Resenha do livro
Por: Taay Sousa • 1/5/2016 • Resenha • 1.898 Palavras (8 Páginas) • 258 Visualizações
OLIVEIRA, M. D.; OLIVEIRA,R.D; CECCON,C. & HARPER,B. Cuidado, Escola! Desigualdades, Domesticação E Algumas Saídas. 22° Ed. São Paulo, Brasiliense, 1986. e apresentado por Paulo Freire.
Paulo Freire nasceu em 1921 em Recife, numa família de classe média. Com o agravamento da crise econômica mundial iniciada em 1929 e a morte de seu pai, quando tinha 13 anos, Freire passou a enfrentar dificuldades econômicas. Formou-se em direito, mas não seguiu carreira, encaminhando a vida profissional para o magistério. Suas ideias pedagógicas se formaram da observação da cultura dos alunos - em particular o uso da linguagem - e do papel elitista da escola. Em 1963, em Angicos (RN), chefiou um programa que alfabetizou 300 pessoas em um mês. No ano seguinte, o golpe militar o surpreendeu em Brasília, onde coordenava o Plano Nacional de Alfabetização do presidente João Goulart. Freire passou 70 dias na prisão antes de se exilar. Em 1968, no Chile, escreveu seu livro mais conhecido, Pedagogia do Oprimido. Também deu aulas nos Estados Unidos e na Suíça e organizou planos de alfabetização em países africanos. Com a anistia, em 1979, voltou ao Brasil, integrando-se à vida universitária. Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores e, entre 1989 e 1991, foi secretário municipal de Educação de São Paulo. Freire foi casado duas vezes e teve cinco filhos. Foi nomeado doutor Honoris causa de 28 universidades em vários países e teve obras traduzidas em mais de 20 idiomas. Morreu em 1997, de enfarte.
O livro “Cuidado, Escola! Desigualdades, domesticação e algumas saídas” é apresentado por Paulo Freire e formulado junto a autores membros do grupo IDAC (Instituto de Ação Social).Este livro é uma obra que apesar de ter tido a sua primeira edição lançada em 1980 pela Editora Brasiliense, é considerado atual por problematizar uma série de dificuldades no processo de escolarização formal e suas implicações no ensino-aprendizagem ainda pertinentes.
O livro é estruturado em oito breves capítulos em 117 páginas, onde é apresentado de maneira dinâmica e acessível, nos levando a refletir em seu primeiro capítulo sobre a Crise escolar e as subjetividades geradas a partir desta em pais, alunos e professores, além de discutir fenômenos como a evasão e fracasso escolares.
No segundo capítulo, o autor traz um percurso histórico sobre a prática educativa, desde as primeiras sociedades e a tradição oral, passando pela Idade Média com a dicotomia entre ensino para a nobreza e classe trabalhadora e sua função excludente, da escola moderna até a “democratização do ensino” com um sistema de educação obrigatório e gratuito o qual temos hoje.
É abordado no terceiro capítulo incongruência entre a função da escola de desenvolver a capacidade dos alunos e a realidade que é vivida pelos indivíduos, com formas de ensino já cristalizadas que não correspondem à necessidade dos estudantes, originando o que o autor denomina domesticação.O capítulo também destaca as relações professor-aluno onde há uma supressão da singularidade do sujeito, e onde o que é exposto não possui certa aplicação ou significação imediata na vida desses indivíduos, além de relatar a prática da hierarquização de matérias que valorizam o trabalho intelectual em detrimento de outros, e acerca da responsabilidade do professor na resistência da perpetuação desse sistema.
No capítulo seguinte o autor discorre sobre as diferenças no poder aquisitivo, culturais, em oportunidades fora do ambiente escolar, de atitudes dos pais e de como essas desigualdades diferem na vida estudantil e fora dela em se tratando de oportunidades de ascensão social. Já no capítulo cinco e seis respectivamente, a temática é sobre como alguns valores e princípios são aprendidos e utilizados na forma de mecanismos de permanência da ordem estabelecida, nos tornando dependentes de seu funcionamento. E, como a escola a priori com o compromisso social de tornar sujeitos conscientes ou críticos, formula junto à necessidade do momento histórico o que deve ser aprendido ou não.
Nos dois últimos capítulos, o autor faz reflexões acerca das transformações ocorridas no tempo com a instituição escolar, fazendo crítica sobre a permanência do professor como detentor do conhecimento e alunos como simples depósitos de informações, sobre a existência de novas ferramentas de ensino, porém com velhos problemas. Esclarece sobre possíveis soluções e pedagogias alternativas, focando na promoção da autonomia e criatividade do aluno.
As pedagogias alternativas descritas por vezes desafiam os modelos tradicionais e questionam o papel participativo da comunidade escolar, a identidade do professor, bem como a sua capacidade de intervir nas situações do ambiente escolar, pontuando a importância do respeito aos aspectos afetivo e social do sujeito. Por fim, ao dizer que a raiz do problema está fora da escola, e que a causa dele é o sistema capitalista com seu modo industrial, o autor propõe uma nova reestruturação do modo de produção e organização social, permitindo uma mudança na prática educativa, a qual segundo ele,promoverá a participação efetiva de todos os envolvidos nela e uma coerência com a realidade.
Muito se fala acercadas dificuldades da escola. Seja por ter vivido ou estar vivendo o cotidiano escolar, uma vez que a escola é um dos ambientes onde o indivíduo se desenvolve, ou ao menos deveria ser. É uma das instituições socializadoras dos sujeitos, onde valores e normas são mais rigidamente apresentados. E não poderia ser diferente: acredita-se que estranho seria em não se problematizar as dificuldades do sistema de ensino,pois é construindo novos conhecimentos e aperfeiçoando outros que se chegará a um objetivo comum.
Destaca-se a forma como somos apresentados aos problemas no livro, observando-os de perto e não na superficialidade como na maioria das vezes é vivido, com naturalidade.
O texto fala sobre a crise escolar e confirma através de censos a dimensão global do problema, e como as pessoas são afetadas por ela, sendo uma realidade de países desenvolvidos e outros emergentes como o nosso. Partindo de uma visão sócio-histórica, não podemos deixar de perceber um viés político na obra, mas que é necessário para explicar como somos construídos de acordo com nossa cultura, e na escola não poderia ser diferente.
O autor traz uma análise do papel seletor e classificatório que a escola e os professores têm perante os sujeitos que são considerados bons ou mau alunos, padrão que vai sendo reforçado através das séries e assim seleciona os que mais se aproximam da visão dominante apreciada pela instituição. Essa segregação provoca abandono escolar, além da
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