Wallon E A Criança
Artigos Científicos: Wallon E A Criança. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: MeninasPsico • 21/6/2014 • 2.479 Palavras (10 Páginas) • 433 Visualizações
HENRI PAUL HYACINTHE WALLON
Henri Wallon nasceu em Paris em 1879 e morreu em 1º de dezembro de 1962. Pertencente a uma família de professores e de tradição democrática parisiense, seu avô, Henri Wallon Alexandre (1812-1904), foi professor na Sorbonne, historiador, senador; e autor da emenda constitucional, aprovada em 1875, que estabeleceu a existência da República Francesa.
Wallon graduou-se em Medicina e Psicologia, e também Filosofia. Atuou como médico na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), ajudando a cuidar de pessoas com distúrbios psiquiátricos. Em 1925, criou um laboratório de psicologia biológica da criança. Quatro anos mais tarde, tornou-se professor da Universidade Sorbonne e vice-presidente do Grupo Francês de Educação Nova – instituição que ajudou a revolucionar o sistema de ensino daquele país e da qual foi presidente de 1946 até morrer, também em Paris, em 1962. Ao longo de toda a vida, dedicou-se a conhecer a infância e os caminhos da inteligência nas crianças. Militante de
esquerda participou das forças de resistência contra Adolf Hitler e foi perseguido pela Gestapo (a polícia política nazista) durante a Segunda Guerra (1939-1945).
Em 1947, propôs mudanças estruturais no sistema educacional francês. Coordenou o projeto Reforma do Ensino, conhecido como Langevin-Wallon - conjunto de propostas equivalente à nossa Lei de Diretrizes e Bases. Nele, por exemplo, está escrito que nenhum aluno deve ser reprovado numa avaliação escolar. Em 1948, lançou a revista Enfance, que serviria de plataforma de novas ideias ao mundo da educação - e que rapidamente se transformou numa espécie de bíblia para pesquisadores e professores.
Foi inicialmente socialista e mais tarde, já aos 62 anos, ingressou no Partido Comunista Francês. Foi extremamente ativo na resistência durante a ocupação nazista. Em 1944, foi nomeado Ministro da Educação, cargo ocupado por pouco tempo e em 1945 foi deputado e presidente da Comissão de Reforma da Educação Langevin.
Eram tempos de luta pelo domínio e distribuição de influências no mundo; em que Wallon apoiou os republicanos durante a Guerra Civil Espanhola e se posicionou contra o desenvolvimento da energia atômica para fins militares. Extremamente sensível aos dramas humanos, o educador tinha por objetivo transformar a realidade que o cercava. Ele queria ir à raiz do homem e descobrir sua psicogênese, através de um progressivo processo de radicalização da vida humana e de sua relação com o ambiente. Assim, em seu próprio caminho e condições, tem-se que a ação do homem modifica o ambiente (físico e social) e, simultaneamente, se modifica em si e no seu significado. Isso permite pensar sobre a realidade e pensar sobre si mesmo; uma noção homóloga à concepção marxista do papel do ‘trabalhar’ no homem.
Em 1931, há a criação do "Círculo da nova Rússia", um grupo que estudava coletivamente a dialética com atividades no materialismo de 1932, resultante das discussões acerca das obras de Marx. Além disso, Wallon era ativo na CVIA (Comitê Intelectual de Fiscalização Antifascista), que nasceu com o caso Dreyfus e tinha laços estreitos com o movimento sindical, dado o compromisso político. Henri sabia da perseguição e da censura, durante e depois da guerra com o nazismo que envolveu o mundo, mas mesmo assim desafiou todos através de seus trabalhos, escritos e publicações.
A tragédia representada em guerras, genocídios e convulsões sócio-políticas do início do século XX, foram elementos essenciais na produção de trabalhos de Henri Wallon. A própria noção psicomotora surgiu a partir da dor humana e do drama; conceitos que surgiram para comparações entre o normal e o patológico. Ressalta-se também os estudos das emoções, que segundo Wallon, dependem fundamentalmente da organização dos espaços para se manifestarem. A motricidade, portanto, tem caráter pedagógico tanto pela qualidade do gesto e do movimento, quanto por sua representação.
O educador é herdeiro de uma forte tradição, que surgiu como uma área da Ciência que se dedicou às relações entre a Psicologia e a Biologia; através dos processos psicológicos e biológicos do indivíduo. Fato esse, que muitas pesquisas sobre os locais potenciais do cérebro, como a área de Brocca; sobre a descrição do neurônio por Ramon e Cajal, as precisões Sherrington em Neurofisiologia; abriram caminho para a superação do dualismo cartesiano mente-corpo. E suma, houve um grande progresso nos estudos do corpo orgânico, principalmente do Sistema Nervoso; e o educador destacou a importância da atividade mental (hipóteses neurológicas). Além disso, lutou contra o pensamento positivista da época e idealismo, subjetivismo e pragmatismo; ao comparar, relacionar, e discutir sobre o desenvolvimento do pensamento crítico em oposição ao dogmatismo. Foi um militante apaixonado, médico, psicólogo e filósofo; e demonstrou que as crianças têm também corpo e emoções (e não apenas cabeça) na sala de aula.
Henri Paul Hyacinthe Wallon dedicou sua vida ao estudo dos seres humanos, da Psicologia Infantil; a partir dos seus estudos em Filosofia, em Educação (concebe o estudo como trabalho social mediato) e na militância política. Escreveu dez livros, entre eles “L´enfant turbulent” (“A criança turbulenta”) e aproximadamente quatrocentos artigos, deixando como legado o resultado de uma relação dialética entre teoria e prática; e acima de tudo, uma dedicação incansável ao outro.
DO ATO MOTOR AO ATO MENTAL: A GÊNESE DA INTELIGÊNCIA SEGUNDO WALLON
Antes de uma análise mais profunda deste artigo, deve-se ressaltar que diferentemente dos métodos tradicionais (que priorizam a inteligência e o desempenho em sala de aula), a proposta walloniana põe o desenvolvimento intelectual dentro de uma cultura mais humanizada. A afetividade, as emoções, os movimentos e espaço físico se encontram num mesmo plano. As atividades pedagógicas e os objetos, assim, devem ser trabalhados de formas variadas. Numa sala de leitura, por exemplo, a criança pode ficar sentada, deitada ou fazendo coreografias da história contada pelo professor. Os temas e as disciplinas não devem também se restringir a trabalhar o conteúdo, mas a ajudar a descobrir o eu no outro. Essa relação dialética ajuda a desenvolver a criança em sintonia com o meio. E mais importante ainda, a abordagem da inteligência deve abarcar a pessoa como um todo; através de um viés humanista.
Então, a partir da questão da motricidade (sendo que “motor” é sinônimo de “psicomotor”), Wallon refere-se a uma relação entre a patologia do movimento
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