PREVALÊNCIA DE PARASITOSES INTESTINAIS NO MUNICÍPIO DE GOVERNADOR VALADARES, MG.
Por: Mariana Ramos • 23/3/2016 • Relatório de pesquisa • 2.555 Palavras (11 Páginas) • 579 Visualizações
PREVALÊNCIA DE PARASITOSES INTESTINAIS NO MUNICÍPIO DE GOVERNADOR VALADARES, MG.
Ramos, MCA, Assis, GFM, Moreira, MR
Universidade Federal de Juiz de Fora/Campus Governador Valadares
Justificativa/Caracterização do problema
As enteroparasitoses são problemas de saúde pública grave que ainda persistem nos países em desenvolvimento e estão associadas com elevadas taxas de morbidade e mortalidade (BELOTTO et al., 2011; GELAW et al., 2013; GIL et al., 2013). Estima-se que nestes países aproximadamente um terço da população viva em condições ambientais que facilitam a disseminação de infecções parasitárias (SOLDAN et al., 2006; BELOTTO et al., 2011). No mundo, as infecções por protozoários e helmintos intestinais afetam cerca de 3,5 bilhões de pessoas, promovendo a doença em aproximadamente 450 milhões (BELOTTO et al.m 2011; MANGANELLI et al., 2012). O problema envolvendo as parasitoses intestinais no Brasil é mais sério do que se apresenta, uma vez que há falta de planejamento e investimento por parte do governo na terapêutica das doenças, nas medidas paliativas, preventivas e nas políticas de educação sanitária (ABRAHAM, TASHIMA e SILVA, 2007; DAMAZIO et al., 2013). Além disso, a ampla variedade das características sócio-econômicas, climáticas e geográficas, tem sido apontada como fator crítico para o perfil dos agentes etiológicos na diarreia, modelando assim a frequência destes diferentes enteropatógenos (SCHNACK et al., 2003; BELOTTO et al., 2011). A erradicação desses parasitos requer melhoria das condições de saneamento básico e na educação sanitária, além das mudanças em certos hábitos culturais (ABRAHAM, TASHIMA e SILVA, 2007).
Historicamente, as enteroparasitoses datam de milhares de anos. Estudos de material arqueológico mostraram a presença de parasitos na África, Europa, Ásia, Oceania e nas Américas. Especificamente nas Américas, achados em fezes dessecadas ou mineralizadas indentificaram a presença de Ascaris lumbricoides, Hymenolepis nana, Trichuris trichiura, Enterobius vermicularis, Entamoeba spp., e Giardia lamblia (DAMAZIO et al., 2013).
As crianças são um grupo de alto risco para infecções por parasitos intestinais, pois podem entrar em contato com estes desde os primeiros meses de vida (COULTER, 2002; GURGEL et al., 2005; BELOTTO et al., 2011). As enteroparasitoses podem causar relevantes agravos à saúde na população infantil, como desnutrição, em função da absorção prejudicada de nutrientes, anemia, em função de perdas crônicas de sangue espoliado por alguns parasitos, obstrução intestinal e diarreia, comprometendo o desenvolvimento físico e cognitivo e, consequentemente, o desempenho nas atividades escolares (BELOTTO et al., 2011; MANGANELLI et al., 2013; GELAW et al., 2013). No Brasil, tem sido observada uma grande variação tanto na frequência de parasitismo intestinal na população infantil, como nos agentes responsáveis, podendo a frequência alcançar índices de quase 80% em algumas regiões. A detecção de enteroparasitos em escolares de uma periferia no Estado do Maranhão mostrou que Ascaris lumbricoides foi o parasito de maior prevalência (40%) (SILVA-SOUZA et al., 2008), fato também observado em crianças da zona rural do município de Coari, Estado do Amazonas, Região Norte do Brasil (67,5%) (SILVA et al., 2009). No entanto, no município de Rio Verde, no Estado de Goiás, um estudo semelhante encontrou o protozoário Giardia lamblia (59%) como o mais prevalente (ZAIDEN, 2006). Já no município de Criciúma, Estado de Santa Catarina, verificou-se que Cryptosporidium (85,1%) foi o protozoário mais prevalente, seguido da Entamoeba histolytica (56,4%) e Giardia lamblia (4,3%) (SCHNACK et al., 2003). No muncípio de Mirassol, Estado de São Paulo, 30,3% dos alunos de uma escola pública apresentaram-se parasitados, sendo Giardia lamblia o parasito mais frequente, seguido por Ascaris lumbricoides (3,55%) e Entamoeba histolytica (0,64%) (BELOTTO et al., 2011). Adicionalmente, dois outros estudos investigaram a presença de Entamoeba histolytica (POVOA et al., 2000) e Giardia lamblia (MACHADO et al., 2001) em criança de uma creche na periferia da cidade de Belém, Estado do Pará, e detectaram a presença destes parasitos em 21,8% e 26,9% das amostras, respectivamente.
A transmissão das parasitoses intestinais ocorre, na maioria dos casos, por via passiva oral, pela ingestão de água ou alimentos contaminados (BELOTTO et al., 2011). Questões comportamentais, ambientais, biológicas e sócio-econômicas, como a infraestrutura das cidades, nível de emprego, renda e educação, regem as infecções parasitárias (GELAW et al., 2013; TAHA, SOLIMAN e BANJAR, 2013). A maior prevalência ocorre nos segmentos mais pobres da população e está vinculada a áreas que apresentam condições higiênico-sanitárias precárias, associadas à falta de tratamento adequado de água e esgoto (GELAW et al., 2013; TAHA, SOLIMAN e BANJAR, 2013). Esses fatores facilitam a disseminação de ovos, cistos e larvas, sendo a transmissão, também, facilitada pelo aumento do contato pessoa a pessoa, propiciado pelos ambientes fechados, como creches, escolas, asilos, presídios. Nesses ambientes, o grande número de indivíduos presentes não permite, muitas vezes, obedecer às normas de higiene e assim, contribuem para taxas elevadas de enteroparasitismo (CARDOSO, 1995).
As manifestações clínicas podem ou não estar presentes, variando de ausência de sintomas a estado subagudo ou crônico. Os sintomas são muitas vezes vagos ou inespecíficos, o que dificulta o diagnóstico clínico, salvo exceções de prurido anal em casos de enterobíase (oxiuríase), quando há eliminações de vermes na ascaridíase, ou quando evoluem para suas complicações, com manifestações clínicas mais específicas. Podem manifestar-se por diarreia (aquosa, mucoide, aguda, persistente, intermitente), dor abdominal (desconforto vago a cólicas), dispepsia, anorexia, astenia, emagrecimento e distenção abdominal (ROMERO-CABELLO et al., 1995; MILLER et al., 2003; YERELI et al., 2004). Alguns parasitos podem, ainda, ser extremamente letais, quando se desenvolvem em condições críticas para o indivíduo, como em imunocomprometidos, mesmo aqueles considerados de fácil tratamento (DAMAZIO et al., 2013).
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