TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

Sonhos e Técnicas de Representação

Por:   •  6/12/2018  •  Trabalho acadêmico  •  4.741 Palavras (19 Páginas)  •  133 Visualizações

Página 1 de 19

Sonhos e Técnicas de Representação

Em todas as religiões e em todas as civilizações antigas, os sonhos têm sido considerados uma importante via de ligação entre o mundo cotidiano e outro mundo - o mundo espiritual, o mundo dos deuses, o reino arquetípico; em linguagem moderna, o inconsciente.

Os sonhos são importantes tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. José foi o principal intérprete de sonhos do Antigo Testamento, tendo interpretado corretamente os sonhos do Faraó, de maneira que o Egito pôde estocar grãos durante sete anos de fartura, evitando os sete anos de fome que se seguiriam. No Novo Testamento, São José recebeu em sonhos a mensagem de que deveria fugir, com Maria e o Menino Jesus, para o Egito, de forma a livrar Jesus da morte dos inocentes ordenada por Herodes. Outro sonho serviu para dizer-lhe que era seguro retornar.

A mãe do Buda sonhou que um elefante branco com sete pares de presas penetrara-lhe o flanco. Esse sonho foi interpretado como uma mensagem de que ela daria à luz uma criança que seria o salvador de todo o mundo. Na Grécia e na Roma antigas, os templos de Asclépio eram santuários nos quais os suplicantes do deus dormiam ("incubavam") nos recintos do templo, na esperança de terem um sonho cuja interpretação diagnosticasse a causa de enfermidades e oferecesse sugestões de cura. A Oneirocritica de Artemidoro de Éfeso, um manual de sonhos do início da era cristã, reflete claramente um amplo interesse pelo significado dos sonhos. 52

Muitas personagens históricas deixaram registros dos seus sonhos: Júlio Cesar, Descartes, Bismarck, Hitler, Freud e Jung, entre outras. Mas, por volta de 1900, quando Freud publicou sua mais famosa obra, A Interpretação dos Sonhos, não havia praticamente nenhum interesse científico ou profissional por essa interpretação.

A Teoria Freudiana dos Sonhos

Praticamente sozinho, Freud criou um novo quadro para a compreensão clínica dos sonhos, que se tornou uma importante atividade da nova terapia psicanalítica. Os sonhos foram chamados "a via real para o inconsciente".

Na visão freudiana clássica, o sonho é um método de manutenção do sono apesar dos impulsos inaceitáveis - normalmente de cunho sexual ou agressivo - que surgem quando a censura da mente inconsciente é relaxada durante o sono. O impulso inaceitável que poderia perturbar o sono é transformado numa forma dramática e mais aceitável pelo trabalho do sonho, através de mecanismos como o deslocamento e a condensação. O deslocamento, por exemplo, passa inconscientemente o desejo sexual reprimido pela mãe para a imagem onírica de uma mulher substituta mais aceitável, ocultando dessa forma o caráter incestuoso do desejo. No mecanismo da condensação, várias figuras discretas são condensadas numa única figura composta que representa todas as figuras que a compõem. A elaboração secundária, tal como o disfarce de pessoas e eventos reais, é usada para colocar as imagens resultantes numa forma mais aceitável antes de elas serem experimentadas como sonho. Na visão freudiana, o sonho permite uma descarga parcial do impulso original, sem permitir que esse impulso se manifeste numa forma tão primitiva que provoque o despertar do sonhador.

Na interpretação freudiana dos sonhos, a livre associação de ideias com os motivos do sonho serve, segundo se supõe, para produzir o retorno ao sonho latente original, não disfarçado, que se encontra subjacente ao sonho manifesto experimentado e lembrado.

