Resenha: por um fio
Por: Anna A. Macau • 10/12/2015 • Resenha • 427 Palavras (2 Páginas) • 929 Visualizações
RESENHA CRÍTICA
Em “Por um Fio” de Dráuzio Varella, o autor relata vários momentos vivenciados, não só durante sua carreira médica, mas também situações familiares que lhe marcaram no aspecto da dualidade vida e morte. De maneira clara e sem muitos rodeios, ele cita os momentos que mais lhe marcaram, evidenciando suas peculiaridades e revelando suas interpretações acerca das mudanças do comportamento humano na proximidade do, nas palavras do autor, “evento único”, que é a morte.
O autor inicia sua obra fazendo uma introspecção e mostrando aos leitores seu primeiro contato com o evento único: a morte de sua mãe. Neste momento, já é possível perceber o aspecto observacional do livro. Ao contrário do comum melodramatismo quase sempre visto nos livros de publicações recentes que envolvem este tema (tendendo para uma corrente neo- romântica), Dráuzio não evidencia seu medos e angústias em tal momento, ele relata sua observação inicial quanto ao comportamento humano, sendo seu primeiro alvo, o comportamento de sua avó.
O livro torna-se cada vez mais envolvente com evolução acadêmica do autor. Sempre enfrentando situações diferentes e por vezes mais complexas que as anteriores, ele aborda questões do cotidiano médico como a eutanásia, citadas algumas vezes como desejo de algum dos seus pacientes, mas sempre mantendo a perspicácia do benefício da dúvida. A análise não se restringe apenas ao seu papel como médico e o comportamento daquele que se encontra em foco. Em vários de seus relatos mostra os interesses conflitantes e por vezes revoltantes para o leitor dos familiares do doente. Cita situações em que põe em dúvida as palavras e os verdadeiros desejos de filhos, parceiros ou pais dos enfermos. Uma parte emocionante do livro é quando cita sua passagem na pediatria e resalta, em singelas palavras, a resignação de uma mãe quando da perda de seu filho.
Por fim, um aspecto também abordado no livro é o fato de observar a sensibilidade do autor como médico e como às vezes essa sensibilidade se esvai. Em um dos seus relatos, cita uma situação de ainda dos seus tempos de interno, do apreço que tivera por um médico que, incansavelmente, fizera massagem cardíaca até não ter mais esperanças do retorno daquele falecido. Um momento que causa reflexão sobre até que ponto vai a sensibilidade é quando o autor relata suas experiências no presídio em que trabalhou, onde a primeira imagem do primeiro assassinato ainda lhe choca e ainda esta gravada em sua mente, entretanto, os muitos outros casos semelhantes, simplesmente foram esquecidos e a frequência ensinou-lhe a conter seus impulsos orgânicos daquela primeira vez.
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