Pensamento e idioma
Por: bruno2425 • 6/4/2015 • Artigo • 8.038 Palavras (33 Páginas) • 199 Visualizações
Pensamento e Linguagem
Ao longo da história, nós, humanos, temos lamentado nossa insensatez e celebrado nossa sabedoria. O poeta T. S. Eliot ficou impressionado com "os homens vazios... Elmos cheios de palha". Mas o Hamlet de Shakespeare exaltou a espécie humana como "nobre em raciocínio! ...infinita em faculdades! ...dotada de entendimento semelhante a um deus"! Nos capítulos anteriores, nós nos maravilhamos diante tanto de nossas habilidades quanto dos nossos erros.
Estudamos o cérebro humano — um quilo e meio de tecido úmido do tamanho de um repolho, mas contendo circuitos mais complexos do que as redes telefônicas de nosso planeta. Ficamos impressionados com a competência dos recém-nascidos. Estudamos o sistema sensorial humano, que decompõe os estímulos visuais em milhões de impulsos neurais, distribuindo-os em um processamento paralelo e reagrupando-os em percepções coloridas. Reconhecemos, também, a capacidade aparentemente ilimitada da memória humana e a facilidade com que nossa mente de duas vias (two-track mind) processa informações, conscientemente e inconscientemente. Não é de admirar, então, que nossa espécie tenha o gênio coletivo para inventar a câmera fotográfica, o automóvel e o computador; para desvendar o átomo, decifrar o código genético, fazer viagens ao espaço e sondar as profundezas dos oceanos.
Porém, também vimos que nossa espécie possui um parentesco com os outros animais e é influenciada pelos mesmos princípios que tornam possível a aprendizagem em ratos e pombos. Como um estudioso certa vez disse, "Tal qual um cão!", fazendo eco às palavras de Pavlov. Já sabemos que assimilamos a realidade de acordo com nossas preconcepções e sucumbimos a ilusões perceptivas. Vimos como é fácil nos enganarmos com declarações pseudopsíquicas, feitos hipnóticos e falsas memórias.
Neste capítulo, encontraremos mais exemplos referentes a estes dois aspectos da con dição humana - o racional e o irracional. Veremos como nosso sistema cognitivo usa todas as informações recebidas, percebidas, armazenadas e recuperadas. Examinaremos nossa aptidão para a linguagem, como e por que ela se desenvolve. E refletiremos sobre nosso merecimento da denominação Homo sapiens - humanos sábios.
Pensamento
O PENSAMENTO, ou a cognição, refere-se a todas as atividades associadas a processamento, conhecimento, recordação e comunicação. Os psicólogos cognitivos estudam essas atividades, incluindo os meios lógicos e, às vezes, ilógicos pelos quais criamos conceitos, resolvemos problemas, fazemos julgamentos e tomamos decisões.
Conceitos
1: Quais são as funções dos conceitos?
Para pensar sobre os incontáveis eventos, objetos e pessoas em nosso mundo, nós simplificamos as coisas. Formamos conceitos - agrupamentos mentais de objetos, eventos e pessoas semelhantes. O conceito cadeira, por exemplo, inclui diversos itens - uma cadeira alta para bebês, uma cadeira reclinável, uma cadeira de dentista - todas objetos onde se sentar. As cadeiras variam, mas não seus traços comuns que definem o conceito de cadeira.
::cognição as atividades mentais associadas ao pensamento, ao conhecimento, à lembrança e à comunicação.
::conceito um agrupamento mental deobjetos, eventos, ideias ou pessoas similares.