A Concepção Junguiana dos Sonhos

Jung trabalhou originalmente com a teoria freudiana, antes de romper com Freud e desenvolver sua própria concepção a respeito da natureza da mente inconsciente. O elemento ímpar na concepção de Jung consiste no fato de ele evitar a consideração do sonho como uma mensagem inconsciente disfarçada. Na teoria junguiana, não há sonho latente ou oculto. Em vez disso, o sonho é considerado uma representação simbólica do estado da psique, e mostra os conteúdos da psique pessoal (os complexos), sob uma forma personificada ou representacional, como pessoas, objetos e situações que refletem os padrões mentais.53

Os conteúdos pertencentes à parte mais profunda da psique às vezes se manifestam nos sonhos. Esses conteúdos são imagens e motivos arquetípicos que podem não ser reconhecidos como tais, exceto se a pessoa estiver familiarizada com o simbolismo da mitologia e do folclore. Às vezes, o aparecimento de imagens arquetípicas nos sonhos indica uma profunda mudança no estado da psique. 54

Jung criticou a teoria freudiana dos sonhos pelo fato de ela não ter percebido que muitos sonhos significam exatamente aquilo que dizem. A consideração do sonho como uma versão disfarçada do que seria um pensamento na situação de vigília parece desnecessária para muitos sonhos que são claros sem nenhuma interpretação.

Os sonhos podem fazer piadas, resolver problemas ou mesmo lidar com questões de ordem religiosa e filosófica. Para Jung, os sonhos são uma auto-representação do estado da psique, apresentada sob uma forma simbólica. O propósito dos sonhos, na teoria junguiana, é compensar as distorções unilaterais do ego vígil; por

conseguinte, os sonhos estão a serviço do processo de individuação, auxiliando o ego vígil a encarar-se a si mesmo de forma mais objetiva e consciente.

Quando iniciei minha prática psiquiátrica, tentei, por mais de dois anos, usar as teorias freudiana e junguiana para lidar com os sonhos dos pacientes. O resultado disso foi a convicção sobre a utilidade clínica superior da abordagem junguiana. Isso ocorreu anos antes de eu ter entrado no treinamento para ser um analista junguiano. Ulteriormente, dediquei grande atenção à interpretação dos sonhos, incluindo áreas especializadas como o aparecimento de imagens religiosas nos sonhos. 55 A interpretação de sonhos ainda constitui, na minha opinião, a via mais direta para uma apreciação da mente inconsciente. O uso clínico dos sonhos na prática junguiana é mais generalizado do que na maioria das outras formas de psicoterapia ou psicanálise. Isso se deve ao fato de os analistas junguianos receberem um treinamento de intensidade incomum no reconhecimento e no respeito ao significado de materiais inconscientes tais como os sonhos.

Apesar de a maneira pela qual os sonhos são analisados variar naturalmente entre os analistas junguianos, há algumas práticas comuns seguidas pela maioria deles no tocante a essa análise.

Os principais pontos da interpretação junguiana dos sonhos serão discutidos aqui, um por um. São eles:

  1. Recordar os sonhos - como obter os dados básicos do sonho.
  2. Registrar os sonhos para que possam ser utilizados de forma mais eficaz na análise.
  3. Ampliação dos sonhos através de a) associações pessoais; b) associações culturais; c) associações arquetípicas; e d) associações naturais.
  4. A estrutura dramática da maioria dos sonhos.
  5. O propósito dos sonhos - compensação da forma como o ego vígil concebe as coisas.

Recordação dos Sonhos

As modernas pesquisas a respeito da fisiologia dos sonhos indicam que todos sonham várias vezes no decorrer de cada noite de sono. Apenas sob condições de laboratório uma pessoa pode ser privada de um sono povoado de sonhos. Mesmo nessas condições, se a pessoa que sofreu essa privação puder dormir sem interrupção, haverá a recuperação de boa parcela do período de sonhos perdido.

...

Baixar como (para membros premium)  txt (30.5 Kb)   pdf (191.7 Kb)   docx (963.2 Kb)  
Continuar por mais 18 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com