Cinética
Tese: Cinética. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Polyalvess • 18/9/2014 • Tese • 1.146 Palavras (5 Páginas) • 182 Visualizações
Os textos científicos são o grande “pesadelo” dos alunos ingressantes no terceiro grau (talvez, para os que estão saindo também). Vários fatores são apontados para as dificuldades de compreensão desses textos, entre eles estão: a imaturidade dos alunos, o pouco hábito de leitura, a falta de contato com esse tipo de texto no primeiro e segundo graus. Esses problemas definitivamente comprometem a leitura de textos e é preciso que professores e também os alunos estejam dispostos a procurar estratégias pedagógicas interessantes que possam minimizá-los.
No entanto, segundo Halliday (1993), as peculiaridades linguísticas dos textos científicos, como a presença de “termos técnicos” e de determinadas construções gramaticais, podem ser o maior motivo para o pesadelo. Halliday argumenta que, nesse caso, a dificuldade, ao contrário das outras, não é causada pelo leitor imaturo ou inexperiente e sim pelo autor do texto, pois cabe a este a escolha dos termos e das construções a serem usados. Para Halliday e outros autores, essas características dos textos científicos têm o efeito de fazer com que os estudantes se sintam excluídos e alienados pelo “discurso da ciência”.
Lemke (1990), em seu estudo sobre educação científica, diz ainda que os alunos não entram em contato com a ciência na escola porque eles têm um sentimento de que “a ciência não é para eles, de que ela é muito impessoal e inumana para seus gostos, ou de que eles ‘não têm cabeça para a ciência’”. Lemke acredita que isso acontece por causa do modo como nós “dizemos” a ciência: “a linguagem da ciência na sala de aula estabelece uma oposição falsa e difusa entre o fato científico sem graça, impessoal, autoritário, objetivo; e o mundo pessoal, comum de incertezas, julgamentos, valores e interesses humanos.”(p.129-30).
O fato de essa forma de discurso conter muitos termos técnicos faz com que se pense que o vilão dos problemas encontrados pelos alunos ao tentarem ler textos científicos seja justamente a falta de familiaridade com esse “jargão”. Halliday (1989), em seu artigo “Some Grammatical Problems in Scientific English” (Alguns problemas gramaticais no inglês científico), cita dois pontos de vista em relação ao uso do jargão científico: o primeiro diz que a utilização desses termos é desnecessária e que o mesmo significado poderia ser expresso, utilizando-se de termos da língua cotidiana. Um ponto de vista oposto a esse é aquele em que a ciência é considerada totalmente dependente da linguagem científica. De acordo com essa visão, “aprender ciência” é o mesmo que aprender a “língua da ciência”; ou seja, “se a linguagem é difícil de entender, isso não é um fator adicional causado pelas palavras que são escolhidas, mas a dificuldade é inerente à natureza da própria ciência” (p. 70).
Contudo, autores como Halliday parecem acreditar que esses dois pontos de vista, tomados separadamente, não correspondem ao que realmente acontece no que diz respeito à produção científica. Para ele, não é possível expressar todo o conhecimento científico com palavras do senso comum, mas não se pode aceitar que o discurso científico “geralmente se torne mais difícil do que o necessário” (p. 70)- como fazem alguns autores.
Halliday & Martin (1993) afirmam que, como a presença do vocabulário específico é encarada como a grande vilã do problema, a preocupação dos autores e também dos professores em apresentar os termos técnicos mais sistematicamente e explicá-los é muito grande, diminuindo as dificuldades dos alunos em relação a eles.
Existe, contudo, um aspecto da “língua científica” que é tão importante quanto a terminologia técnica e à qual não tem sido dada a devida importância: é o que Halliday & Martin chamam de “gramática técnica”, isto é, o conjunto de determinadas construções gramaticais que se sobressaem, que são mais usadas nos textos científicos em detrimento a outras. Exemplos dessas construções seriam: orações passivas, nominalizações (transformação do verbo ou adjetivo em substantivo: agravar- agravamento, confuso- confusão), construções nominais extensas contendo termos preposicionados ou orações encaixadas, inversão na ordem direta das palavras nas frases.
Essa gramática técnica pode ser também uma fonte de dificuldades na leitura do texto científico já que tais construções assim como os termos técnicos não estão muito presentes na língua cotidiana. Além disso, como já foi mencionado, pouca atenção tem sido dada a esse aspecto tanto atualmente quanto no passado, o que faz com que professores, autores e alunos não percebam que isso possa ser um fator
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