RICK AND MORTY E O VAZIO EXISTENCIAL
Por: wftsophie • 26/10/2019 • Trabalho acadêmico • 1.279 Palavras (6 Páginas) • 713 Visualizações
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES - CCHLA
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA E EXISTENCIAL I
THIAGO ANTONIO AVELLAR DE AQUINO
ANDRESSA ENEDINO; MARIA ÉLIDA; MARINA TAVARES; VANESSA DE ALENCAR.
RICK AND MORTY E O VAZIO EXISTENCIAL
JOÃO PESSOA, PARAÍBA
2017
Rick and Morty e o Vazio Existencial
Rick and Morty é uma série de animação norte-americana de comédia e ficção científica de conteúdo adulto criada em 2013 por Justin Roiland e Dan Harmon para o bloco de programação noturno Adult Swim, um canal de televisão a cabo. A série conta a história de um cientista maluco e o seu neto vivendo aventuras no multiverso, ou seja, admite a ideia de que existem infinitos universos, dimensões e realidades paralelas.
A animação aproveita de elementos do Terror Cósmico, um gênero literário que usa questões filosóficas como a completa insignificância do ser humano no universo e a nossa incapacidade de entender dimensões e entidades que vão muito além da compreensão humana. O desenho usa o cosmo, ciência e tecnologia como uma forma de explorar questões filosóficas, ao dizer que não apenas somos só um grão de areia dentro de um minúsculo planeta na infinitude do universo, somos também um de uma quantidade infinita do mesmo grão de areia. Por isso um dos temas mais recorrentes na série é a visão existencialista que questiona a existência de um propósito inerente à condição humana.
Um dos personagens principais, Rick Sanchez, é o que melhor ilustra tais questionamentos. Rick é um cientista alcoólatra que tem por volta de 60 anos, e é considerado uma das pessoas mais inteligentes do universo, capaz de construir máquinas e acessórios tecnológicos que o permite viajar por diversas dimensões e realidades. Porém, o personagem não consegue criar um propósito para sua vida por causa da sua incrível inteligência que o faz compreender e aceitar a insignificância do ser humano no universo infinito. Quando mais ele compreende o universo, mais amargo e triste ele se trona, e nos momentos que ele mais se sente realizado é quando ele vive aventuras com os seus netos e pode compartilhar isso com os seus amigos, o que gera um grande conflito no personagem.
Rick não se importa com coisas como ética, moralidade, tradições ou valores, e a ciência no desenho é usada como um estímulo para o “estilo de vida niilista” do personagem, já que ela permite o Rick achar um certo sentido para o universo por meio de fórmulas e teoremas, mas ao mesmo tempo gerar um confronto e não consegue explicar o vazio natural da nossa própria existência.
O Niilismo faz parte das ideias de Friedrich Nietzsche e é a filosofia do nada, é a negação da vida em nome de algo transcendente (fora do mundo), desprezando e negando normas e valores prévios. Nele, o homem despede-se dos valores morais e regras sendo livre pra escolher e criar suas próprias. Para Nietzsche, o Niilismo pode se expressar de duas formas, o Niilismo Ativo que acredita na destruição dos antigos valores para construir novas interpretações, valorações e significações, e o Passivo aquele que aceita tudo do jeito que é. O Rick varia durante toda série entre esses dois tipos de atitude, uma hora ele se importa com a situação e se esforça para mudar, outrora simplesmente não se importa e aceita a sua condição.
Outros dois conceitos nietzschianos são de Super-Homem (Übermensch) e Último-Homem, sendo ambos possíveis de observa na série nos personagens do Rick e do seu genro Jerry. O Rick adéqua-se no conceito de Super-Homem, já que este vive o aqui e agora, sendo mestre de si mesmo, vive além do bem e o mal, e não segue princípios da metafísica. Já o Jerry, que vive sendo ridicularizado pelo Rick, é um homem passivo, domesticado, alienado demais nas questões mundanas para ser capaz de compreender sua própria situação de passividade, é o que Nietzsche chama de Último-Homem.
Outro autor, que possibilita analisar Rick and Morty por meio de uma perspectiva existencialista, é Albert Camus com a sua Teoria do Absurdo. Para Camus a vida é constituída de duas facetas: a tendência humana de achar um significado na vida e a completa indiferença do universo com a nossa existência, sendo essa falta de respostas o que gera o que o autor chamou de “sentimento do absurdo”.
O Absurdo para Camus se origina de nossas tentativas de dar sentido a um mundo sem sentido, já que para ele tentar criar qualquer propósito ou significado para o absurdo da existência é um erro, a melhor resposta é aceitar a indiferença do universo, e é exatamente isso que o personagem do Rick faz. Rick percebe e aceita a indiferença do universo e vive como se nada importasse, e assim como Camus, acredita que a vida é mais vivida se não tiver sentido, pois isso proporciona uma liberdade imensa ao homem de criar e destruir e ser quem ele quiser, já que “se nada faz sentido tudo é possível e nada tem importância” (Camus, 1951).
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