TRANSAMERICA: ANÁLISE DO FILME COM IMPLICAÇÕES PARA A PSICOLOGIA
Por: Gabriel Henrique • 9/6/2020 • Trabalho acadêmico • 2.343 Palavras (10 Páginas) • 637 Visualizações
TRANSAMERICA: ANÁLISE DO FILME COM IMPLICAÇÕES PARA A PSICOLOGIA
Aldair Favacho[1]
aldairfavacho89@gmail.com
Gabriel Cordeiro¹
ghcords@gmail.com
RESUMO: O presente trabalho aborda autores que refletem sobre as diferentes formas de violência que atingem a comunidade trans e travestis, assim como também traçam uma reflexão do porquê as construções sociais são tão enraizadas, preconceituosas e violentas com esta comunidade, que está apenas em seu processo de externalizar sua autenticidade e buscar esta identificação e aceitação corporal ao qual se identificam. Também se é discutido o papel profissional da psicologia frente a estas demandas, e quais ações têm de ser realizadas para acolher e amenizar o sofrimento, promover dignidade e respeito para com um indivíduo que se contextualiza nesta situação. E através disto foi utilizado a metodologia de análise de vídeo para examinar o filme “Transamerica” pelo viés da psicologia e quais implicações decaem sobre a mesma. Através da retratação do filme, se percebe questões de violência psicológica e como a personagem principal de percebe como ser, e quais métodos utiliza para chegar a um padrão anatômico em que se sinta confortável e realizada.
PALAVRAS-CHAVE: TRANSSEXUALIDADE; PSICOLOGIA; ANÁLISE DE FILME.
INTRODUÇÃO: A transexualidade é a identificação pelo gênero oposto ao nascimento. Se difere de orientação sexual, ao qual é a atração afetiva por determinados gêneros. O processo transsexualizador traz a luz a busca pela identificação e aceitação anatômica do corpo, ao qual influencia diretamente nos processos psicológicos da pessoa. Se realiza através de hormonização, procedimentos estéticos, de forma legal ou ilegal, também a utilização de vestimentas e expressões de gêneros ao qual se identificam. Entretanto este processo causa muito tabu e preconceito à sociedade. É normalmente negado a existência destes corpos na sociedade. Então a pessoa que se contextualiza nesta situação acata inúmeros sofrimentos de rejeição da sociedade e da aceitação do próprio corpo. O filme “Transamerica” representa justamente esses pontos de debate, que implicam na psicologia sobre saúde mental e atuação profissional de psicólogos perante as demandas desta comunidade estigmatizada e marginalizada.
OBJETIVO GERAL: Analisar sobre o viés da psicologia, um filme que aborde um recorte de vivência da comunidade trans e travestis, e através disto, discutir as implicações da história retratada.
METODOLOGIA: A análise de um filme se baseia em descrever, compreender e relacionar elementos que compõem a história e os aspectos audiovisuais. Manuela Penafaria (2009) reflete que:
Analisar um filme é sinónimo de decompor esse mesmo filme. E embora não exista uma metodologia universalmente aceite para se proceder à análise de um filme (Cf. Aumont, 1999) é comum aceitar que analisar implica duas etapas importantes: em primeiro lugar decompor, ou seja, descrever e, em seguida, estabelecer e compreender as relações entre esses elementos decompostos, ou seja, interpretar (Cf. Vanoye, 1994).
A análise do filme será guiada pela perspectiva psicológica, focando na história da personagem principal, quais recortes vivenciais lhe atravessam e como isto implica em sua vida.
DESENVOLVIMENTO TEÓRICO: De acordo com o Conselho Federal de Psicologia – CFP, a partir da Resolução nº 01 de 2018, se considera identidade de gênero uma “experiência interna e individual do gênero de cada pessoa, que pode ou não corresponder ao sexo atribuído no nascimento, incluindo o senso pessoal do corpo e outras expressões de gênero” (CFP, 2018) e expressão de gênero como “à forma como cada sujeito apresenta-se a partir do que a cultura estabelece como sendo da ordem do feminino, do masculino ou de outros gêneros” (CFP, 2018).
Seguindo a problemática de Bento (2006 apud FREIRE et al., 2013), em que diz que:
Tradicionalmente, os estudos sobre transexuais são realizados pelas ciências da área ‘psi’, tendo-se certa ausência da sociologia, o que conota um sentido de conflitos individuais e, de certa forma, reforça a patologização da identidade, construídos fora do referencial biológico.
Caravaca-Morera e Padilha (2018) refletem como a violência e o preconceito perpassa institucionalmente e estruturalmente a comunidade trans, desenvolvendo comportamentos que invisibilizam, violentam, matam, induzem ao suicídio, entre outros, e que metaforicamente o chamam de necropolítica trans.
[...] Necropolítica trans se constituir como uma tecnologia ininterrupta de violência sistêmica, estrutural e institucional contra o dispositivo da transexualidade, pois permeia a vida social - incluindo as diversas variáveis familiares, escolares e culturais – e, principalmente, a vida política, no seu jogo de opressão cisheterosexista. (CARAVACA-MORERA; PADILHA, 2018, p. 04)
Os autores também analisam o porquê esta prática está tão enraizada nas relações sociais:
Nesse mesmo âmbito e articulados de maneiras e em proporções variadas, consideramos que a performatividade e a impossibilidade de sair do discurso binário da normativa sexual, corporal, genérica e erótica - que engloba os mecanismos restritivos e estandardizadores como métodos de singularização e de classificação entre os seres humanos - são os que permitem compreender e até justificar a necropolítica trans e, consequentemente, os atos de violência, discriminação, suicídios, tortura e morte contra da alteridade. - (CARAVACA-MORERA; PADILHA, 2018, p. 06)
Necropolítica pode ser relacionado paralelamente a Cisnormatividade, que o CFP, na Resolução nº 01 de 2018, considera como “discursos e práticas que excluem, patologizam e violentam pessoas cujas experiências não expressam e/ou não possuem identidade de gênero concordante com aquela designada no nascimento” (CPF, 2018).
Caravaca-Morera e Padilha (2018) corroboram refletindo em como esta prática cisnormativa influencia a estrutura de poder social:
[...] entendemos que a política heterocisnormativa - por meio da transmissão de seus estatutos e artifícios excludentes, totalitários e autoritários - instaura um pensamento coletivo de normalidade e idoneidade com relação ao que se espera de um homem e de uma mulher, convertendo por um lado àquelas pessoas que escapam desses ideais em seres abjetos, escravos de um pensamento restritivo e cidadãos sem cidadania, e por outro lado converte às pessoas que se encaixam nessa realidade/padrão cis-heterossexual em soberanos, sociopatas, sicários e terroristas moralistas que têm o (necro)poder de reproduzir esses discursos, assinalar, discriminar, estigmatizar e até assassinar a alteridade que não encaixa dentro desses estatutos, sem que aconteça nenhum tipo de punição, pois estes estão simplesmente seguindo as ordenes de uma política social, historicamente instaurada e validada pela religião, sociedade, moral, direito e medicina.
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