O FENOMENOLOGIA E MATERIALISMO HISTÓRICO
Por: Priscila Duarte Ferreira • 29/9/2022 • Trabalho acadêmico • 1.193 Palavras (5 Páginas) • 132 Visualizações
Visão geral
FENOMENOLOGIA E MATERIALISMO HISTÓRICO
Segundo Netto (2011), a fenomenologia começa defendendo o princípio sem abordar os conflitos de classes, nem as mudanças estruturais. Ela não introduz transformação na realidade, já que possui um viés conservador. Não aborda a historicidade dos fenômenos, tendo o mérito de ter questionado os conhecimentos do positivismo. A fenomenologia no Serviço Social é o aspecto filosófico da profissão.
O referido autor estudado defende que a presente perspectiva afirma-se apoiada em princípios cristãos, dando maior ênfase à subjetividade para que o homem em sua totalidade pudesse compreender as suas inter-relações na busca por transformação social. Funda-se também na relação dialogal (assistente social e cliente), visando à ajuda psicossocial e não mais ajustadora, dentro de uma atuação microssocial das relações do indivíduo. Essa vivência, na abertura do sujeito singular, traz a tendência do Serviço Social brasileiro em priorizar as concepções de pessoa como algo em transformação social. O sujeito que é analisado por Netto (2011) como uma forma de restauração e de reatualização do conservadorismo presente no pensamento inicial da profissão. Retomar a fenomenologia é tentar reatualizar, resgatar ferramentas, instrumentos de metodologia e teorias lá do conservadorismo para aplicar no Serviço
Social.
O objeto do Serviço Social dentro desta perspectiva é a situação existencial-problema, a lógica se localiza no subjetivo, o cliente em seu significado, buscando ir do ser para o ser mais. A nova proposta de intervenção social entre o profissional e o cliente, segundo Almeida, se assenta em três categorias conceituais: a pessoa, o diálogo e a transformação do ser. Segundo Netto (2011), a autora recupera elementos tradicionais da profissão: ênfase no indivíduo, a ação psicossocial e o viés psicologizante. No que tange à elaboração do Serviço Social, procura identificar desde o seu surgimento os modelos de diagnóstico social que melhor o caracteriza, e que são: o Modelo da Ação Social (1932-1945); o Modelo Funcional (1946-1960) e o
Modelo Síntese (1961-1975) (NETTO, 2011.)
Nesse sentido, a referida perspectiva aqui apresentada, não há nenhuma ruptura decisiva com as bases ideoculturais, ficando apenas como uma ênfase personalizada, que faz convergir no humanismo cristão abstrato. Até quase na década de 1980, o Serviço Social age com esse pensamento, vendo como uma nova proposta que conservará por largo tempo, procurando legitimá-lo.
O materialismo histórico é uma teoria que foi elaborada por Karl Marx (1818– 1883) e Friedrich Engels (1820–1895) no século XIX, posterior à Revolução Industrial como crítica contundente ao sistema capitalista industrial.
No período entre as décadas de 1960 e 1970, tornam-se visíveis os questionamentos profissionais acerca de sua prática empirista, burocratizada e paliativa. Tais ações profissionais tomavam a “questão social” e suas expressões através de uma análise psicossocial e na crença na ordem vigente capitalista enquanto uma condição factual ineliminável. Assim, a “questão social” não era analisada enquanto produto do antagonismo da relação entre capital e trabalho, como expressão das desigualdades e rebeldias sociais, porém, eram entendidas como disfunções sociais que necessitavam de correção. Essa crítica se tornou uma das maiores “inquisições do Serviço Social”, isto é, à profissão cabia modificar as suas práticas (IAMAMOTO, 2007). No decorrer da década de 1970, no Brasil, tem-se um posicionamento crítico dos profissionais que deu grande rumo ao Serviço Social em seu processo de renovação, assumindo seus questionamentos e críticas em face da dinâmica monopólica excludente. Esse período sinaliza uma revisão dos níveis teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo. 2 Este movimento ofereceu ao Serviço Social a possibilidade de um aprofundamento teórico-metodológico.
De acordo com Netto (2005), a renovação é entendida como o conjunto de características novas que o Serviço Social articulou “à base do rearranjo de suas tradições e da assunção do contributo de tendências do pensamento social contemporâneo, procurando investir-se como instituição de natureza profissional dotada de legitimação prática, através de respostas a demandas sociais e da sua sistematização, e de validação teórica, mediante a remissão às teorias e disciplinas sociais”. 3 evidenciava que não só as práticas profissionais careciam de transformação, mas também a formação profissional, pois teoria e prática não são dicotômicas.
Buscava-se tomar outras posturas objetivando uma identidade própria e, assim, um comprometimento com um projeto profissional vinculado às classes subalternas (YAZBEK, 2009)
É nesse momento que o Serviço Social se aproxima da tradição marxista, que adota como método o materialismo histórico e dialético apontado por Karl Marx, distanciando-se da tradição positivista, a qual objetivava a correção do sujeito, eliminando carências e disfunções a partir de um tratamento isolado para cada problemática. Num primeiro momento, a teoria social de Marx, que propõe compreender a realidade social a partir do materialismo histórico e dialético em prol da sua transformação, é compreendida de modo pouco aprofundado e quase nada crítico pelos/as assistentes sociais. Isso se dava em decorrência do trato enviesado dado à teoria social crítica de Marx em um contexto histórico profissional no qual se vivenciava a chamada reatualização do
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