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A categoria trabalho

Por:   •  15/7/2015  •  Resenha  •  4.359 Palavras (18 Páginas)  •  372 Visualizações

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A CATEGORIA TRABALHO

  1. Trabalho concreto (útil) – criador de valores de uso
  1. Central à sociabilidade humana, pois media a relação orgânica entre o homem e a natureza, permite a produção e a reprodução do próprio homem. A natureza se humaniza, tem as suas propriedades postas em movimento pelo trabalho humano, enquanto que o homem ao mudar a natureza transforma a si próprio como homem.
  2. Como lembra Marx (1983, p. 149): “Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural como uma força natural. Ele põe em movimento as forças naturais pertencentes à sua corporalidade, braços e pernas, cabeça e mão, a fim da matéria apropriar-se da matéria natural numa forma útil para sua própria vida. Ao atuar, por meio desse movimento, sobre a natureza externa a ela, ele modifica, ao mesmo tempo, a própria natureza. (...)”. Ler: p. 149 – o exemplo da aranha e do arquiteto.
  3. Meios de trabalho: um conjunto complexo de coisas que o trabalhador coloca entre si mesmo e o objeto do trabalho e que lhe serve de base condutora para sua atividade sobre o objeto. O produto do trabalho de objetiva, se exterioriza, se aliena, por meio de um processo de trabalho. A força de trabalho atua sobre o objeto, destrói e reconstrói suas propriedades naturais. Esse processo ocorre de forma consciente, teleológica, materializando o processo de transformação em outro objeto útil produto da relação orgânica entre o homem e a natureza.
  4. Portanto, o trabalho útil, concreto, como processo, nos seus elementos simples, “(...) é atividade orientada a um fim para produzir valores de uso, apropriação do natural para satisfazer as necessidades humanas, condição universal do metabolismo entre o homem e a natureza, condição natural eterna da vida humana e, portanto, independente de qualquer forma dessa vida, sendo antes igualmente comum a todas as suas formas sociais. (...)” (MARX, 1983, p. 153)
  1. Trabalho alienado-estranhado: a categoria trabalho sob as condições da reprodução ampliada do capital
  1. O valor da força de trabalho, como qualquer mercadoria, é determinado pelo tempo de trabalho necessário para sua produção. Sendo assim, lembra Marx, se para repor a força de trabalho o trabalhador precisa trabalhar seis horas diárias, então esse é o tempo que determina o valor de sua força de trabalho (o valor a ser recebido por sua venda).
  2. Todavia, o trabalhador trabalha sob o controle do capitalista, vende sua força de trabalho a ele a quem passa a pertencer seu valor de uso. A força de trabalho do trabalhador funciona, para esse, como valor de troca, como a única coisa que possui para vender, trocar para sobreviver. O capitalista cuida para que o trabalho se realize em ordem e os meios de produção sejam corretamente empregados conforme os fins da produção desejada por ele (sem desperdícios, preservando os instrumentos dos desgastes que não sejam aqueles causados naturalmente pelo uso). Como o capitalista comprou a força de trabalho que a ele pertence como valor de uso, o produto do trabalho também é de sua propriedade (e não do produtor direto – do trabalhador). O capitalista paga pela força de trabalho um determinado valor, como qualquer outra mercadoria, valor esse determinado socialmente como necessário para repor a força de trabalho (para que ela se reproduza, tenha satisfeita as suas carências básicas necessárias para que seja sempre comprada como força de trabalho). Lembra Marx sobre o valor da força de trabalho do trabalhador (1983, p. 159 e 160): “(...) O fato de que meia jornada seja necessária para mantê-lo vivo durante 24 horas não impede o trabalhador, de modo algum, de trabalhar uma jornada inteira. O valor da força de trabalho e sua valorização no processo de trabalho são, portanto, duas grandezas distintas. Essa diferença de valor o capitalista tinha em vista quando comprou a força de trabalho. (...) A circunstância de que a manutenção diária da força de trabalho só custa meia jornada de trabalho, apesar de a força de trabalho poder operar, trabalhar um dia inteiro, e por isso, o valor que sua utilização cria durante um dia é o dobro de seu próprio valor de um dia, é grande sorte para o comprador, mas, de modo algum, uma injustiça para o vendedor. (...)”. O mais-trabalho e o trabalho necessário para a reprodução da FT aparecem, imediatamente, confundidos um com o outro, como um processo que os unifica-identifica.
