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A Quimioterapia

Por:   •  28/9/2017  •  Trabalho acadêmico  •  2.893 Palavras (12 Páginas)  •  520 Visualizações

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  1. INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo apresentar as situações de trabalho que atenuam ou agravam a exposição aos riscos conhecidos no que se refere à manipulação de quimioterápicos antineoplásicos no ambiente hospitalar. Além disso, apresenta um breve resumo da dissertação de Priscilla Germano Maia, que tratou do mesmo tema. Maia realizou um estudo bibliográfico e observacional, além de entrevistas com a equipe de enfermagem, no ano de 2009 no setor de oncologia de uma instituição hospitalar pública federal de saúde, localizada no estado do Rio de Janeiro.

A atividade de administração de quimioterápicos antineoplásicos foi então analisada objetivando abordar as relações entre as situações de trabalho e os riscos relacionados à exposição aos referidos fármacos.

  1. SOBRE QUIMIOTERÁPICOS

Apesar de existirem evidências da utilização de drogas quimioterápicas sob a forma de sais metálicos, como arsênico, cobre e chumbo, em civilizações antigas do Egito e da Grécia, os primeiros registros de tratamento quimioterápico efetivo surgiram somente no final do século XIX, com a descoberta do uso de arsenito de potássio por Lissauer, em 1865, e da toxina de Coley (uma combinação de produtos bacterianos) em 1890.

Tem-se que o primeiro quimioterápico antineoplásico foi desenvolvido a partir do gás mostarda, usado nas duas Guerras Mundiais como arma química. Após a exposição de soldados a este agente, observou-se que eles desenvolveram hipoplasia medular e linfoide. Este fato despertou a atenção de um grupo de farmacologistas clínicos a serviço do Pentágono, que buscando resultados terapêuticos, administrou a droga em pacientes portadores de linfoma de Hodgkin e leucemia crônica, o que levou, surpreendentemente, a uma regressão tumoral significativa, porém de curta duração.

A quimioterapia consiste, portanto, no emprego de substâncias químicas, isoladas ou em combinação, com o objetivo de tratar as neoplasias. Atuam em nível celular interferindo no seu processo de crescimento e divisão. A maioria dos antineoplásicos não possui especificidade, ou seja, não destrói seletiva e exclusivamente as células tumorais. Em geral são tóxicos aos tecidos de rápida proliferação.

Atualmente, quimioterápicos mais ativos e menos tóxicos encontram-se disponíveis para uso na prática clínica. Com o aumento de doenças crônico-degenerativas na população, foram desenvolvidos estudos que possibilitaram a formulação de medicamentos, sendo a quimioterapia uma modalidade de tratamento sistêmico da doença - contrastando com a cirurgia e a radioterapia, que são mais antigas e atuam localmente. A quimioterapia antineoplásica é, portanto, considerada uma das melhores alternativas para o controle de tumores.

 Quimioterápicos são considerados, entretanto, potencialmente mutagênicos, carcinogênicos, teratogênicos, fetotóxicos e esterilizantes. É importante ressaltar, no entanto, que nem todos são substâncias dotadas de ação carcinogênica. Enquanto quimioterápicos como a Ciclofosfamida e Melfalano são considerados pela International Agency for Research on Cancer - IARC como carcinógenos para o ser humano, a Vincristina e a 5-Fluoracila, por exemplo, são classificados pela mesma organização como substâncias sem risco carcinogênico.

  1. SOBRE A EXPOSIÇÃO

Inúmeras pesquisas vêm sendo desenvolvidas com o objetivo de ampliar o potencial de ação e reduzir a toxicidade dessas drogas. Apesar de seu benefício para pacientes com neoplasias e de serem baseadas em protocolos internacionais testados, tais substâncias ainda oferecem riscos de exposição ocupacional aos trabalhadores que manipulam esses fármacos, os quais podem ocorrer nas fases de preparo, administração e descarte dos quimioterápicos.

A contaminação por quimioterapia pode dar-se através da exposição direta (através da pele, membranas, mucosas e inalação) ou indireta (por meio de fluidos corporais e excretas de pacientes que receberam a medicação nas últimas 72 horas). Os efeitos decorrentes da exposição aos quimioterápicos podem ser imediatos (dermatite, hiperpigmentação cutânea) ou tardios (alopecia parcial, anormalidades cromossômicas e aumento do risco de desenvolver câncer).

Durante o preparo, os riscos de exposição podem acontecer durante a abertura de ampolas, na reconstituição de drogas, na retirada de solução do frasco-ampola e na retirada de ar da seringa que contém o medicamento. Já na administração, a retirada de ar da seringa que contém antineoplásicos, a injeção do quimioterápico em push e a conexão e desconexão de equipos, seringas e tampas se constituem um risco. Já em relação ao descarte, o risco está presente quando os trabalhadores não adotam as medidas de biossegurança durante o manuseio de fluidos corpóreos (urina, fezes, vômito e sangue), desprezo de materiais que entraram em contato com fluidos corpóreos e manipulação de roupas contaminadas por estes fluidos, bem como mediante o acondicionamento incorreto de materiais contaminados (frascos, ampolas, equipos, bags de soros, seringas, aventais e luvas).

A exposição dos trabalhadores encarregados pelo preparo e pela administração dos quimioterápicos despertou atenção no final da década de 70. Os primeiros efeitos advindos do contato com essas substâncias eram exclusivamente do tipo agudo, resultantes do contato pela via cutânea ou por inalação, em casos de acidentes ou erros na manipulação. O interesse em pesquisar os efeitos genotóxicos de algumas substâncias nos trabalhadores aumentou na década de 1980, quando o índice de mortalidade por tumores em indivíduos que trabalhavam em laboratórios aumentou consideravelmente.

Os efeitos carcinogênicos de quimioterápicos são difíceis de demonstrar – particularmente no homem -  uma vez que os cânceres, na maioria dos casos se manifestam clinicamente a partir dos 20 a 30 anos após a primeira exposição química. Além disso, os múltiplos contatos com diferentes substâncias cancerígenas em determinados locais de trabalho, além da existência de outros fatores de risco para o desenvolvimento de neoplasias (como etilismo, tabagismo, sedentarismo e hábitos alimentares) contribuem para a dificuldade em definir os possíveis agentes responsáveis pelo efeito carcinogênico que poderá se manifestar décadas mais tarde.

Apesar disso, existem diversos estudos que comprovam que algumas drogas antineoplásicas em determinados níveis de exposição ocupacional podem ocasionar inúmeros danos à saúde dos trabalhadores. Fuchs desenvolveu um estudo na Alemanha em 1995, com 91 enfermeiras provenientes de clínicas variadas de quatro hospitais, que foram submetidas a exames de sangue para detecção de alterações cromossômicas. Dez enfermeiras que manipulavam quimioterapia sem medidas de proteção (capela, luvas ou mesmo máscara) apresentaram alterações cromossômicas 50% maiores que o grupo-controle.

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