Imagine a vida sem conceitos. Seria preciso um nome para cada objeto ou ideia. Não poderíamos pedir a uma criança para "jogar a bola", porque não haveria conceito de bola ou de jogar. Em vez de dizer "Eles estão com raiva", teríamos de descrever expressões faciais, intensidades e palavras. Tais conceitos, como bola e raiva, fornecem-nos várias informações sem muito esforço cognitivo.[pic 1][pic 2][pic 3][pic 4][pic 5][pic 6]
Para simplificar ainda mais as coisas, organizamos os conceitos em hierarquias de categorias. Os motoristas de táxi organizam as cidades em setores geográficos, subdivididos em bairros e depois em quadras. Uma vez que as categorias existem, nós as utilizamos com eficiência. Diante de um pássaro, um carro ou uma comida, as pessoas não precisam de mais tempo para identificar a que categoria um item pertence do que perceber que algo está ali. "Assim que sabemos que está ali, sabemos o que é", informam Kalanit Grill-Spector e Nancy Kanwisher (2005).
Formamos os conceitos por definição. Ao tomarmos conhecimento da regra de que um triângulo tem três lados, imediatamente classificamos todas as formas geométricas com três lados como triângulos. Com mais frequência, no entanto, formamos nossos conceitos desenvolvendo protótipos —uma imagem mental ou o exemplo que melhor incorpora todos os aspectos que associamos a uma categoria (Rosch, 1978). Quanto mais algo se assemelha ao nosso protótipo de um conceito, mais prontamente nós o reconhecemos como um exemplo desse conceito. Um pintarroxo e um pinguim atendem à definição de pássaro: um animal de duas pernas, que possui asas e penas e que choca ovos. Mas as pessoas concordam mais rapidamente que um "pintarroxo é um pássaro" do que com "um pinguim é um pássaro". Para a maioria de nós, o pintarroxo se parece mais com o nosso protótipo de pássaro.
Uma vez que incluímos um item numa categoria, nossa lembrança daquilo posteriormente desloca-se na direção do protótipo da categoria. Olivier Corneille e seus colegas (2004) identificaram movimentos da memória após mostrar para estudantes belgas rostos etnicamente misturados. Por exemplo, quando diante de um rosto com 70% dos traços caucasianos e 30% dos traços orientais, as pessoas categorizavam-no como caucasiano e mais tarde recordavam ter visto uma pessoa caucasiana mais próxima ao protótipo (Corneille et al., 2004). (Eram mais propensas a lembrar de um rosto 80% caucasiano do que o 70% caucasiano que de fato viram.) Se diante de um rosto 70% asiático, mais tarde lembravam de um rosto mais próximo ao protótipo oriental. Um estudo de acompanhamento constatou o fenômeno também em relação ao gênero. Os que viram rostos 70% masculinos categorizaram-nos como masculinos (o que não é surpresa) e mais tarde os recordaram como ainda mais prototipicamente masculinos (Huart et al., 2005).
Se nos afastarmos dos protótipos, os limites entre as categorias podem se tornar incertos. O tomate é uma fruta? Uma pessoa do sexo feminino de 17 anos é uma menina ou uma mulher? A baleia é um peixe ou um mamífero? Como esse animal marinho não corresponde ao nosso protótipo, demoramos mais a classificá-lo como um mamífero. Do mesmo modo, somos lentos para perceber uma doença quando os sintomas não se encaixam em um dos nossos protótipos de doença (Bishop, 1991). Pessoas cujos sintomas de ataques cardíacos (respiração curta, exaustão, um certo peso no peito) não se assemelham ao seu protótipo de ataque cardíaco (dor aguda no peito) podem não procurar ajuda a tempo. E quando uma atitude discriminatória não se encaixa em nossos protótipos de preconceito — de brancos contra negros, homens contra mulheres, jovens contra velhos — com frequência não a percebemos. As pessoas detectam com mais facilidade o preconceito dos homens contra as mulheres do que o das mulheres contra os homens ou o das mulheres contra as mulheres (Inman e Baron, 1996; Marti et al., 2000). Dessa forma, os conceitos, como outros atalhos mentais que conheceremos, aceleram e guiam nosso pensamento. Mas nem sempre nos tornam sábios.[pic 7]
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