O PAPEL DO TERAPEUTA NA TERAPIA FAMÍLIA
Por: Andressa Gonçalves • 22/11/2018 • Resenha • 1.229 Palavras (5 Páginas) • 1.000 Visualizações
O PAPEL DO TERAPEUTA NA TERAPIA FAMILIAR[pic 1]
Ao longo do livro, observou-se a importância dos processos reflexivos e narrativos e o papel determinante do terapeuta, mas ao mesmo tempo que tem um papel determinante como ouvinte ele não está ali só para assistir. A partir de sua escuta e de seu olhar diferenciado para o decorrer do processo terapêutico, o mesmo atua como um mediador, coordena a multiplicidade de ações necessárias para que cada membro do sistema familiar possa reescrever sua história e a do sistema. Suas interpretações, baseada naquilo que foi dito pelos participantes, devem ser checadas e avaliadas, verificando se elas se encaixam nas expectativas e nos entendimentos dos demais.
Como se forma um terapeuta familiar sistêmico? Essa formação não se baseia somente na escolha teórica a ser seguida, não depende somente de escolher o teórico que nos parece mais coerente com o que acreditamos, e estudar sua obra. Quando nos tornamos ‘terapeuta’, já trazemos uma bagagem, com aprendizados e conhecimentos, crenças e desejos anteriores. Assim como as famílias, fazemos parte de uma rede social e acabamos por construir uma história transgeracional profissional, com uma rede de ideias, conceitos e teorias que nos convidam a ser quem somos, com nossos padrões de interações. Avançamos ao longo do tempo, transpondo fases, superando transições e suportando estressores, previsíveis ou não, desejáveis e indesejáveis.
O QUE É MUDANÇA EM CADA PROCESSO DE TERAPIA FAMILIAR?
Se o papel do terapeuta é o de compartilhar o processo de entendimentos da história da pessoa ou do sistema familiar e, ao usar de perguntas suficientemente incomuns, provocar o acesso a novos relatos e histórias, ou a uma maneira de recontá-las, podemos dizer que esta ampliação em si transforma e fortalece a pessoa para a experiência cotidiana de sua vida (MOREIRA, 2016).
A prática de escuta do profissional e suas reflexões são instrumentos que contribuem para que os membros do sistema familiar percebam e utilizem a abertura ao dialogo para se relacionar. Essa abertura, a manutenção de uma postura colaborativa dando voz a todos, a inclusão das histórias periféricas, o uso de perguntas reflexivas e de futuro e a empatia na escuta do outro são um conjunto de ingredientes que favorecem as mudanças do sistema terapêutico. Na prática, conseguimos reconhecer o movimento do sistema quando a disputa do lugar da verdade já não é o elemento principal, mas sim a busca de se colocar e se reconhecer como parte do sistema e o interesse na construção de outras posições, sem precisar abrir mão de suas experiências individuais.
A criatividade, o enfoque transgeracional, o reconhecimento da importância da rede social e sua inclusão no trabalho com o sistema do problema possibilitam que cada um possa se ver nas relações apresentadas e se sentir responsável por suas ações e suas repercussões no sistema terapêutico e familiar.
O CLIENTE COMO O ESPECIALISTA
A autora Anderson (1996), da Escola de Houston-Galveston, em seu artigo: Uma reflexão sobre a colaboração cliente-profissional, mostrou que buscava nas vozes dos clientes/usuários compreender mais sobre a relação usuário-profissional e buscando maneiras de ativar e avaliar a posição colaborativa dos envolvidos.
A partir dos resultados levantados, observou que é possível olhar para si próprio como pessoa e profissional e para o outro (usuário), de forma a favorecer o diálogo, valorizando a escuta do usuário. Ao longo de anos a autora se interessou em entrevistar os clientes e valorizar os conselhos pragmáticos destes, em especial quando lhes perguntava a respeito de suas experiências relativas aos tratamentos bem-sucedidos ou malsucedidos, e alguns desses conselhos foram: Escutar e ouvir – Envolver-se, mostrar respeito e considerar aquilo que o usuário tem para dizer; Tentar entender - Os usuários dizem que eles querem ser compreendidos ou querem ao menos sentir que o profissional está tentando compreende-los; Manter a coerência - O usuário comentaram sobre os profissionais que se distraiam com os detalhes; Confiança e crença – Um usuário conta como ele não sentia “confiança psicológica” nos profissionais; Manter o sincronismo - Ficar sincronizado se refere a que o profissional e o usuário podem fazer uma caminhada lado a lado, escolhendo o caminho juntos.
É importante destacar que estes conselhos não devem se transformar em um roteiro para o atendimento, mas que sua leitura nos permita, como terapeutas colaborativos, buscar reflexões e mudanças de posturas focadas na interação com o outro.
TRABALHANDO EM DUPLAS PSICOSSOCIAIS, EQUIPES E REDES INTERSETORIAIS
No Brasil desde a instituição do Sistema Único de Saúde (SUS) nos anos 1980 e do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), duas décadas depois, houve uma mudança na forma de atendimento aos usuários destes sistemas. Reconhecendo que as demandas trazidas pelos usuários dos dois sistemas são multicausais, concluímos que um único profissional ou setor não dará conta de toda demanda. As práticas de terapia familiar, desde o seu início na década de 1950, já traziam o entendimento que os atendimentos deveriam envolver mais profissionais.
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