Relação com as Famílias no Tratamento dos Portadores de Transtorno Mental Realizado no Centro de Atenção Psicossocial
Pesquisas Acadêmicas: Relação com as Famílias no Tratamento dos Portadores de Transtorno Mental Realizado no Centro de Atenção Psicossocial. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Ceminhamagalhaes • 1/11/2014 • Pesquisas Acadêmicas • 6.991 Palavras (28 Páginas) • 515 Visualizações
A Relação com as Famílias no Tratamento dos Portadores de Transtorno Mental Realizado no Centro de Atenção Psicossocial
The Relationship with the Families in the Treatment for Mentally Troubled Patients at the Psychosocial Attention Center
Eliane de Souza Pimenta
Roberta Carvalho Romagnoli
Resumo
Este artigo tem como tema a relação da família, no tratamento dos portadores de transtorno mental, com o serviço de saúde mental, a partir de uma perspectiva institucionalista. O objetivo é analisar o campo de forças que se estabelece nessa tríade que dificulta uma efetiva adesão dos familiares ao tratamento dos usuários atendidos no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). A pesquisa de campo foi realizada no CAPS de Ribeirão das Neves, por meio tanto de entrevistas semi-estruturadas com quatro famílias dos portadores de transtorno mental, usuárias desse serviço, quanto da nossa prática profissional. Analisamos que são diversos os fatores que vão influenciar nas dificuldades que se apresentam na relação entre o portador de transtorno mental, sua família e o serviço de saúde mencionado. A família ainda não se vê como parte importante da assistência ao portador de transtorno mental, e o serviço de saúde, por sua vez, tem dificuldade em levá-la a se ver como tal. Concluímos ser necessária uma reflexão por parte do serviço de saúde sobre o seu papel neste processo, e também sobre o que tem sido oferecido à família para que seja propiciada sua participação ativa na assistência do portador de transtorno mental.
Palavras-chave: família; saúde mental; portador de transtorno mental; Centro de Atenção Psicossocial; cuidado.
Abstract
The theme of this article is the family relation with the mental health care services within the mental health patient's treatment from an institutionalist perspective. It aims to analyze the strength field established by this triad which makes it difficult for the family members to actually adhere to the treatment of users of the Psychological Attention Center (CAPS). The field research has been performed at the CAPS in Ribeirão das Neves, by the means of semi-structured interviews with four mentally troubled patient's families, all of which are users of this service, along with our professional practice. We have found that there are many factors of influence regarding the difficulties presented in the relations amongst the family, the service and the mentally troubled patient. The family members still do not see themselves as an important part of the assistance to the mentally troubled patient and the service has also a hard time attributing this place to the family. We came to the conclusion that the service has to reflect on its role in this process. On the other hand, the service also has to reflect on what has been offered to the family members to make them participate actively in the mentally troubled patient's assistance.
Key words: family; mental health; mentally troubled patient; Psychological Attention Center; care.
ntes do movimento da Reforma Psiquiátrica, que no Brasil se iniciou no final da década de 1970, o louco vivia à margem da sociedade. Quando ocorria o primeiro surto, o doente era trancado em manicômios por longos anos, às vezes para sempre. Neste momento histórico, o portador de transtorno mental era afastado de qualquer convívio ou sinal de uma vida produtiva, ficava à margem do social, distante da família, esquecido, excluído. Muitas vezes, falecia na instituição asilar.
Nesse contexto, o louco era distanciado da família como uma proposta de “isolamento terapêutico”. Para justificar tal procedimento, defendia-se que a família estaria sob ameaça de alienação e que, por isso, necessitaria ser protegida. O louco era encarado como uma figura perigosa para a estrutura familiar, supondo-se que poderia subverter os membros mais frágeis, tornando-se um modelo exemplar negativo, ao ser imitado. Entretanto, embora a família precisasse ser protegida do seu membro doente, o grupo era também acusado de promover a loucura. Esta contradição se dava devido à idéia de que a alienação provinha da estrutura familiar e dos conflitos que aconteciam a partir desta relação.
Dessa maneira, a relação da família com o portador de transtorno mental era mediada por agentes médicos e por agências estatais, encarregadas da cura, da custódia e da assistência. À família cabia identificar a loucura e encaminhar para o asilo, fornecer informações importantes, às vezes visitar o doente e esperar por sua recuperação pacientemente. “Recuperação” que, na maior parte das vezes, não acontecia, e assim o louco nunca mais voltava para o seio familiar. Morria no asilo ou ficava nas ruas perambulando, rejeitado pela família, perdendo qualquer vínculo social.
A Reforma Psiquiátrica teve como uma de suas propostas trazer a loucura para o seio familiar. Desta forma, vemos que ocorre uma grande transformação. Se antes o louco era afastado da família por ser uma “ameaça”, ele agora é inserido nesse grupo, a partir do qual pode receber subsídios para a vida em sociedade. Com esta mudança, surgem as dificuldades enfrentadas pelos familiares diante deste novo encargo: lidar com a loucura de forma tão próxima e ainda ser parte imprescindível da reinserção social do portador de transtorno mental.
Moreno e Alencastre (2003) ressaltam, na 1ª Conferência Nacional de Saúde Mental, em 1987, que as dificuldades enfrentadas pela família do portador de transtorno mental não obtiveram destaque. Em 1992, na 2ª Conferência Nacional de Saúde Mental, os familiares tiveram sua representatividade assegurada e uma das recomendações foi: “[…] evitar culpabilizar o usuário e família, e promover o atendimento integrado da mesma inserida no contexto comunitário e social” (Conferência de Saúde Mental, 1994, p. 26). Já na 3ª Conferência Nacional de Saúde Mental, ocorrida em 2001, procura-se afirmar a importância da família como aliada na nova forma de atenção a ser dada ao portador de transtorno mental, e nela busca-se o suporte dos serviços de saúde através do cuidado domiciliar e do enfrentamentos das crises.
Em nossos dias, devido às propostas de mudança da Reforma Psiquiátrica, está em funcionamento uma rede ampla e diferenciada de serviços substitutivos do modelo psiquiátrico tradicional. De maneira geral, eles se caracterizam pela utilização
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