RELATÓRIO FINAL DO ESTÁGIO EM SAÚDE MENTAL NO CENTRO DE CONVIVÊNCIA OESTE: “TESTEMUNHOS DA CRIAÇÃO NO SABER DO PSICÓTICO”
Por: 16041986 • 15/10/2019 • Artigo • 6.334 Palavras (26 Páginas) • 628 Visualizações
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FACULDADE DE CIÊNCIAS GERENCIAIS
PADRE ARNALDO JANSSEN
Mahibi Manuelle Fagundes Barbosa
RELATÓRIO FINAL DO ESTÁGIO EM SAÚDE MENTAL
NO CENTRO DE CONVIVÊNCIA OESTE:
“TESTEMUNHOS DA CRIAÇÃO NO SABER DO PSICÓTICO”
Relatório final apresentado como requisito de avaliação na disciplina de Estágio Supervisionado Específico I em Saúde Mental, do curso de Psicologia. Supervisor: Prof. Ms. Renato Ávila.
BELO HORIZONTE
2019
RELATO DE EXPERIÊNCIA
RELATÓRIO FINAL DO ESTÁGIO EM SAÚDE MENTAL
NO CENTRO DE CONVIVÊNCIA OESTE:
“TESTEMUNHOS DA CRIAÇÃO NO SABER DO PSICÓTICO”
Mahibi Manuelle Fagundes Barbosa[1]
Resumo
Neste relatório final de estágio supervisionado, busca-se demonstrar que o Centro de Convivência Oeste, por meio de suas propostas culturais e de suas oficinas, constitui em um espaço intermediário, através do qual o sujeito psicótico encontra suporte para seus déficits narcísicos e para desenvolver o máximo possível sua autonomia, por meio do encontro com a arte e sua dimensão criacionista. Para tanto, serão articulados os saberes e as práticas oriundos da psicologia e da psicanálise, por concordar com o modo com que ambos operam com o singular do sujeito. As produções artísticas dos usuários consistem em um meio de circulação e estreitamento com aquilo que vislumbram no conjunto dos processos sociais e culturais, o que contribui para o redimensionamento dos valores, das práticas de inclusão, para a multiplicidade dos discursos, através de perspectivas que abarcam as alteridades. Conclui-se que o Centro de Convivência surge como espaço de expressão e de criação, que possibilita que os psicóticos se expressem por meio de suas produções artísticas, oferecendo-lhes assim, um meio de inscrição no discurso social, além de propiciar sua (re)inserção e a construção de laços sociais.
Palavras-chave: Centro de Convivência. Psicóticos. Psicanálise. Arte. Laços Sociais.
1. INTRODUÇÃO
O Estágio Supervisionado I em Saúde Mental propicia a inclusão do graduando em psicologia no campo de estágio, dando início à experiência de uma prática psicológica. Na prática profissional na área da saúde mental, observa-se que o trabalho em equipe proporciona o compartilhamento de saberes e fazeres para a construção de estratégias, que contribuem para o trabalho e o convívio com sujeitos psicóticos.
A partir de 2006, o Ministério da Saúde promoveu a inclusão dos Centros de Convivência e Cultura nas redes de atenção à saúde mental das capitais brasileiras (BRASIL, 2007). Os Centros de Convivência sugiram então, enquanto serviços substitutivos aos hospitais psiquiátricos, pertencentes à rede de saúde mental da PBH (Prefeitura de Belo Horizonte), cujo trabalho visa à inserção social do cidadão em sofrimento mental, estimulando o convívio e a sociabilidade.
Os CC são os lugares por excelência onde as intersecções entre as políticas públicas de saúde mental e a cultura, se realizam de forma mais visível e constante. A maioria dos profissionais do Centro de Convivência Oeste traz o papel da arte, da criação e da cultura enquanto agentes promotores da reinserção social, salientando a importância do respeito às singularidades e às diferenças.
O presente relato de experiência tem como principal objetivo, compartilhar a ideia de que de que a arte pode ser vista como um importante instrumento de mediação do sujeito com o mundo das representações, capaz de promover a passagem da imagem ao símbolo (um filtro) para a construção da realidade, contribuindo assim, para o desenvolvimento de “um outro social menos alienado, um outro cidadão”.
Além disso, buscar-se-á demonstrar que o Centro de Convivência Oeste, com suas propostas culturais e suas oficinas, constitui, portanto, em um espaço intermediário, através do qual o sujeito psicótico encontra suporte para seus déficits narcísicos e para desenvolver o máximo possível sua autonomia através da realização de produções artísticas e literárias.
Destarte, o Estágio Supervisionado Específico I em Saúde Mental, possibilitou a interação com usuários psicóticos, a convivência, a escuta, a comunicação, sendo tais encontros fundamentais para o testemunho da vivencia particular de cada sujeito, bem como, de suas fragilidades e potencialidades.
Não obstante, acredita-se que é também por meio de produções identificatórias imaginárias, assim como pela produção de laços comuns, que o psicótico seja capaz de produzir uma nomeação possível, e consequentemente, com isso, alguma inscrição na organização social que acontece ao seu entorno.
Acrescenta-se que o estágio não tem por objetivo apenas a observação e a participação nas oficinas, uma vez que, através do laço estabelecido entre o usuário e a estagiária, são constituídas experiências ímpares, que oferecem subsídios valiosos para a futura atuação na clínica das psicoses, principalmente no que concerne ao saber do psicótico, possibilitando assim, o aprimoramento e o desenvolvimento tanto de aspectos profissionais, quanto pessoais.
Nesse viés, tanto no presente relato, quanto na própria experiência obtida no estágio, tomo como pressuposto fundamental o último ensinamento proposto por Lacan: situar o saber sempre do lado do psicótico, admitindo que ele sabe seu caminho, ou que é possível construí-lo. [2]
1.1 Psicologia e Psicanálise: O Testemunho da Arte na Psicose
Enquanto prática, a psicologia coloca-se a serviço do outro; enquanto saber, o psicólogo concentra seus estudos no comportamento humano, na investigação dos fenômenos psíquicos, através de uma visão biopsicossocial do sujeito, atentando-se para suas idiossincrasias.
No presente estudo, busca-se articular os saberes e as práticas oriundos tanto da psicologia quanto da psicanálise, por concordar com o modo com que ambos operam com a singularidade do sujeito, modo esse, que busca romper com a tradição médica de estudos de caso (embasados na anamnese), contribuindo substancialmente para o desenvolvimento destes dois campos.
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