Resenha O BICHO DE SETE CABEÇAS

O BICHO DE SETE CABEÇAS

Filme chocante que apresenta a realidade dos hospitais manicomiais de alguns anos atrás, com uma pequena amostra de como era a medicina manicomial. Puro descaso falta de humanidade e preparo de equipe.

Esse filme relata a estória de um adolescente o Neto, que é internado pelo pai Sr.Wilson num manicômio, que toma essa decisão simplesmente pelo suposto envolvimento do rapaz com drogas, pelo fato de ter sido encontrado um cigarro de maconha nas suas coisas. O pai conservador, rude e ignorante que não procura em nenhum momento dialogar com o rapaz, nem tenta compreender as mudanças que passam na cabeça do filho numa fase tão conturbada como a adolescência o quais como muitos adolescentes apresentam um comportamento rebelde, reforçado pelo fato de procurar aceitação e identificação por um grupo de amigos do qual faz parte, incitando-o a utilizar bebidas alcoólicas, pichar muros e ter atitudes de confronto com o pai, esse adolescente não encontra apoio algum no âmbito familiar, composto por uma mãe submissa e uma irmã mais velha que chefia essa família. Sem preparo nem informação alguma o jovem é simplesmente deixado pelo pai nessa instituição onde é tratado de maneira agressiva, impiedosa e desumana, após receber alta, e retornando a outra instituição semelhante, leva o rapaz a tentativa de suicídio, ateando fogo aos cobertores num pequeno cubículo escuro onde se encontrava quanto mais tempo no hospício, mais Neto vai ficando acabado, mental e fisicamente, o manicômio, que supostamente deveria curar o paciente, acaba por deixá-lo louco e mais alienado do que nunca, sem nenhum estímulo para o intelecto nem para o físico, e com funcionários violentos, resta-lhe apenas isolar-se em seu próprio mundo. O filme é encerrado com o pai, Sr.Wilson lendo uma carta de Neto, ou seja, ouvindo pela primeira vez a voz do filho.

Aspectos do Filme

Tipo de atendimento: Precário, total descaso.

Os manicômios não promoviam a saúde mental e sim a insanidade. No filme fica clara a cultura da insanidade, quanto mais dopados melhor, isolamento, descuido, falta de higiene pessoal, falta de contato com médico, descaso e desprezo pela equipe de enfermeiros e médico responsável pelo hospital.

Tipo de internação: Involuntária

        No momento de sua internação Neto, foi enganado pelo pai, não teve se quer um diálogo antes do que poderia estar acontecendo com ele e onde poderiam ajuda-lo, nenhuma avaliação médica, Neto foi diagnosticado precocemente pelo próprio enfermeiro e deixado, abandonado nesse lugar fétido, desumano e cheio de pessoas que mesmo que não fossem loucos tornavam-se, devido à dominação medicamentosa, tratamentos de eletro choque e salas de isolamento.

Sociedade e família: Desinteressada e falta de orientação.

        É repugnante pensar que tanto a sociedade e a família eram mal informadas e desinteressadas em relação a esses tipos de atendimento, quantos sadios adoeceram por conta desse tipo de situação, quantos não foram como Neto induzidos a um tratamento desnecessário e aí sim ficarem piores, por falta de orientação, por hospitais desse tipo que visavam o lucro por internações e não cumprir com o seu papel de trazer bem estar e salvar vidas.

Quantas famílias desestruturadas por falta de diálogo, por falta de conhecimento, por buscar ajuda em lugares errados ou simplesmente se omitir, abandonando literalmente essa pessoa, privando-o de buscar alternativas, de lhe dar a chance de escolher o que fazer ou de pelo menos falar sobre o que está acontecendo, internando-o nesse tipo de lugar, exposto a violência física e mental.

A sociedade exclui esse individuo, pois não faz parte de seus moldes, e no caso de Neto quando voltou a essa sociedade depois de sua primeira internação sofreu preconceito, foi descriminado, viveu desprezo e medo.

 Quando Neto enfim consegue sair da instituição tanto na primeira e na segunda internação, vemos que ele não tem assistência alguma, após um período de internação prolongado não há nenhuma preocupação em reinseri-lo na sociedade, já que após um longo período internado necessitaria de apoio, para se readaptar como é dado atualmente pelos CAPS e Nas e residências terapêuticas, essas instituições são instrumentos de grande valor para a reforma, já que o seu principal objetivo é acabar com esse tipo de hospital (manicômio), mas não deixar que essas pessoas ao saírem de hospitais fiquem sem um apoio, a ponto dessa pessoa não depender mais de instituição alguma e seguir a vida saudável mesmo com algumas sequelas. 

Cenas

A cena em que Neto é levado pelo pai com a desculpa de visitar um amigo no hospital, ele é pego de surpresa sendo levado pelos enfermeiros sem nenhuma explicação, é absurdamente revoltante, pois além de não enxergarmos necessidade de uma internação como primeira medida cautelar para o caso, nos deparamos com uma instituição de saúde, totalmente corrompida que colabora para a gravidade da situação, uma vez que recebe o rapaz, sem nenhum tipo de diagnostico clinico o levando a força, sem dar voz para sua real situação. É lamentável o papel dessa instituição, que ao invés de cuidar e zelar pela vida deixou marcas que força nenhuma na terra pode apagar. Embora não tenha assassinado Neto fisicamente, o levou a um cárcere totalmente vazio e alienado, de sua condição de ser Humano.