RESUMO : O CINISMO DA RECICLAGEM

O CINISMO DA RECICLAGEM

POMIER, Philippe. O cinismo da reciclagem: o significado ideológico da reciclagem da lata de alumínio e suas implicações para a educação ambiental. 5. Ed. Cortez Editora. 36 p.

O texto “O cinismo da reciclagem: o significado ideológico da reciclagem da lata de alumínio e suas implicações para a educação ambiental” apresenta uma análise de duas matrizes discursivas, o discurso ecológico oficial e o discurso ecológico alternativo, e, por meio destas, faz uma crítica à reciclagem e ao modo como esta é utilizada na sociedade.

O discurso ecológico oficial segue uma ideologia hegemônica e procura manter os valores culturais já existentes na sociedade. Para este, o lixo é um problema de ordem técnica e defende a ideia de que o problema não é o consumismo em si, mas sim o consumismo insustentável, sendo assim, defende o consumo sustentável e a reciclagem. Já o discurso ecológico alternativo é o inverso do oficial, sendo assim, segue uma ideologia contra-hegemônica e dissemina ideais que procuram transformar os valores culturais. Para este, o problema com o lixo é de ordem cultural e ocorre devido ao consumismo, assim, apoia a ideia de que a prioridade é a redução do consumo e que apenas depois a sociedade deve pensar sobre reutilização e reciclagem, vulgo a pedagogia dos 3Rs, em que foi reduzida à pedagogia da reciclagem pelo discurso ecológico oficial.

O texto faz a sua crítica baseado em fatos antigos e atuais da sociedade. Como citado, antigamente, os produtos eram produzidos para durar, mas agora, devido à grande demanda, os produtos são produzidos para durar cada vez menos gerando muito mais lixo e muito mais capital, assim, fortalecendo o capitalismo com a falsa sensação de bem-estar.

Para resolver a situação do lixo é utilizado a reciclagem, mas, para o discurso ecológico alternativo, isto é apenas marketing do discurso ecológico oficial já que por poderem reciclar, as pessoas acabam consumindo muito mais por estarem com a consciência limpa de utilizarem produtos descartáveis. Mas como a sociedade não percebe que só está produzindo muito mais lixo? Como citado no texto, há uma estratégia ideológica do discurso oficial denominada conservadorismo dinâmico que, falsamente, aceita o discurso alternativo fazendo com que este não se torne ameaçador, ou seja, que este não provoque a redução do consumo.

Enfim, o foco principal do texto é a reciclagem da lata de alumínio que se iniciou em 1991. Para complementar esse programa, em 1993, foi criado o Projeto Escola, que consiste na troca de latas de alumínio por equipamentos necessários no funcionamento da escola. A partir disto, o Brasil alcançou um índice de 73% de latas recicladas, mas o que não se esperava é que, mesmo com um índice alto, isto não se representa expressivamente sendo insignificante já que a extração de bauxita (matéria prima do alumínio) não parou, mas apenas foi muito pouco poupada.

E, a partir deste ponto, entra a problematização no sistema de reciclagem da lata de alumínio, pois se esta é insignificante, por que continuar com esse método?

Não há motivos para continuar, porque mesmo com os pontos positivos, como a geração de emprego, a praticidade para reciclar e a diminuição dos impactos ambientais causados pela extração de bauxita, os pontos negativos conseguem superar todas as expectativas. Apesar de gerar emprego, o que os catadores de baixa renda recebem não é passível de comparação com o que a empresa está lucrando e além disso, a própria empresa, juntamente com o Projeto Escola e a ajuda dos consumidores, está acabando com estes empregos já que as Escolas