O CUIDADO DOMICILIAR A INDIVÍDUO COM TETRAPLEGIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Por: Thaiiná Lopes • 6/4/2017 • Abstract • 4.804 Palavras (20 Páginas) • 573 Visualizações
DOI: 10.4025/cienccuidsaude.v11i1.18879
O CUIDADO DOMICILIAR A INDIVÍDUO COM TETRAPLEGIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Joisy Aparecida Marchi*
Renata Hermógenes da Silva**
Lilian Denise Mai***
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RESUMO
Lesões medulares, geralmente resultantes de acidentes automobilísticos, podem levar à paraplegia ou à tetraplegia, constituindo-se com um sério problema de saúde pública, com tratamentos prolongados e múltiplas incapacitações e complicações a médio e longo prazos. O objetivo desse artigo é relatar a experiência do cuidado familiar em uma situação de tetraplegia. Trata-se de um relato de experiência cujas fontes foram entrevistas com dois familiares cuidadores e as lembranças vividas por uma das autoras do trabalho. Os critérios de ética em pesquisa foram atendidos. A vivência desvelou profundas transformações e adaptações familiares no cuidado a um tio tetraplégico, com a necessidade de inovações tecnológicas e cuidados diversos, além de complicações decorrentes da imobilização e do não funcionamento de alguns órgãos. Conclui-se que a família, nestes casos, representa a extensão e a corporeidade de alguém incapaz de mover-se fisicamente, mas capaz de mover pessoas e espaços ao seu redor, e que a enfermagem pode e deve atuar com conhecimentos, habilidades e sentimentos ao assistir o usuário e sua família em situações como essas.
Palavras-chave: Quadriplegia. Relações Familiares. Cuidados de Enfermagem.
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diferentes graus de dependência de outras
INTRODUÇÃO A frequência de doenças crônicodegenerativas, incapacitantes e de maior complexidade configuram-se como uma realidade no mundo atual. A urbanização crescente tem se mostrado um fator significativo para o aumento desses números, uma vez que contribui para o acirramento da violência urbana e a ocorrência de acidentes de trânsito(1). Tais eventos incidem diretamente sobre as taxas de mortalidade por causas externas e na ocorrência de lesões traumáticas, em especial, as raquimedulares, que podem resultar em paraplegia ou tetraplegia(1), quadros com diversas e profundas implicações para o indivíduo, a família e a sociedade(2), Pacientes vítimas dessas lesões experienciam mudanças nos âmbitos emocional, ocupacional, relacional, valorativo e de autopercepção, suscitando neles vários sentimentos diante dessa facticidade, como raiva, medo, ansiedade, desespero, ambivalência e esperança(3). Não obstante, os sujeitos apresentam importantes alterações motoras e sensitivas, desencadeando | pessoas para realizar as atividades diárias da vida(1). As demandas de cuidado advindas da assistência aos indivíduos portadores de tetraplegia tornam-se continuas, merecendo uma abordagem integral e holística por parte dos profissionais que a desempenham, a exemplo da enfermagem. Além do cuidado direto em procedimentos técnicos e no auxílio às atividades rotineiras, os momentos de escuta, de criação de vínculos e valorização das subjetividades, das relações afetivas e da espiritualidade tornam-se essenciais à manutenção do sujeito e de sua qualidade de vida(4). Compete ao enfermeiro criar espaços de interação entre familiares e cuidadores com uma metodologia que favoreça a melhoria da capacidade funcional do indivíduo tetraplégico, tornando-o corresponsável pelo cuidado(5). O objetivo desta abordagem na assistência é diminuir os sinais, sintomas e complicações decorrentes dessa condição que se manifestam com o decorrer do tempo. Considerando que lesões medulares constituem um sério problema de saúde pública, |
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* Acadêmica de Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá (UEM). E-mail: joisymarchi@hotmail.com
** Acadêmica de Enfermagem da UEM. Bolsista do grupo PET-Enfermagem (SESu/MEC), Maringá-PR Brasil. E-mail: rehermogenes@hotmail.com
*** Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem da UEM. Tutora do grupo PET-Enfermagem (SESu/MEC). E-mail: ldmai@uem.br
Cienc Cuid Saude 2012 Jan/Mar; 11(1):202-209
demandam tratamento prolongado, geram complicações a longo prazo e geralmente são incapacitantes, além dos profissionais, principalmente a família desempenha um papel imprescindível nesse cuidado. Muitas vezes verifica-se a necessidade de escolher uma pessoa para acompanhar o familiar acometido mais frequentemente e responsabilizar-se pelos cuidados no domicílio, emergindo, então, a figura do cuidador, comumente um integrante do próprio seio familiar(5).
Neste contexto, é de perguntar de que forma se operacionalizam os conceitos de cuidado no cotidiano de uma família de indivíduos com tetraplegia e quais as possíveis demandas, dificuldades, angústias ou necessidades do(s) cuidador(es) no desempenho de suas ações. Tendo em mente tais questionamentos, aflorou a motivação para abordar o tema do cuidado ao indivíduo com tetraplegia, porém numa perspectiva pouco usual em textos científicos, compartilhando uma experiência pessoal e familiar de cuidado em uma linguagem narrada na primeira pessoa do singular. Enquanto um dos autores do texto, faço parte dessa experiência de cuidado em relação a um tio, cujo nome era S.M., vítima de um acidente automobilístico há 17 anos que o deixou tetraplégico, com grandes repercussões para sua família nuclear e ampliada durante os onze anos e meio de vida após o acidente.
Destarte, o objetivo deste artigo é relatar a experiência do cuidado familiar em uma situação de tetraplegia. Além de representar uma experiência pessoal, o estudo justifica-se pelo fato de todos os autores encontrarem-se ligados a um curso de graduação em Enfermagem, profissão cujo eixo central é o cuidado e que, em casos como este, pode atuar diretamente na assistência tanto institucional quanto domiciliar. Espero que esse compartilhamento possa contribuir para a sensibilização e qualificação profissional, dadas as características das ações de cuidado em situações dessa natureza no âmbito familiar.
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