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RELAÇÕES DE CO-DEPENDÊNCIA: Análise do filme Quando um homem ama uma mulher

Por:   •  14/9/2019  •  Resenha  •  1.659 Palavras (7 Páginas)  •  2.124 Visualizações

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Pós Graduação: Psicologia: Relações Familiares e Intervenções Psicossociais

Docente: Neli Henriques Cacozza de Souza

Data: 30,31/08 e 13,14/09/2019

Acadêmica: Lúcia Ferreira

Filme: Quando um homem ama uma mulher – Relação de co-dependência.

Análise crítica sob a ótica da Teoria Sistêmica:

O filme retrata a história de Michael, um piloto de avião apaixonado por sua esposa Alice, dependente do uso de álcool. A família é constituída a partir de um recasamento, em que a filha mais velha é fruto de outro relacionamento da mãe, tendo agora mais uma filha a partir desta união. Apesar do romance que permeia toda a trama e que se configura através dos personagens principais, a temática principal do filme gira em torno do alcoolismo e suas consequências para a estrutura pessoal e familiar do personagem Michael, esposo de Alice.

Mesmo Alice sendo uma mãe dedicada, com o tempo não consegue mais disfarçar seu quadro e o aumento gradativo da bebida. Começa a descontrolar-se com as filhas, a tornar-se negligente e irresponsável.  

Michael esforça-se por não perceber, até que um dia Alice chega em casa já alcoolizada e ingere mais vodka com aspirina, tornando-se uma ameaça para as filhas, pois até então o marido achava graça daquela situação.

O fundo do poço para essa mulher foi o momento que ela bate na filha, que só estava tentando lhe dizer que já havia feito a tarefa, e vai para o banho. Então, desmaia e cai derrubando o box do banheiro. Jessica apavorada liga para Michael que está em outro país e precisa voltar. Quando volta para casa demonstra muita atenção à mulher e as filhas e tenta resolver tudo para que a esposa não se aborreça. 

No entanto, após a hospitalização Alice é internada em uma clínica para tratamento e reabilitação, ficando longe das filhas e a relação com o marido sofre um abalo, onde, na clínica já se sente parte daquela comunidade, pois se reconhece entre as outras pessoas que passam pelo mesmo problema.

Conforme Schenker e Minayo (2004), a Teoria Sistêmica enfatiza a natureza relacional e contextual do comportamento humano, considerando que o sintoma de um dos membros reflete a disfunção familiar. Segundo eles, as relações familiares são responsáveis, entre outras coisas,  pela nutrição emocional de seus membros, podendo funcionar como Fator de Proteção ou de Risco, dependendo de como as funções básicas da família são desenvolvidas, dos fatores externos e da forma como as famílias enfrentam as adversidades, podem tornar-se co-dependentes.

O termo co-dependência, de acordo com Negreiros (2011), refere-se a uma condição específica do contexto psicológico, comportamental e emocional, que se desenvolve na pessoa que convive de forma direta com alguém que apresenta alguma dependência química, em especial, o álcool.

Cyrino et al (2016) pontuam que, com a ampliação do conceito de dependência e o desenvolvimento das abordagens sistêmicas na década de 70, as definições de co-dependência se propagaram, e passou a relacionar-se com a dinâmica das relações interpessoais disfuncionais que comprometem os processos de dinâmica e diferenciação familiar, estendendo-se para as pessoas que vivem um relacionamento doentio e dependente.

No início do filme percebe-se é que entre o casal há uma clara sintonia. Michael é compreensivo, dedicado e resolvido quanto a todas as questões que permeiam a relação amorosa. No entanto, em reuniões sociais ou happy hour com as amigas, Alice, para se soltar e se sentir mais divertida, acabava bebendo um pouco além da conta, configurando a transformação desse hábito esporádico numa terrível doença, o alcoolismo, o que acaba comprometendo a relação familiar.

Segundo Faria (2003), as relações familiares são responsáveis, entre outras coisas,  pela nutrição emocional de seus membros, podendo funcionar como Fator de Proteção ou de Risco, dependendo de como as funções básicas da família são desenvolvidas, dos fatores externos e da forma como as famílias enfrentam as adversidades.

Verifica-se esses aspectos na família representada no filme, considerando-se que o comportamento parental e o funcionamento familiar tem relação direta com os problemas associados ao abuso de álcool por Alice, e na intenção de protegê-la, Michael faz vistas grossas, em nome do amor que sentia por ela.

O constante monitoramento, disciplina e valores familiares bem transmitidos favorecem os fatores de proteção (SCHENKER e MINAYO, 2004).

No filme, observa-se o contrário. O que pode ser detectado são alguns Fatores de Risco.  A família de origem de Alice aparece como coautora do início do uso de álcool aos 9 anos de idade, tendo como referência um pai alcoólatra e uma mãe muito critica, constantemente comparando Alice ao pai, a quem sempre desvalorizava, contribuindo para uma relação negativa e competitiva com a filha.

Alice não percebia possuir problemas com o uso de álcool, o que também era negado pelo marido. Nos  programas do casal sempre o uso das bebidas estavam presentes. Ele, por vezes, tentava comentar o excesso, mas ela o interrompia com uma atitude sedutora (sua forma de enfrentamento). O marido, como co-dependente, achava que a esposa ficava divertida quando bebia, não percebendo ou negando as consequências do uso do álcool.

No entanto, quando Alice se reconhece doente, pede ajuda e inicia o processo de recuperação do alcoolismo. Nesse momento, Michael sente-se completamente perdido e atordoado. Porém, quando a esposa retorna do tratamento, os sentimentos que ele experimenta são basicamente de vazio e inutilidade. Ele não sabe o que fazer para “consertar” um casamento que parece desabar a partir da sobriedade de Alice, gerando um novo conflito, pensando estar protegendo a esposa, a trata como incapaz, não permitindo que ela tome qualquer decisão dentro de casa, o que vai irritá-la profundamente.

O que teria mudado na relação dos dois? Numa briga que antecede a separação, Alice diz para ele: “Eu bebia, apagava e você me recompunha. Era o melhor, não? Isso fazia você se sentir bem. Isso é o que dói”. Então, as discussões vão se tornando frequentes na vida do casal, ao ponto de chegarem a separação, o que vai afetar a filha mais velha que vê no marido da mãe a figura do pai. A criança sente-se abandonada pela segunda vez.

O sofrimento e as necessidades dos dependentes do vínculo são muitas vezes deixados de lado, e o foco se concentra apenas no dependente químico, ou naquele que aparece como frágil na relação. Com isto, o dependente do vínculo aparece como vítima ou “cuidador”, que não precisa de cuidados (CYRINO et al, 2016).

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