BALANÇO ENERGÉTICO: UM PRINCÍPIO QUESTIONÁVEL NO CONTROLE DO PESO
Por: Felipe Guilardi • 5/2/2023 • Artigo • 3.841 Palavras (16 Páginas) • 97 Visualizações
- BALANÇO ENERGÉTICO:
- UM PRINCÍPIO QUESTIONÁVEL NO CONTROLE DO PESO
Resumo: É a apresentação concisa do texto, com destaque para seus aspectos mais relevantes. Elabore-o contendo entre 100 e 300 palavras (Times New Roman, corpo 12, parágrafo único e simples, justificado), seguido de três (03) a cinco (05) palavras-chave.
1. INTRODUÇÃO
A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma: a obesidade é um dos mais graves problemas de saúde que temos para enfrentar. Em 2025, a estimativa é de que 2,3 bilhões de adultos ao redor do mundo estejam acima do peso, sendo 700 milhões de indivíduos com obesidade. No Brasil, essa doença crônica aumentou 72% nos últimos treze anos, saindo de 11,8% em 2006 para 20,3% em 2019 (MAPA DA OBESIDADE, abeso.org.br).
No decorrer das últimas décadas, muito tem se debatido sobre as formas mais adequadas para contornar este problema, embora as tentativas tenham obtido resultados insatisfatórios e os números venham se mostrando cada vez mais preocupantes. Dentre as mais variadas abordagens no combate ao sobrepeso e à obesidade, é possível percebermos um ponto em comum: a consideração do balanço energético como pressuposto básico, como condição sine qua non.
Neste artigo de revisão bibliográfica, a intenção é contribuir com a temática proposta através da análise da literatura acerca da questão, apresentando um panorama histórico sobre a as recomendações dietéticas concernentes ao tema e revisitando conceitos e ideias que vão desde a termodinâmica até a metabologia, servindo como referência para reflexões futuras sobre como nortear as práticas nutricionais no combate ao sobrepeso e à obesidade.
2. DESENVOLVIMENTO
No dia 1 de março de 2013, em seu programa de rádio, Michael Bloomberg, prefeito de Nova Iorque de 2002 a 2013, afirmou: “Se você quer perder peso, não coma. Isso não é uma questão de medicina, mas de termodinâmica. Se você consumir mais (energia) do que gasta, você armazena.” Proferiu, ainda: “Se você comer menos que 2.000kcal diárias, você perderá peso; mas se você comer mais do que 2.000kcal ao dia, você ganhará peso.”
Os indivíduos engordam porque comem demais e não se movimentam o bastante. Carboidratos são bons, devemos basear a nossa dieta neles, principalmente os integrais e complexos. Basta comer menos e exercitar-se mais, além de priorizar legumes, verduras e frutas. Controlar as calorias é fundamental, pois não haverá emagrecimento se não houver déficit calórico. Devemos comer carne moderadamente, dando preferência às carnes magras, em detrimento das carnes gordas ou das de aves com pele.
É possível imaginarmos que afirmações como as feitas por Michael Bloomberg, bem como as recomendações sugeridas acima, cheguem até nós através de profissionais da saúde, meios de comunicação e diretrizes oficiais governamentais. Premissas como estas tornaram-se senso comum e parecem fazer sentido até para leigos no assunto, por serem repetidas à exaustão pelos especialistas. Nutricionistas, pesquisadores, médicos e órgãos de saúde não obtém êxito quando tentam ofertar informação inequívoca e adequada, visto que os números nos mostram uma realidade cada vez pior no que tange à obesidade e ao diabetes. Órgãos de saúde oficiais estabeleceram, de maneira bastante precipitada, recomendações que eram meras teorias/hipóteses, sem terem sido de fato devidamente testadas, inferindo, claramente, em viés de confirmação (tendência de interpretar e pesquisar para apoiar as próprias ideias ou crenças), não obedecendo ao Princípio da Falseabilidade ou da Refutabilidade. Diretrizes, guias, hábitos e pirâmides alimentares – todos chancelados e com o aval dos mais diversos, relevantes e conceituados órgãos – foram divulgados a toda população justamente ao longo do período de maior explosão nos índices de obesidade no planeta. Aliado a isto, como um agravante, o ritmo da produção acadêmica (artigos científicos, teses, dissertações, monografias e periódicos) na área da saúde é intenso, sendo humanamente impossível acompanhá-lo; prejudicando assim a distinção do que é fato (intervenções replicáveis, como ensaios randomizados bem elaborados e bem conduzidos) e do que é associação malfeita (por analogia ou má interpretação) ou raciocínio expandido por aproximação. Instaura-se, assim, um ambiente propício para que as mais diversas e infundadas sugestões, hipóteses e orientações ganhem voz.
As atuais estratégias no combate ao sobrepeso e à obesidade parecem ter sido fortemente influenciadas pelo Dietary Goals for the United States1, publicado em 14 de janeiro de 1977. Serviu de base para a famosa pirâmide alimentar, criada em 1992 pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (época esta que demarca, justamente, o início da epidemia de obesidade 17. O manual estadunidense propunha, fundamentalmente, a substituição das gorduras pelos carboidratos, de modo a diminuir a ingestão energética/calórica. Nas estratégias adotadas desde então, é possível verificar um forte apelo de ordem matemática e termodinâmica, como o disposto nas diretrizes propostas pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica2 (ABESO). Fica evidenciado, sobretudo, o caráter preditivo, estimativo e indireto (portanto impreciso) das recomendações.
“Apesar de não haver controvérsia sobre o fato de que balanço energético negativo causado por redução na ingestão calórica resulte em diminuição da massa corporal, há muita divergência sobre a melhor maneira de promover essa redução de consumo de calorias”.
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