O PALHAÇO - Resenha

O Palhaço de 2011, dirigido por Selton Mello, retrata a vida itinerante de um artista circense, que busca compreender os significados sobre o sentido e finalidade de seu existir. É uma trama cujo foco é a crise vocacional, percorrida por temas subjacentes em relação às influências e os valores familiares, o processo de autoconhecimento, a busca da autorealização, bem como os conflitos psicológicos que são inerentes ao processo de desenvolvimento do sujeito.

O filme tem como protagonista principal Benjamin, um palhaço do circo Esperança, recinto herdado pelo pai, ambos atuando como a dupla de palhaços Pangaré e Puro Sangue. Percebe-se que, esse sistema familiar sob o qual é caracterizado o circo, provoca efeitos nas relações sociais, pessoais e de trabalho, mesmo que inclua outros artistas, as tradições e práticas circenses são transmitidas de geração a geração.

A crise em Benjamin se dá quando o mesmo se questiona sobre a vida, sobre o sentido no trabalho que realiza. Há, nas cenas, um silêncio tão cheio de significados, com a necessidade de explorar sua real vocação.

Em seus momentos de reflexão eram intercalados o sentimento de insegurança perante as dificuldades vivenciadas. A carreira que seu pai lhe deu por herança, o faz se questionar, como quando disse: “Estou cansado de tudo... cansado de fazer o que faço... Eu faço o povo rir, mas quem vai me fazer rir?”. Às vezes, algumas pessoas conseguem lidar com as dúvidas sobre as tomadas de decisões, outras veem como transições difíceis, que exigem escolher permanecer ou procurar outra profissão.

Insatisfeito com sua vida, Benjamin decide ir embora do circo para adquirir sua própria identidade, conhecer novas possibilidades de trabalho, libertando-se dos seus conflitos mais íntimos, de se conhecer melhor e construir um projeto de vida próprio.

Essa busca só foi possível quando o pai percebeu a angústia do filho, reconhecendo as influências familiares depositadas por ele. O filme trouxe um momento onde o mesmo indagou: “Filho, na vida a gente tem que fazer aquilo que a gente sabe fazer... O gato bebe leite, o rato come queijo e eu... Sou palhaço”.

No desenrolar, o protagonista fica cada vez mais mobilizado à procura de respostas. Com a sua partida, Benjamin se instala na cidade de Passos, providencia a emissão de carteira de identidade, começa a trabalhar em uma loja e cria novos vínculos afetivos. Com o decorrer da história, Benjamin não parece motivado e satisfeito com sua nova escolha profissional, momento retratado quando o mesmo encontra-se no estabelecimento comercial, sentindo-se triste e abatido.

Aproximando-se do desfecho do filme, Benjamin apareceu numa confraternização de trabalho. Quando seu chefe contou uma piada, foram emergindo lembranças e recordações de quando esteve exercendo sua profissão de palhaço. Naquele momento, ele reconheceu que sua vida e a sua identidade permaneciam no circo.

Portanto, apesar das novas experiências, Benjamin passou a ter maior clareza sobre os seus desejos e interesses, surgindo a vontade de retornar ao meio circense, agora sabendo quem era e o que preferia.

Traçando uma análise comparativa do filme aos conceitos teóricos explicitados em aula, compreende-se que Benjamin pertencia a uma família, que tinha uma história e aptidões particulares. O pai considerava o filho como