927, em “A adaptação da família à criança”

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