RELATO MEMORIAL SOBRE A MINHA EDUCAÇÃO
Artigos Científicos: RELATO MEMORIAL SOBRE A MINHA EDUCAÇÃO. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: rgmc • 20/8/2013 • 10.719 Palavras (43 Páginas) • 1.396 Visualizações
RELATO MEMORIAL SOBRE A MINHA EDUCAÇÃO: EU NO MUNDO E A ESCOLA EM MIM
Cynara Carvalho de Abreu
Depois que me tornei adulta e adentrei na maravilhosa área da docência, comecei a querer entender quais eram os motivos que me fizeram ser professora. E mais, o quê me fez ser como me reconheço hoje? O encontro com a área da Educação me abriu possibilidades reais para que eu planejasse uma viagem ao passado e pudesse reconstruir a minha trajetória de forma a tentar compreender a minha formação. Não me preparei academicamente para ser professora, mas alguma coisa em mim me levava a essa área e assim que tive a oportunidade a abracei fortemente. Não obstante, compreendi que a base científica e metodológica da Pedagogia e da Educação eram lacunas para mim. Se eu me sentia professora o que teria me feito assim?
Conhecendo melhor a área da pesquisa educacional, deparei-me com uma abordagem relativamente nova: o método autobiográfico. Vi nessa perspectiva a chance de poder, a partir da minha experiência, compreender o meu processo formativo e, melhor, fazer com que outras pessoas pudessem reconhecer as suas histórias na minha história. Eu não estudei para ser professora, mas quis muito sê-lo e hoje, eu sou. Quantas pessoas também comungariam dos mesmos sentimentos? Decidi escrever sobre a história da minha formação e levantei uma hipótese sobre mim mesma. Eu instituí provisoriamente uma figura de mim e a submeti a avaliação da minha experiência (Delory-Momberger, 2006). Através da sucessão e da diversidade das minhas experiências, hipotetizadas por mim mesma, testei e experimentei a validade da minha construção identitária e deparei-me com a possibilidade de reconfigurá-la.
Ao me apresentar por meio de um relato, faço uma interpretação de mim mesma, uma vez que explicito as etapas e os campos temáticos da minha construção. Concomitantemente, assumo o papel de intérprete do mundo histórico e social em que estou inserta e assim, produzo categorizações que permitem me apropriar do mundo social no qual defino e tenho definido o meu lugar. (Delory-Momberger, 2006)
Remontar a minha experiência escolar e os seus entornos, referenciando pessoas, grupos e acontecimentos que fazem parte da minha trajetória, foi o que me propus a fazer neste texto. Para tanto, busquei traçar um fio condutor da história de minha vida que tivesse seu eixo no processo de formação escolar desde o ensino infantil até a pós-graduação. No entanto, foi para mim impossível construir um relato de mim mesma nestes propósitos sem que pudesse embrenhar-me pelos contextos familiares, sociais e políticos em que me inseri durante o percurso da minha história. Preciso registrar aqui o quão maravilhoso foi para mim a prática autobiográfica.
Procurei trabalhar com um material narrativo constituído por recordações consideradas como experiências significativas na minha aprendizagem e sobre o legado que a escola me deixou (e deixa). Ao escolher falar sobre aquilo que considero experiências formadoras em minha vida escolar, falo de mim e do mundo que eu enxerguei. Somente a partir da identificação dessas experiências pude entender de que maneira as dinâmicas de formação, de conhecimento e de aprendizagem narram a inter-relação entre o meu passado, o meu presente e o meu futuro.
(...) para que uma experiência seja considerada formadora, é necessário falarmos sob o ângulo da aprendizagem; em outras palavras, essa experiência simboliza atitudes, comportamentos, pensamentos, saber-fazer, sentimentos que caracterizam uma subjetividade e identidades. (JOSSO, 2004, p. 47-48)
A HISTÓRIA DA MINHA EDUCAÇÃO
Dom Bosco certa vez registrou: “Os maus servem de exemplo e os bons de modelo”. Que eu siga o modelo de Nóvoa (1995) em “Vida de professores”. Escrevo, portanto, sobre a minha história (pelo menos parte dela) ao mesmo tempo em que faço reflexões sobre meus trinta e poucos anos e o meu trajeto na escola, que se passam inevitavelmente pela minha família e pelos meus outros significativos.
Eu no mundo
Nasci em 14 de abril de 1974 na cidade de Natal, estado do Rio Grande do Norte, Brasil. Sou a segunda de três filhos dos meus pais. Ele sempre trabalhou com escritas contábeis, ofício que aprendera com meu avô. O gosto pelo violão veio de longas datas e, embora toque pouco, aprecia uma boa música brasileira, principalmente, o chorinho. Muito alegre, embora meio reservado, sempre foi muito querido entre os sete irmãos. Minha mãe nasceu e se criou no interior do estado, na região do Seridó. Veio para Natal morar em casa de uma tia com o objetivo de estudar na capital. Foi quando conheceu e se apaixonou por um dos seus primos. Com esse parentesco próximo, minha mãe casou-se com meu pai há mais de 30 anos.
Pouco tempo depois que eu nasci, meu tio materno, casou-se e passou a visitar com freqüência diária a casa da minha avó onde morávamos. Contam-me que sempre lhe tive muito apreço e como se fosse conseqüência, rapidamente mantive uma excelente relação com sua mulher. Esta viria a se tornar uma figura materna efetivamente marcante em minha vida. Isto porque passei a morar com eles (meu tio e sua mulher) e por eles fui criada e educada. Neste relato é sobre ela que falo quando me refiro a figura materna.
Eu na escola
Com três anos de idade completos entrei na minha primeira Escola (ensino infantil). Daquela primeira Escola, pouca coisa me lembro, a não ser o fardamento azul em mescla e da ladeira íngreme que subíamos para chegarmos até lá. Estudava no turno vespertino, disso também me recordo por causa do sol que me incomodava ao subir a ladeira. Afora isso, há algo de que tenho uma bela e entusiasta recordação: a minha primeira festa de São João da Escola. Estava com um lindo vestido que minha mãe fizera - ela era costureira. Tenho rápidos flashs na mente de uma dança em que girávamos em um grande círculo com as mãos nos ombros um do outro. Decerto era um tipo de dança típica... talvez fosse uma quadrilha junina. Eu me sentia feliz e sinto a mesma alegria ao rever os registros em fotos (em preto e branco) que ainda tenho!
Aos quatro anos nos mudamos e também mudei de escola. A nova escola era uma casa de esquina no bairro que fora adaptada para um ambiente escolar. Os cômodos pareciam com tantas outras casas do conjunto habitacional em que agora morávamos. Eu achava meio estranho estudar numa escola que parecia com a casa das amigas da minha mãe...
Sem muita definição, recordo-me de uma sala da qual eu fazia parte (na casa de uma amiga da minha mãe era onde ficava
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