  3. O processo de formação de valor, como valorização, não é nada mais do que um processo de valor prolongado para além de certo ponto. Caso ele dure até o ponto em que a força de trabalho se pague (como reprodução dela própria e satisfação de carências necessárias à sobrevivência da FT), trata-se de um processo simples de formação de valor. Todavia, caso passe disso, ultrapasse esse ponto, objetiva-se um processo de valorização (produção de excedente que fica nas mãos de quem comprou a força de trabalho: o capitalista). A mais-valia (trabalho realizado e não pago – absoluta obtida por meio da simples ampliação da jornada de trabalho e a relativa também incrementada pela inserção de tecnologia) é resultado do prolongamento do trabalho, do excesso qualitativo de trabalho, da duração prolongada do mesmo processo de trabalho, para além do ponto necessário para que se pague a simples reprodução da força de trabalho. “O capital é trabalho morto, que apenas se reanima, à maneira dos vampiros, chupando trabalho vivo e que vive tanto mais trabalho vivo chupa. O tempo durante o qual o trabalhador trabalha é o tempo durante o qual o capitalista consome a força de trabalho que comprou. Se o trabalhador consome seu tempo disponível para si, então rouba o capitalista. [...]” (MARX, 1983, p. 189).
  4. A diferença fundamental entre a FT como mercadoria e as outras mercadorias é que a FT cria valor e um valor maior do que ela de fato custa para sua reprodução como FT. Sendo assim, “(...) a regulamentação da jornada de trabalho apresenta-se na história da produção capitalista como uma luta ao redor dos limites a jornada de trabalho – uma luta entre o capitalista coletivo, isto é, a classe dos capitalistas, e o trabalhador coletivo, ou a classe trabalhadora (...)”. (MARX, 1983, p. 190)
  5. Marx faz referência à tendência dos trabalhadores estenderem ao máximo o tempo de trabalho, trabalharem o tempo todo, “full times” (que trabalham o tempo todo), como tempo de trabalho personificado, como força de trabalho consumida e objetivada na mercadoria.
  6. Há, entretanto, um limite à jornada de trabalho, pois caso contrário ela não se reproduziria como tal, ou seja, não mais poderia ser comprada e vendida como força de trabalho (ainda que o capital exija do trabalho, sempre, seu limite máximo). Há, assim, limites físicos (vinculados às carências humanas: vestir-se, dormir, etc...) e sociais (outras carências e necessidades gerais estabelecidas culturalmente) para estabelecer a jornada de trabalho, pelo simples fato de que esses ingredientes são necessários para sua reprodução como força de trabalho.
  7. Ler trechos: p. 198, 199 e 200 (adoecimento pelo trabalho). Rodapé: p. 205.
  8. O sistema de rodízio (revezamento): “Apropriar-se de trabalho durante todas às 24 horas do dia é, por conseguinte, o impulso imanente da produção capitalista. Sendo, porém, fisicamente impossível sugar as mesmas forças de trabalho continuadamente dia e noite, necessita, pois, para superar esse obstáculo físico, do revezamento entre as forças de trabalho consumidas de dia e de noite, um revezamento que admite diferentes métodos, por exemplo, podendo ser ordenado de tal forma que parte do pessoal operário faça numa semana o trabalho diurno, na outra, o trabalho noturno, etc. (...)” (MARX, 1983, p. 206). 
  9. Assim sendo:

- o capital requisita o maior dispêndio possível da força de trabalho, rouba o tempo de descanso do trabalhador, seu tempo para fazer outras coisas, humanizar-se, fazer algo para si;

- o capital não se importa com o tempo de vida, de duração, da força de trabalho, mas com o máximo de força de trabalho que deverá fluir, objetivar-se na mercadoria;

- o capital encurta a duração da força de trabalho, saqueando suas energias, sua vitalidade, vampirizando-a.

“A produção capitalista, que é essencialmente produção de mais-valia, absorção de mais-trabalho, produz, portanto, com o prolongamento da jornada de trabalho não apenas a atrofia da força de trabalho, a qual é roubada de suas condições normais, morais e físicas de desenvolvimento e atividade. Ela produz a exaustão prematura e o aniquilamento da própria força de trabalho. Ela prolonga o tempo de produção do trabalhador num prazo determinado mediante o encurtamento de seu tempo de vida. (...)” (MARX, 1983, p. 212).

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