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Uma Reflexão psicanalítica sobre as simbologias sexuais presentes no conto Chapeuzinho Vermelho

Por:   •  27/8/2018  •  Trabalho acadêmico  •  2.130 Palavras (9 Páginas)  •  264 Visualizações

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Uma reflexão psicanalítica sobre as simbologias sexuais presentes no conto Chapeuzinho Vermelho

→ Chapeuzinho vermelho está preparada para administrar toda a simbologia presente no chapéu?

A história começa narrando que a avó presenteou a neta com uma capa vermelha, o que levou a menina a ser conhecida por “chapeuzinho vermelho”. O nome usado no diminutivo indica que não só o chapéu que é pequeno, mas a menina também.  Recurso usado para enfatizar que a menina  ainda  é  uma  criança  inocente.  Em contrapartida, o adjetivo vermelho, que designa uma cor  forte  e atraente, explorando assim o lado sexual, o desabrochar do libido, lembra o  sangue  que  expõe  a  fase  menstrual, entrada na puberdade  e  como  conseqüência  o desenvolvimento  da  mulher, uma nova postura diante da sexualidade, causando  um  impacto  sedutor  e  poderoso.

A historia remete a questão edípica, lida com os desejos inconscientes da filha ser seduzida pelo pai (lobo), a  menina  se  atrai  pelo  lobo,  pois  representa  também  o  lado paterno,  em  que  desde  criança  disputa  com  a  mãe  o  carinho  e atenção  do  pai. Com a reativação na adolescência de antigas fantasias edipianas, o desejo da menina por seu pai, sua inclinação a seduzi-lo e seu desejo de ser seduzida por ele também são reativados.

Mesmo que a figura do pai não tenha sido claramente mencionada na historia, é possível supor que para Chapeuzinho Vermelho o pai está presente simbolicamente no personagem do lobo que representa os sentimentos edípicos reprimidos e no personagem do caçador em sua função protetora.  Ou seja, representam as duas faces da figura paterna: o grande herói e exemplo para seu filho, expondo o lado protetor com cuidados e carinhos, e por outro lado, a imagem da sedução do sexo oposto, do pai, representado pelo lobo.

As figuras opostas do lobo e do caçador podem representar o conflito entre o id e o superego, dizendo de outro modo, entre desejos instintivos e as normas. Ao desejar o pai ou a mãe, a criança alimenta os instintos do id. O superego, que é formado pelo conjunto de regras e proibições impostas primeiramente pelos pais, depois pela sociedade em geral e que foram interiorizados pelo indivíduo, busca censurar e inibir o id, fazendo com que este seja impedido de satisfazer plenamente os instintos e desejos da criança. Contudo, o superego não elimina a atuação do id, que se mantém ativo ao longo da vida. O superego tem a incumbência de reprimir o complexo de Édipo, onde viveremos a primeira grande censura ou corte representada pelo tabu do incesto.

Na menina, o complexo de castração despertado pela visão do pênis nos meninos a levará a um sentimento de inferioridade e a querer compensar sua falta pela inveja do pênis. No menino, o complexo de castração o faz abandonar os desejos edipianos; já na menina, ao invés disto, o complexo de castração a faz voltar-se para o pai para tentar substituir a falta do pênis: o desejo de ter um filho do pai, como substituto do pênis é, portanto, o promotor do Édipo feminino. Freud discutiu muito mais plenamente esta citação em seus trabalhos sobre a distinção anatômica dos sexos em 1925 e em 1931, quando falou da sexualidade feminina. Em ambos, fornece informações muito diferentes sobre o complexo de Édipo na menina, o que mostra o quanto ele refazia constantemente suas considerações a respeito da questão.

Conclui Freud ([1924] que a menina afasta-se do pai por não ter seu desejo de ter um filho realizado. A menina não teme a castração, por já ser castrada. Enquanto no menino o Superego se forma pela introjeção da autoridade paterna, na menina são fatores externos que agirão, como a Educação, a intimidação, o temor de não ser mais amada.

Com relação à menina, Freud menciona um apego pré-edipiano a mãe, que antecederia a fase edípica. Durante a fase fálica, os desejos da menina em relação à mãe aumentam, concentrando-se na vontade de receber um pênis dela. O clitóris representaria um pênis, sendo que a masturbação clitoriana seria uma expressão de desejos fálicos. A vagina ainda não desempenha um papel significativo, sendo descoberta apenas na vida adulta. Ao perceber que não possui um pênis, o complexo de castração ocupa o primeiro plano no cenário psíquico feminino. É neste instante que o apego a mãe é rompido, pois a menina sente ódio da mãe, que não lhe deu um pênis. Ao descobrir que a própria mãe não possui um pênis, a menina se afasta ainda mais da mãe, voltando-se para o pai. Primeiramente a menina deseja receber um pênis do pai, sendo que apenas em outro instante ela desejará receber filhos dele. O complexo de Édipo na menina seria, portanto, ativado pelo complexo de castração. A grande ansiedade feminina, para Freud, seria a perda do amor, ligada ao temor da morte da mãe.

Chapeuzinho vermelho ainda não está emocionalmente madura para a sexualidade por não ter dominado seus conflitos edipianos.....

Ao ceder às sugestões do lobo em ver as lindas flores da floresta e escutar o canto dos pássaros, Chapeuzinho vermelho age de acordo com o principio do prazer e se desvia do caminho para colher flores, esquecendo que sua mãe a advertira no inicio, ao aconselhar a filha: “comporte-se no caminho, e de modo algum saia da estrada ou você pode quebrar a garrafa de vinho”. A advertência da mãe também possui um significado simbólico, pois quebrar a garrafa de vinho pode ser um alerta que a mãe faz a filha sobre o perigo do sexo e de perder a virgindade.

Segundo Freud, o princípio de prazer é o desejo de gratificação imediata e ao mesmo tempo de evitamento de dor, sofrimento ou tensão. O princípio de prazer, que representa o desejo instintivo de satisfação, é modificado pelas solicitações do mundo exterior, ou seja, pelo princípio da realidade que se caracteriza pelo adiamento da gratificação. Respeitar o princípio de realidade consiste em dar conta das exigências do mundo real e das consequências dos próprios atos.

Chapeuzinho vermelho lida com a ambivalência infantil entre viver de acordo com o principio de prazer ou o de realidade, entre fazer o que se gosta de fazer e o que se deve fazer, pois ela só pára de colher flores depois de ter coletado tantas que não podia mais carregá-las, ou seja, quando está saciada, o id em busca de prazer recua e somente nesse momento que a menina se lembra de suas obrigações e parte ao seu encontro da avó.

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