O TRANSTORNO DISSOCIATIVO DE IDENTIDADE EM FRAGMENTADO
Por: Eli Oliveira • 24/9/2019 • Ensaio • 1.624 Palavras (7 Páginas) • 357 Visualizações
ATIVIDADE PRÁTICA SUPERVISIONADA
Disciplina: Psicopatologia II – Profª. Vera Fúria - 6º Período – Noturno – 2019
Alunos: Elisson Oliveira
O TRANSTORNO DISSOCIATIVO DE IDENTIDADE EM FRAGMENTADO
Kevin Wendell Crumb (James McAvoy) é o protagonista do filme “Fragmentado”, ele possui o Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI), onde ao menos 23 personalidades, coexistem no mesmo corpo, tendo jeitos de pensar, sentir e se relacionar muito específicos, e até sexo e sexualidade opostos.
O DSM-5 (2014) descreve os processos dissociativos como problemas relacionados à falta de coordenação das funções integradas da consciência, identidade, memória e percepção do ambiente.
Tais alterações podem também levar a funções sensitivas e motoras atípicas. Portanto, percebe-se a dissociação como a divisão da identidade devido a falhas integrativas do indivíduo (VAN DER HART, 2012 apud FARIA, 2016).
O processo de dissociação é marcado pela perturbação, separação e o isolamento de aspectos da mente e da personalidade do indivíduo. Significa de fato, uma “cisão”, de uma parte da mente inaceitável para o indivíduo. (DALGALARRONDO, 2019)
A dissociação pode ocorrer por meio de crises, onde se perde parcialmente a consciência, se desconectando do ambiente e de si mesma, como em um desmaio parcial, abalos musculares, ou em episódios em que parte da memória é momentaneamente apagada, como a memória retrógrada de eventos traumáticos do passado (MICALE, 1995 apud DALGALARRONDO, 2019). Desta forma, pensamentos, desejos e experiências vividas, conflitantes com os valores do paciente, são isolados e suprimidos do campo da consciência e da memória.
De acordo com Myers (2015, p. 462), o Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI) consiste em uma grande dissociação entre o self e consciência normal, na qual duas ou mais identidades distintas controlam o comportamento do indivíduo de forma alternada. Além disso, cada personalidade possui voz e maneirismos próprios, podendo passar de uma personalidade retraída e tímida à uma personalidade desinibida e comunicativa.
A existência dentro de um indivíduo de duas ou mais personalidades distintas, cada qual dominante por período de tempo não determinado. A personalidade dominante é a que determina o comportamento do indivíduo. Cada personalidade individual é complexa e integrada a seu padrão de comportamento e relações sociais. (...) Geralmente a personalidade original não tem conhecimento da existência das outras personalidades. (DSM-lll,1980 apud ONO E YAMASHIRO, s/d)
Segundo Ono e Yamashiro (s/d), as personalidades desenvolvidas podem possuir diferentes sexos, raças e idades, bem como utilizar vocabulários diferenciados, muitas vezes sendo fluentes em outras línguas e possuindo sotaque. Há casos registrados de indivíduos destros que desenvolvem uma personalidade canhota, por exemplo.
Dentro do vigente CID- 10, são critérios Diagnósticos para F44.81 - 300.14 - Transtorno Dissociativo de Identidade:
A. Presença de duas ou mais identidades ou estados de personalidade distintos (cada qual com seu próprio padrão relativamente persistente de percepção, relacionamento e pensamento acerca do ambiente e de si mesmo).
B. Pelo menos duas dessas identidades ou estados de personalidade assumem recorrentemente o controle do comportamento da pessoa.
C. Incapacidade de recordar informações pessoais importantes, demasiadamente extensa para ser explicada pelo esquecimento comum.
D. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., blackouts ou comportamento caótico durante a Intoxicação com Álcool) ou de uma condição médica geral (por ex., crises parciais complexas). (CID 10, 1993)
Em casos de acidentes muito violentos ou que gerem grande trauma psíquico, a tendência é que ocorra uma dissociação, ou seja, que o indivíduo rompa com a realidade durante a vivência da situação, que sua consciência fique alterada naquele momento, voltando ao estado natural de sua consciência ao sair da situação de risco. Porém, supõe-se que no TDI, o indivíduo tenha sido exposto tantas vezes a uma situação de forte violência, ou que o trauma tenha sido tão intenso, que a dissociação passa a ocorrer com certa frequência, desenvolvendo então um contexto para a sustentação dessa dissociação, formando assim uma identidade com história e memórias próprias.
A grande maioria dos pacientes acometidos pelo TDI possui histórico de traumas de infância; de abuso físico, emocionais e/ou sexuais, como é o caso de Kevin.
O consenso geral é que uma das principais causas está ligada à repressão dessas memórias. A dissociação ocorre como uma defesa do organismo para situações extremas, como de grande dor física e/ou emocional, (NEGRO JÚNIOR, PALLADINO-NEGRO E LOUZÃ, 1999 apud FARIA, 2016).
Através desse processo dissociativo, pensamentos, sentimentos, memórias e percepção de experiências traumáticas podem ser psicologicamente separados, permitindo ao paciente acreditar que os traumas nunca ocorreram. Entretanto, repetições de experiências traumáticas podem transformar esse mecanismo de defesa em um distúrbio dissociativo. Por exemplo, para uma criança que vem repetidamente sendo abusada física e sexualmente, a dissociação defensiva torna-se um refúgio constante. A efetividade da dissociação faz com que as crianças se acostumem a tal ponto que, ao sentir alguma ameaça, automaticamente a usem, mesmo que a situação não seja abusiva. (ONO E YAMASHIRO, s/d)
Fatores como a religiosidade forte em nossa cultura, que comumente interpreta transtornos mentais como manifestações sobrenaturais, a pouca bibliografia disponível acerca desse transtorno, bem como sua complexidade, faz com que o diagnóstico dificilmente seja correto e, quando o TDI é diagnosticado, leva anos. Por outro lado, as pesquisas e interesse profissional, nesta área crescem continuamente, de forma que técnicas vêm sido desenvolvidas para realização de um diagnóstico mais rápido e preciso. (FARIA, 2016).
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