RESENHA DO LIVRO O EXISTENCIALISMO É UM HUMANISMO
Por: Lesma2 • 7/9/2018 • Resenha • 2.517 Palavras (11 Páginas) • 865 Visualizações
RESENHA DO LIVRO O EXISTENCIALISMO É UM HUMANISMO
Analisando o livro "O Existencialismo é um Humanismo", de Jean Paul Sartre, publicado em 1946, destaco que o autor visa responder a todas as acusações que lhe foram lançadas, conclamando a um exame mais profundo do existencialismo. Nessa direção, Sartre mostra como a filosofia existencial, partindo do homem em sua existência concreta, confere-lhe o domínio de si, cabendo somente a ele escolher o modo como sua vida será conduzida. Dessa forma, o existencialismo contrariamente à compreensão comunista/marxista e ao ponto de vista cristão, se apresenta como uma filosofia engajada e otimista. Engajada enquanto descobre o homem mostrando-se uma filosofia da ação e não da simples contemplação. Otimista enquanto concebe seu destino não como uma fatalidade inevitável, mas como o resultado de suas escolhas, o fruto da liberdade, cuja responsabilidade cabe apenas ao sujeito que é livre.
Assim, Sartre visou responder as críticas dos comunistas, os quais acusavam o existencialismo de: 1) instigar as pessoas a conservar-se no imobilismo do desespero - o existencialismo seria uma filosofia que prega a contemplação, o luxo burguês; 2) de enfatizar a vergonha humana e de negar a solidariedade. Ele ainda destaca as críticas que recebia dos cristãos, onde os acusava de negar a realidade e seriedade dos empreendimentos humanos, já que tendia suprimir os “mandamentos de Deus” e os “valores inscritos na eternidade”, restando a pura gratuidade, onde cada sujeito poderia fazer o que quisesse, tornando impossível a partir de um ponto de vista pessoal a condenação dos pontos de vistas alheios, tal qual os seus atos - o existencialismo passaria uma imagem negativa do ser humano e por transformaria a moral num reino de relatividade radical, por tirar Deus de cena.
Depois de mencionar tais críticas, ele explica o sentido do existencialismo na visão alheia, numa tentativa de responder todas as acusações. Ele inicia garantindo que o idealizava como uma doutrina que torna a vida humana possível e que, avessamente, toda verdade e toda ação provocam um meio e uma subjetividade humana.
Sartre entendia que havia dois tipos de existencialismo: “existencialismo cristão” e o “existencialismo ateu”, sendo este último o mais coerente para ele. Criticando o existencialismo cristão mostrou o equívoco dessa linha em relação à subjetividade. Sartre, em uma analogia, compara Deus com um artesão que ao produzir um objeto sabe precisamente a finalidade do que está fabricando, ou seja, já há uma definida serventia. Fica assim a incompreensão em relacionar a finalidade do ser com a sua subjetividade, haja vista que essa finalidade é algo basicamente objetivo e se contrapõe ao próprio conceito de subjetividade. O principal esforço do existencialismo, conforme Sartre é colocar o ser humano no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência.
Sobre o existencialismo ateu, Sartre diz:
“O existencialismo ateu, que eu represento, é mais coerente, (...) se Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito, e que este ser é o homem ou, como diz Heidegger, a realidade humana. Que significará aqui o dizer-se que a existência precede a essência? Significa que o homem primeiro existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeira não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza humana, visto que não há Deus para a conceber. O homem é, não apenas como se concebe, mas como ele quer que seja, como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após este impulso para a existência; o homem não é mais que o que ele faz.”
Assim, ele conclui a não existência de uma natureza humana pré-definida ou finalizada. Somos livres para fazer o que quisermos de nossas vidas. A essência do sujeito se define por aquilo que ele faz de si mesmo. Significa assim que estamos condenados à liberdade. Não há destino definido, somos nós que o fazemos.
Sartre ainda crer que os seres humanos se diferenciam dos demais seres por terem consciência. A consciência humana é vazia ao seu nascimento e em seguida é construída pelos fenômenos externos. Todo conteúdo da consciência é construído pelo se percebe do meio. É essa consciência que dá sentido aos objetos que ocupam a natureza, consciência envolve uma intenção, toda consciência é consciência de alguma coisa.
O existencialismo de Sartre prega que o homem não é um “ser em si”, não é um objeto inanimado como as coisas no mundo. Só as coisas são “em si”. O homem é um “ser para si”, pois tem consciência de si mesmo. O homem é um ser da escolha, da liberdade. Aquele que deseja e escolhe o que deseja. Não se trata apenas de obter o que se quer, mas cobiçar com a alma, com autonomia, com discernimento, determinado a querer por si próprio. Portanto, o homem deixa ser nada quando constrói sua própria liberdade e, portanto, sua própria essência.
Sartre ainda dimensiona a responsabilidade do homem, crendo que ele não é apenas responsável somente por si, mas por toda a sociedade. Ainda afirma que a palavra "subjetivismo" tem dois significados: a escolha do sujeito por si próprio e impossibilidade em que o homem se encontra de transpor os limites da subjetividade humana. E é nesse ultimo sentido que se constitui o significado profundo do existencialismo: "Ao afirmamos que homem se escolhe a si mesmo, queremos dizer que cada um de nós se escolhe, mas, queremos dizer também que, escolhendo-se, ele escolhe todos os homens". Então, nossos atos designam a pessoa que almejamos ser, e simultaneamente cria a imagem do homem tal como julgamos que ele deva ser. Ter que escolher ser é isto ou aquilo é afirmar, simultaneamente, o valor do que estamos escolhendo, pois não podemos jamais eleger o mal, o que elegemos é sempre o bem e nada pode ser bom para nós sem o ser para o coletivo. Se, por outro lado, a existência antecede a essência, e se nós almejamos viver ao mesmo tempo em que adaptamos nossa imagem, essa imagem é valida para todos em toda nossa época. Logo, a nossa responsabilidade é bem maior do que poderíamos supor, pois ela engaja toda a humanidade.
Sartre acredita que não pode considerar o existencialismo como uma filosofia da quietude, vez que define o homem pela ação; e também nem como uma definição pessimista do homem: "Não existe doutrina mais otimista, visto que o destino do homem está em suas próprias mãos"; nem como uma tentativa de desencorajar o homem a agir: "O existencialismo diz-lhe que a única esperança está em sua ação, e que só o ato permite o homem a viver”. Contudo, o existencialismo ainda era acusado de aprisionar o homem na sua subjetividade, acusação esta que Sartre associou a uma má interpretação.
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