A Tradução do Artigo
Por: Victoria Emanuelle • 27/3/2020 • Artigo • 5.014 Palavras (21 Páginas) • 153 Visualizações
Alto acúmulo de organoclorados na gordura do golfinho da Guiana, Sotalia guianensis, da costa brasileira e seu uso para estabelecer diferenças geográficas entre as populações
RESUMO
Amostras de gordura de 33 golfinhos-da-guiana (Sotalia guianensis) de três estuários (Baias de Guanabara, Sepetiba / Ilha Grande e Paranaguá) do Sul e Sudeste do Brasil foram analisadas para compostos organoclorados (DDTs, PCBs e HCB). Os indivíduos amostrados foram capturados acidentalmente na pesca de redes de emalhar entre 1995 e 2005. As concentrações (em ng / g de lipídios) variaram de 652 a 23 555 para SDDT; de 765 a 99 175 para SPCB; e de <4,4 a 156 para HCB. Os resultados mostraram que os cetáceos do Brasil apresentam concentrações de organoclorados comparáveis àquelas relatadas para regiões altamente industrializadas do Hemisfério Norte. Utilizando análise discriminante, foi possível verificar que as populações de golfinhos das três baías apresentam diferentes padrões de acúmulo de organoclorados. Esse recurso permite o uso desse conjunto de poluentes como ferramenta auxiliar na identificação de diferentes populações da espécie na costa brasileira.
INTRODUÇÃO
Alguns micropoluentes (por exemplo, bifenilos policlorados, pesticidas clorados e metilmercúrio) fluem através das cadeias alimentares e podem passar por um aumento de concentração à medida que atingem altos níveis tróficos (Connell, 1989; Gray, 2002). Os cetáceos têm sido apontados como espécies monitoradoras da saúde dos sistemas aquáticos e considerados organismos sentinelas para avaliações de saúde ambiental e humana (Ross et al., 2000; Reddy et al., 2001; Bossart, 2006). Devido à sua posição máxima na teia alimentar e sua longa vida útil, esses mamíferos podem integrar variações espaciais e temporais da contaminação ambiental por poluentes orgânicos persistentes (Borrell e Reijnders, 1999).
Poucos estudos trataram do problema de poluentes clorados em cetáceos do Atlântico Sudoeste (O'Shea et al., 1980; Corcuera et al., 1995; Yogui et al., 2003; Kajiwara et al., 2004) e nenhum deles eles incluíam espécimes coletados na área mais industrializada do litoral brasileiro, no estado do Rio de Janeiro.
Neste estudo, foi utilizado o golfinho da Guiana (Sotalia guianensis). A espécie apresenta um hábito exclusivamente costeiro ao longo de sua distribuição, que se estende do estado de Santa Catarina, na região Sul do Brasil, até a América Central (Flores e da Silva, 2009). Estudos de foto-identificação a longo prazo mostraram que indivíduos exibem residência prolongada em baías e estuários (Azevedo et al., 2004; 2005; 2007). A fidelidade deste local transforma S. guianensis em um modelo adequado para entender os processos de bioacumulação de micropoluentes em sistemas marinhos.
No Hemisfério Sul, as informações sobre contaminação ambiental por organoclorados são limitadas em comparação aos dados do Hemisfério Norte. Nesse sentido, o problema da poluição organoclorada é pouco estudado ao longo da costa brasileira. Mesmo quando áreas degradadas são consideradas, como a Baía de Guanabara (estado do Rio de Janeiro, região sudeste do Brasil), poucas investigações foram publicadas sobre esse tema, incluindo a biota marinha (Brito et al., 2002; Silva et al., 2003) e matriz abiótica (Japenga et al., 1988).
O presente estudo refere-se ao acúmulo de diclorodifeniltricloroetano (DDT) e seus metabólitos, bifenilos policlorados (PCBs) e hexaclorobenzeno (HCB) em gordura de golfinhos da Guiana das regiões Sul e Sudeste do Brasil. Os golfinhos-guiana de três sistemas de baías costeiras foram analisados: (1) Baía de Guanabara e (2) Complexo de Baías de Sepetiba / Ilha Grande, no Estado do Rio de Janeiro; e (3) Baía de Paranaguá, no Estado do Paraná (Fig. 1).
MATERIAL E METODOS
AREA DE ESTUDO
O litoral do Estado do Rio de Janeiro é a área mais densamente povoada do litoral brasileiro (IBGE, 2000). Nesta região, pelo menos dois sistemas costeiros são apontados como áreas críticas de contaminação ambiental, que são a Baía de Guanabara e a Baía de Sepetiba (Kjerfve et al., 1997).
A Baía de Guanabara é um dos estuários mais degradados ao longo da distribuição de golfinhos da Guiana (Dorneles et al., 2007, 2008a, b, no prelo; Azevedo et al., 2008), constituindo uma das áreas sob a maior pressão antropogênica no Hemisfério Sul ( Kjerfve et ai., 1997). Uma população avaliada de 14 milhões de pessoas vive nas 12 cidades de sua bacia de drenagem e 35 rios correm para a baía. Essas cidades abrigam 6000 plantas industriais. Como conseqüência, 500 toneladas de esgoto não tratado e 6,9 toneladas de óleo são lançadas diariamente na baía (Perin et al., 1997).
O impacto ambiental das atividades antropogênicas na Baía de Sepetiba também é bem conhecido, especialmente quando são considerados metais vestigiais. A Baía de Sepetiba é um estuário semi-aberto com uma área de 447 km2, cuja bacia de drenagem apresenta uma área de aproximadamente 2000 km2. A região abriga uma população de cerca de 1,2 milhão de pessoas e um parque industrial em expansão (IFIAS, 1998).
O Estado do Paraná, situado na região sul do Brasil, apresenta menor densidade populacional humana que o Estado do Rio de Janeiro (IBGE, 2000). Paranaguá é o principal complexo estuarino do Estado do Paraná. Poucos estudos foram realizados nessa área com relação ao impacto ambiental das atividades antropogênicas (Choueri et al., 2009; Marone et al., 2005).
AMOSTRAGEM DE TECIDO ADIPOSO DE CETÁCEOS E PREPARAÇÃO DE AMOSTRAS
As amostras analisadas no presente estudo foram obtidas de golfinhos da Guiana (nº 33) que foram capturados acidentalmente na pesca de redes de emalhar entre 1995 e 2005. Após a dissecção, as amostras foram embrulhadas em papel alumínio e mantidas congeladas (20 ° C) até a análise.
As amostras de cetáceos tiveram sua idade determinada com base nos grupos da camada de crescimento (GLGs) presentes na dentina e no cemento dos dentes (Dietz et al., 1991). Os dados biológicos sobre os golfinhos amostrados são mostrados na Tabela 1.
PROCEDIMENTO ANALÍTICO
Procedimento de extração
Alíquotas de aproximadamente 1,0 g de gordura foram homogeneizadas com Na2SO4 anidro e extraídas por aparelho de soxhlet contínuo, por 8 h, com uma mistura de hexano: diclorometano (1: 1). Uma alíquota (1 mL) foi misturada com ácido sulfúrico para a limpeza. Após centrifugação e separação de fases, um padrão interno (octacloronaftaleno) foi adicionado para a quantificação. O conteúdo lipídico foi medido gravimetricamente.
Procedimentos cromatográficos
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