Hipotireoidismo
Por: victor_vilins • 24/9/2015 • Monografia • 6.914 Palavras (28 Páginas) • 902 Visualizações
Hipotireoidismo em Cães
1 INTRODUÇÃO A tireoide é uma glândula endócrina presente em todos os vertebrados. Na embriogênese, sua origem é endodérmica e o desenvolvimento ocorre na porção cefálica do tubo digestório. A tireoide é composta por dois lobos situados abaixo da laringe, em cada lado da traqueia, unidos por uma porção estreita de tecido denominado istmo. Suas funções envolvem a concentração de iodo e a síntese, armazenamento e secreção dos hormônios tireoidianos (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2004). O hipotireoidismo ocorre quando a glândula tireoide deixa de produzir a quantidade necessária de hormônios tireoidianos que são necessários para a manutenção da normalidade das funções metabólicas do organismo (NELSON, 2002). O hipotireoidismo é uma doença multisistêmica comum em cães, principalmente os de meia idade e de raças puras. Não apresenta predisposição sexual, sendo incomum em gatos (CHASTAIN, 1997-1999). As raças mais predispostas são: Golden Retriever, Labrador, Dobermann, Cocker Spaniel, Poodle, Beagle, Chow Chow, Dachshund e Airedale Terrier (MARCO & LARSSON, 2006).
2 A TIREOIDE
2.1 ANATOMIA A tireoide está presente em todos os vertebrados, e dentre as glândulas de secreção interna, é a de maior importância. Nos carnívoros, mede entre dois e três centímetros de comprimento, meio a um centímetro de largura e entre 5 e 7 milímetros de espessura no entanto sua massa ideal ainda não está bem definida para as diversas espécies (GETTY, 1975; STABENFELDT, 1992). Nos cães (Figura 1), a tireoide se situa entre o primeiro e o terceiro anéis cartilaginosos traqueais (STABENFELDT, 1992), A glândula tireoide (Figura 2) é constituída por duas partes chamadas lobos que estão localizadas em cada lado da laringe. Os lobos, dependendo da espécie animal, podem ser conectados por uma banda estreita chamada istmo (COLVILLE & BASSERT, 2010).
2.2 HISTOLOGIA Microscopicamente, a glândula tireoide apresenta um aspecto diferenciado. Ela é composta de dezenas de milhares de pequenos folículos, onde os hormônios tireoidianos são produzidos. Cada folículo é constituído por uma camada unicelular de células glandulares cuboides, formando um glóbulo preenchido por substância precursora do hormônio tireoidiano (a matéria-prima para o hormônio tireoidiano). O hormônio tireoidiano precursor presente no glóbulo é chamado coloide (COLVILLE & BASSERT, 2010).
2.3 FISIOLOGIA A glândula tireoide é a única glândula endócrina que armazena grande quantidade de hormônio precursor para uso posterior. A glândula tireoide produz dois hormônios: hormônio tireoidiano, que auxilia na regulação do organismo principalmente da taxa metabólica, e a calcitonina, que auxilia na regulação do nível sanguíneo de cálcio (COLVILLE & BASSERT, 2010).
As anormalidades estruturais ou funcionais da glândula tireoide podem levar à produção deficiente de hormônios tireoidianos. Um esquema de classificação conveniente para o hipotireoidismo foi criado e baseia-se na localização do problema dentro do complexo glandular hipotálamo-hipófise-tireoide (Figura 3) (NELSON & COUTO, 2006). A função primordial da tireoide é controlar o metabolismo do organismo através da secreção de seus hormônios: a tiroxina (T4) e a triiodotironina (T3) (GETTY, 1975).
Para o processo de síntese dos hormônios tireoidianos são necessárias duas moléculas importantes: a tirosina e o iodo. A tirosina é parte de uma grande molécula chamada de tireoglobulina, que é formada dentro da célula folicular e secretada para dentro do lúmen folicular. Já o iodo, ingerido na alimentação, é convertido em iodeto no trato gastrintestinal, absorvido pela circulação e transportado até a tireoide, onde é retido pelas células foliculares por mecanismos de transporte ativo da membrana plasmática basal (GREGO & STABENFELDT, 2004).
2.4 HORMÔNIO TIREOIDIANO A glândula tireoide produz os hormônios tiroxina e triiodotironina, ambos intimamente relacionados. A liberação deles ocorre em resposta ao hormônio liberador de tireotropina (TRH) da adeno-hipófise, e um aumento na concentração plasmática de hormônios tireoidianos funcionam como uma retroalimentação negativa que suprime a liberação de TRH. Os hormônios da tireoide são caracterizados por conterem iodo; a tiroxina contém quatro átomos de iodo e a triiodotironina, três. O efeito principal desses hormônios em vertebrados superiores é estimular o metabolismo oxidativo; uma alta concentração de hormônios aumenta a taxa metabólica e uma redução abaixo da concentração normal a reduz, sendo acompanhada por sintomas de outras deficiências (NIELSEN, K. S., 2002). O hormônio tireoidiano é produzido quando o TSH, advindo da hipófise anterior, atinge a glândula tireoide. Efetivamente o hormônio tireoidiano pode ser classificado como dois hormônios: o T3 (tri-iodotironina) e o T4 (tetraiodotironina ou tiroxina). Eles são nomeados de acordo com a quantidade de átomos de iodo contidos na molécula hormonal; assim, o T3 contém três átomos de iodo em sua molécula, enquanto o T4 apresenta quatro. Apesar de a glândula tireoide produzir mais T4 do que T3, o T3 é considerado o principal hormônio tireoidiano, uma vez que o T4 deve ser convertido a T3, a fim de produzir efeito metabólico nas células-alvo (COLVILLE & BASSERT, 2010). Os hormônios metabolicamente ativos são as iodotironinas T3 e T$. A proteólise da tireoglobulina libera quantidades relativamente grandes de T4, mas apenas quantidades pequenas de T3. É também secretado pela glândula, pequenas quantidades de rT3, uma forma inativa. A meia vida de T4 é de 7 dias e da T3 de 2 dias (MELLO, F. P. S., 2004) As principais funções dos hormônios tireoidianos são: aumento do consumo de oxigênio e, portanto, da taxa metabólica; aumento da excreção de colesterol; aumento da absorção de glicose, potencializando a ação da insulina; aumento da força de contração do coração e da frequência cardíaca, gerando aumento do volume sistólico, e aumento do peristaltismo; manutenção do equilíbrio proteico, estímulo da lipólise e da secreção do hormônio de crescimento (GUYTON, et al, 1999).
Esses hormônios possuem inúmeros efeitos metabólicos gerais, dentre eles: crescimento/desenvolvimento de dentes, pele e pêlos, sistema reprodutor, sistema nervoso e interação com catecolaminas. Além disso, considera-se que esses hormônios aumentam o consumo de oxigênio e consequentemente a produção de calor (CUNNINGHAM, 2008). A deficiência destes hormônios afeta múltiplos processos metabólicos de todo sistema corporal. Os sinais clínicos são variáveis e muitas vezes inespecíficos (INACARATO, 2007).
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