Resenha do filme: O senhor das moscas

A obra "O senhor das moscas", narra de forma intensa e complexa, os desafios enfrentados por um grupo de crianças inglesas, fugitivas da guerra e sobreviventes de um acidente aéreo em uma ilha. Sem a figura de um adulto, já que o capitão não resiste ao acidente, percebe-se a necessidade do grupo se organizar, mediante a ameaça da falta de abrigo e alimentação. Ralph, um garoto que mostra uma devida capacidade de liderança, convoca o grupo e sugere um sinal de resgate (fogueira), citando também a importância do estabelecimento de regras e estratégias para a organização do grupo na ilha. Durante essa reunião, entre os três possíveis líderes (Ralph, Piggy e Jack), Ralph acaba sendo escolhido de forma democrática. Tendo Ralph como líder, vem o que considero como mais relevante para se compreender o que virá adiante:

O círculo de meninos desfez-se em aplausos. Até o coro aplaudiu; e as sardas do rosto de Jack desapareceram sob um rubor de mortificação. Ele se levantou bruscamente, mas mudou de ideia e sentou-se novamente enquanto o ar ressoava. Ralph olhou para ele, ansioso para oferecer-lhe algo. (GOLDING, 2011).

Com o decorrer dos dias, Jack se mostra insatisfeito com o modelo de liderança de Ralph e consegue persuadir uma parte dos garotos em não seguir as regras do líder, promovendo a falta de disciplina, sem preocupações, brincadeiras e caça à porcos, fortalecendo sua dominação impregnando medo com a propagação de uma estória à respeito de uma besta selvagem, um monstro imaginário. Com o decorrer do tempo, maior parte dos garotos passam a apresentar mudanças comportamentais, perdendo suas identidades civilizadas, tornando-se selvagens. Diante disso, caracterizam-se dois lados opostos, uma parte seguidora da ideia caótica de Jack. A outra sob a liderança de Ralph, com a ajuda de Piggy na manutenção da ordem e da fogueira como sinal de resgate. Porém, o grupo de Ralph vai perdendo integrantes, chegando ao ponto de restar somente ele e Piggy, por serem os únicos a manterem a razão diante da rebeldia dos demais. Conforme o tempo passa, os rebeldes não aceitando a deliberação e tenacidade de Ralph, tentam matá-lo, além de já terem matado os poucos colegas que o apoiavam, inclusive Simon, o garoto que descobriu que a besta selvagem não passava do cadáver do piloto e Piggy, que seria o mais racional de todos. Ao final do filme, enquanto Ralph é perseguido pelos adeptos de Jack e está sendo quase pego por tais, aparece diante de todos a equipe de resgate com helicópteros que assim os retiram da ilha.

A obra, pode representar os conflitos dentro da própria "psiqué" humana. Ralph é a consciência, porque todos os seus esforços são o de manter clareza em sua fala e ações e de agir da maneira mais correta para serem resgatados; Piggy é a racionalidade; Jack, os instintos animalescos e primitivos; Simon, a contemplação e intuição. No fundo, estas contradições não existem somente no interior de uma sociedade, cujo resultado extremo é a guerra, mas também no interior de um próprio indivíduo. Essas crianças se renderam aos mais baixos sentimentos humanos e se transformaram em uma espécie de selvagens, praticando violências e assassinatos. O ambiente e a falta de controle de um adulto criaram nelas uma espécie de histeria coletiva, de voluntarismo para o brutal e instintivo. (RIBEIRO, 2010).

Visto que existe uma contrariedade intransponível entre as exigências da pulsão e as da civilização, Freud retrata o fato da cultura produzir um mal estar nos seres humanos. Assim, para o bem da sociedade o indivíduo é sacrificado: para que a civilização possa se desenvolver o homem tem que pagar o preço da renúncia da satisfação pulsional, prejudicando severamente sua agressividade e vida sexual. Em todos os homens existem propensões destrutivas,