A Biotecnologia no seculo XXI
Por: jair34 • 11/10/2015 • Trabalho acadêmico • 8.490 Palavras (34 Páginas) • 569 Visualizações
Biotecnologia no seculo xxi
Resumo: A biotecnologia inseriu-se no dia-a-dia do brasileiro há alguns anos, seja pelo uso do que ela pode oferecer como produto, seja por notícias e controvérsias geradas por suas inovações. É verdade que a temática chama atenção da sociedade. Com o surgimento de cursos de graduação, pós-médios e uma grande possibilidade de trabalho neste ramo, alunos do ensino médio se interessam cada vez mais pela biotecnologia. Mas será que os professores estão se adequando a este quadro? O presente artigo objetivou conhecer as percepções dos professores de ensino médio acerca da biotecnologia através de um estudo exploratório realizado em quatro escolas em Paty do Alferes e Miguel Pereira, dois municípios do estado do Rio de Janeiro. Foi possível a partir daí, ter um panorama do conhecimento dos professores sobre o assunto, abordagem em sala de aula e importância dada ao tema. Os temas apresentados têm como pano de fundo o uso do letramento científico como forma de preparar o aluno/cidadão para o presente e o futuro biotecnológico.
Palavras-chave: biotecnologia, letramento científico, formação de professores.
1 INTRODUÇÃO
No limiar do século XXI a biotecnologia é uma realidade que se impõe. O consumo de produtos biotecnológicos, pela sociedade, se faz de muitas formas, direta ou indiretamente e em todas as áreas. Na medicina com vacinas transgênicas, terapias com células-tronco, o uso de animais transgênicos como fonte de produção de proteínas ou como modelos de experimentação. Na agricultura com a produção de plantas resistentes a herbicidas, ou que manifestem entomotoxinas que eliminam pragas, como o milho Bt (Bacilo turgiensis), resistência a fungos e vírus e também a situações de estresse como frio, salinidade ou seca, são algumas das aplicações da tecnologia biológica que promovem ganhos que fazem com
que seu uso seja fato na indústria e no dia-a-dia do brasileiro. Apesar de toda polêmica que cerca o tema da biotecnologia, ou por isso mesmo, não podemos fechar os olhos para esta realidade que a cada dia vai fazendo parte de nossas vidas. Como salienta Barduche et al:
Apesar do polêmico debate em torno das OGMs (organismos geneticamente modificados), sua aplicabilidade na medicina, farmacologia, agricultura e meio ambiente está expandindo e não há como imaginar no longo prazo seu alcance.(...) a despeito de toda polêmica, os resultados concretos dos atuais estágios da tecnologia do DNA se insinuam no dia-a-dia e já permitem antever potencialidades mais realistas (BARDUCHE et al, 2005, p. 5).
A sociedade desinformada não tem base para questionar os benefícios e os malefícios da biotecnologia, ficando a mercê da forma como a mídia trata essa questão, na maioria das vezes de forma alarmista e pouco elucidativa, principalmente no Brasil que ainda não tem uma tradição de jornalismo científico. Peters, abordando a diferença das culturas profissionais de cientistas e jornalistas, aponta para um “detalhe” que faz toda diferença:
“Uma comparação dos critérios usados por diversos grupos para avaliar a qualidade da reportagem ambiental mostrou que, para jornalistas, ‘precisão’ é um critério de importância menor, mas, para todos os grupos de especialistas estudados (indústria, governo, grupos de defesa, cientistas, a ‘precisão’ é o critério mais importante”(PETERS, 2005, 0.147).
Por estar mal informada, a população pode apresentar dúvidas como as que se seguem: Será que o milho Bt pode ser consumido por todos sem toxicidade? As proteínas que expressam as entomotoxinas são absorvidas pelo organismo humano? A possibilidade de conhecer o genoma humano e poder interferir na construção do mesmo pode gerar seres perfeitos? Usar embriões para retirada de células-tronco é uma forma de aborto? Essas dúvidas, se existentes, apresentam um aspecto positivo ao demonstrar que a população está atenta para essas questões, contudo, sabemos que a realidade é bem diferente. As dúvidas nem chegam a ser formuladas, tamanha é a desinformação da maioria da população. Muitos professores vivem a experiência comum em sala de aula ao propor a discussão de determinados temas que estão na mídia, como no caso dos transgênicos, e o que veem é um total desconhecimento por parte do alunado.
Outro exemplo é o do arroz dourado, rico em vitamina A, é sem dúvida um OGM interessante porque reduz a carência desta vitamina nas populações de baixa renda e, consequentemente, as doenças causadas por sua ausência, apesar dos seus benefícios muitas críticas são feitas. Uma delas é o fato das sementes geradas do arroz dourado serem estéreis, impedindo que os agricultores possam produzi-las, o que os tornam dependentes das empresas produtoras. Este é apenas um exemplo de um produto biotecnológico que gera benefícios para população, mas que também possui implicações econômicas e sociais a serem consideradas. Pensar criticamente sobre essas implicações, analisar os benefícios sociais, opinar sobre os impactos do arroz dourado na sociedade e na economia, são elementos que o cidadão precisa incorporar no seu cotidiano.
Estes questionamentos e muitos outros gerados pela biotecnologia, já são realidade de um campo de estudo e de trabalho neste século. Cursos técnicos, de graduação e pós-graduação foram criados, habilitando profissionais neste ramo. Sendo um assunto que vem cada vez mais ganhando notoriedade, a biotecnologia surge, inclusive, como tema nos vestibulares e no ENEM comprovando sua importância na sociedade.
Todo incremento que se deu no campo da biotecnologia, com suas múltiplas descobertas e aplicabilidade no mundo moderno, acabou ensejando um caloroso debate público que revela diferentes vertentes e, consequentemente, controvérsias.
A biotecnologia traz benefícios e lucros, mas é um tema polêmico porque os interesses se chocam, esbarra em conceitos éticos e religiosos, gera mitos e inverdades. A população precisa saber como se colocar frente a estas questões, para saber opinar e refletir sobre a inserção destes produtos ou não em suas vidas. A escola, através do letramento científico dos cidadãos, pode auxiliar na aquisição da opinião crítica e de uma atitude mais reflexiva.
Diante do exposto, este trabalho visa levantar questões sobre o preparo da sociedade para viver a era biotecnológica, propor o letramento científico da população e conhecer as percepções dos professores de ensino médio sobre o assunto, uma vez que estes são os atores principais do cenário educacional.
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