Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas
Resenha: Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: laudovechin • 29/4/2013 • Resenha • 1.698 Palavras (7 Páginas) • 827 Visualizações
Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas
Edward Bloom está perto da morte, momento de liquidar as pendências com o filho adulto, o jornalista Will, um rapaz que se sente enganado, e pensa não conhecer a verdadeira vida do pai, um crônico contador de histórias imaginárias.
Vemos estabelecido ao longo de todo esse filme um não entendimento do filho de Ed, quando o pai lhe diz que os casos são todos reais. Percebemos que a objetividade jornalística de Will acaba fazendo com que busque investigar, a vida do pai. As lembranças de Ed são fantásticas, e temos ao longo delas a oportunidade de acompanhar toda a historia de sua vida até o final comovente em se encerra sua trajetória.
Conhecemos então, em lembranças, um Ed Bloom jovem, luminoso, sedutor, esforçado, audacioso, as voltas com suas aventuras incríveis, sempre colocado em situações “fantasiosas” num circo, durante uma guerra, num pântano que o leva a um cidade encantadora, da qual um dia será o salvador; enfim uma vida com a qual muitas vezes também penso ter desejado ter.
A tarefa de relacionar o filme em questão, com os conteúdos de sala de aula, em ralação a escuta psicanalítica, e com os textos de Maud Mannoni, se mostra hoje algo em que consigo produzir uma reflexão não tão angustiante, como talvez tivesse sido se a mencionada tarefa me fosse proposta no começo desta disciplina. O caminho percorrido até aqui foi sem duvida “árduo”, e foi preciso que muitos dos conhecimentos, ou melhor, dos conhecimentos imprecisos que eu julgava alicerçados em mim, fossem demolidos um a um para então poderem dar lugar a uma busca de uma “estrutura” mais isenta, ou melhor, menos pretensiosa.
Num dos testos trabalhados em sala de aula João Augusto (1989) traz uma importante contribuição para esta discussão que tivemos ao longo de um semestre, e que parece me acompanhará ao longo de toda minha vida profissional: o manifesto só revela sua significação para um observante que esteja situado no mundo, convivendo com os fatos. A significação do real só se mostrará, segundo ele quando: houver um “olho que olhe de um certo ponto de vista”, de um certo alcance, com um certo significado. Sei hoje não de ouvir falar, mas de experimentar na própria pele, como pode ser difícil tentar extrair a fórceps algum sentido de algo que aparentemente não tem. Falo especificamente da minha inquietação e desambientação no começo da referida matéria quando por vezes me inquietei com o sentido ou a falta dele por mim atribuída, dada a minha necessidade de ter a mão roteiros e “‘receitas” a serem seguidas, como roteiros em que todos os papéis são dados previamente; e todos os personagens sabem como se comportar.
Também quando o mesmo autor nos fala que o “olhar que deve observar o paciente não é o olhar natural, mas um olhar especializado, um olhar mediado por técnicas que se destinam a torná-lo mais potente e eficaz para ter acesso ao invisível”, fico inquieto, igualmente, mas com uma inquietude de paz, que antes de me desestruturar de mim mesmo, produz uma verdadeira intenção, se assim posso chamar, de dar lugar à subjetividade do outro. Peixe grande produziu, em mim, quase uma paralisia, diante de poder ter tido a oportunidade de poder perceber o quanto o mundo de cada um é importante. Um longa-metragem simples e brilhante que dá valor, e mostra com uma sutileza, a maneira peculiar de Ed, de certa maneira fugir de um mundo não tão agradável, para um mundo de cores fantásticas onde há tanta graça. São formas de se inventar, ou reinventar a própria vida. Aqui se produz um acontecimento que me faz pensar na ação de Ed Bloom pelo direito de inventar seu mundo, é a mesma que move a nós todos, se não em todos, em muitos dos nossos dias.
Não consigo aqui deixar de lembrar de Dolto no prefacio ao livro de Mannoni, quando ela nos ensina, referindo-se a constituição das crianças: que o “valor cultural verdadeiro do sujeito é efetivamente criativo e apenas submisso às exigências dos adultos, se ele se encontra em comunicação lingüística, verbal, efetiva e psicomotora das suas idades, com o seu meio social, se está ao abrigo de tensões internas, livres; pelo menos nos seus pensamentos e juízos, da dependência do desejo de outrem, se está à vontade no trato com os companheiros de ambos os sexos da sua geração, apto a amar e ser amado, apto a comunicar os seus sentimentos, apto a enfrentar as frustrações e as dificuldades cotidianas de todas a espécies sem se descompensar, em suma, se ele mostra uma elasticidade caracterial e mímica que caracteriza a saúde mental” (p.12).
Quantos de nós poderão dizer que fomos todos bem sucedidos ao longo de nosso caminho e que alcançamos sucesso em nossas vidas? Sei que corro o risco de me desviar da tarefa proposta, mas não posso me esquivar de produzir tais reflexões.
Quantos não devem ter sido os sonhos nossos de criança que foram podados por uma realidade dada socialmente? Quanto de fantasias colocamos em nossas realidades, a fim de tornarmos nossos mundos mais suportáveis; ou pior o quanto somos mesquinhos em confrontarmos os outros com suas construções “imaginárias” como mentiras.
Quantos Edes, provavelmente conhecemos ao longo dos nossos caminhos, e com a superioridade de nossos mundos perfeitos, julgamos e pior ainda, condenamos seus sonhos, seus idealismos, seu modo de vida, simplesmente por julgarmos que se distanciam das normas, do vigente socialmente.
Não deixar de me perguntar quantos de nós já não visitamos uma cidadezinha de Espectro, o lugar dos sonhos onde o tudo é perfeito. Quantos de nós já não tivemos vontade de como o poeta, mudar radicalmente o modo de vida, a ponto de transgredir toda e qualquer lei vigente; ou quantos de nós já não nos sentimos como o gigante, convidado a nos retirarmos de nossos mundos pelo julgamento e incompreensão, daqueles que nos rodeiam.
Voltando a tarefa de relacionar os conteúdos de sala de aula ao filme compreendo melhor e sem angústia hoje a tarefa que a minha escolha profissional inevitavelmente me conduzirá em breve,
...