AÇÃO ANALGÉSICA DA CAFEÍNA PRESENTE EM ALIMENTOS
Por: Thauane Pimenta • 5/6/2020 • Trabalho acadêmico • 5.297 Palavras (22 Páginas) • 219 Visualizações
Ação analgésica da cafeína presente em alimentos
Ketlyn Thalita de Lima, Luiza Nunes Mota, Thauane Pimenta de Jesus1
Ana Paula Rosa da Silva Camargo2; Adriano dos Santos Oliveira3
1. Alunas do curso de Ciências Biológicas; 2. Prof. Doutora em Engenharia de Alimentos (UNICID); 3. Prof. Mestre em Ciências Nucleares (UNICID).
RESUMO
A ação analgésica pode ser obtida através da cafeína por ser uma substância com grande variedade de efeitos em inúmeras funções fisiológicas, como sono, humor, resistência física e principalmente a dor. A dor aguda ou crônica, de um modo geral, leva o indivíduo a manifestar sintomas como alterações nos padrões de sono, apetite, libido, irritabilidade, alterações de energia e diminuição da capacidade de concentração. Por encargo de suas peculiaridades e dos diversos efeitos que pode causar de acordo com a dosagem administrada e substâncias associadas, suas propriedades psicoativas e o efeito estimulador no sistema nervoso, podem estar relacionados à ação na modulação da dor. Por esta razão, este estudo realizará uma revisão bibliográfica sobre a ação da cafeína encontrada em alimentos, e sua interação com um possível efeito adjuvante analgésico na atenuação da dor e fazer comparações em alimentos que contenham uma quantidade significativa de cafeína, visando numa proposta os benefícios da inclusão de alimentos contendo cafeína na dieta das pessoas, e a possibilidade de auxilio no alívio de dores na população.
Palavras-chave: Cafeína; Dor; Fonte Alimentar.
INTRODUÇÃO
A cafeína, C8H10N4O2 é um alcalóide purínico presente em mais de 60 espécies de plantas. Alcalóide é o termo utilizado para se referir a compostos básicos de origem natural, constituídos em sua maioria por carbono (C) e nitrogênio (N). São divididos em diversas classes, entretanto a classe abordada nesse trabalho é a metilxantina (CABRAL e PITA, 2015; NCBI, 2019). A cafeína pura assume a forma de cristais brancos e prismáticos, é inodoro, tem um sabor amargo, e é ligeiramente ácida, com um pH de 6,9 (solução de 1 %).
Sua estrutura molecular pertence a um grupo de xantinas trimetiladas de origem e ocorrência natural em folhas de mate, grãos de café, plantas de guaraná, cacau e noz de cola (TAVARES e SAKATA, 2012; LIPTON et al., 2017). As xantinas têm uma série de propriedades farmacológicas de grande importância, como a capacidade de relaxar a musculatura lisa, estimular o sistema nervoso, promover a diurese, e atua como adjuvante na elevação do efeito de analgesia. É uma substância absorvida rapidamente pelo intestino, tornando-o 100 % biodisponível. Há indicações de efeitos benéficos na Doença de Parkinson e diabetes tipo II documentados (MOURA, 2013). Quando consumida com alimentos e bebidas, a absorção pode ser mais lenta em comparação com a ingestão de cafeína sozinha com o estômago vazio, provavelmente devido a um atraso no esvaziamento gástrico (WILLSON, 2018). O tempo em que a concentração plasmática máxima é obtida, é de 30 a 45 minutos, tem meia-vida metabólica média em humanos de 2,5 a 4,5 horas, atravessando as barreiras hematoencefálica e placentária, sendo secretada no leite humano, saliva, bílis e sêmen (ECHEVERRI et al., 2010).
A concentração de cafeína pode diminuir com a indução do metabolismo humano, entre os indutores, estão o uso de tabaco, baixo índice de massa corporal e o próprio consumo habitual de café, bem como o uso de rifampicina, benzodiazepínicos, carbamazepina, fenobarbital e omeprazol. O tabaco induz o metabolismo da cafeína e, em consequência, diminui suas concentrações plasmáticas. Os tabagistas que consomem café e param de fumar podem apresentar sintomas de intoxicação por cafeína, pois esta tem sua concentração dobrada na ausência do tabaco. As concentrações de cafeína podem aumentar com a inibição do seu metabolismo. Isto ocorre no final da gravidez, em pacientes do sexo feminino com hepatopatia e obesidade, na ingestão de alguns alimentos e álcool, e com a utilização de alguns medicamentos como antimicóticos, antiarrítmicos, antidepressivos, antipsicóticos, metilxantinas (teofilina) e anticoncepcionais orais (TAVAREZ e SAKATA, 2012).
No metabolismo humano, o fígado é o principal responsável pela metabolização da cafeína (Figura 1), pois nele existe um conjunto de enzimas para lidar com diferentes substâncias. Sua degradação começa pela desmetilação (remoção do grupo metila de uma molécula) dos grupos metila 1 e 7, esta reação é possível através da ação do citocromo P450 1A2, ou enzima CYP1A2, o mesmo sendo um agente catalizador da reação, responsável pela degradação da cafeína, e algumas pessoas produzem menos dessas enzimas e assim demoram mais tempo para processá-la.
É através desta reação que a cafeína resulta em mais três grupos, chamados de metilxantinas, que são: a teofilina, a teobromina e a paraxantina, as três são consideradas ativas metabolicamente (ALTERMANN et al., 2008).
Nos seres humanos, é principalmente metabolizada (70-80%) por desmetilação pelo citocromo hepático (CYP) 1A2 em paraxantina (84%), teobromina (12%) e teofilina (4%) (NEHLIG, 2015), conforme a Figura 2.
Figura 1 - Metabolismo da cafeína em humanos.
[pic 1]
Valores expressos, em termos percentuais, entre parênteses representam as quantidades metabolizadas de cada composto (CYP 1A2- citocromo P450; NAT2- N- acetiltransferase; XO- xantina oxidase; AFMU- 5- acetilamina- 6- formilamina- 3- metiluracil).
Fonte: ALTERMANN et al., 2008.
Figura 2 - Estruturas químicas dos metabólitos da cafeína.
[pic 2]
Fonte: Adaptado de HECKMAN et al., 2010.
A atividade do CYP1A2 é responsável por 95% da depuração (atividade de exclusão de metabólitos pelo rim) da cafeína. O estilo de vida pode influenciar a depuração da cafeína (NEHLIG, 2015).
Diversos alimentos contidos na dieta de grande parte da população contêm cafeína, como por exemplo: chocolates em barras, achocolatados, refrigerantes, café e alguns tipos de chás, (Tabela 1), possuem uma dose significativa de cafeína como o chá preto e o chá verde. Aproximadamente 80 % dos adultos consomem produtos cafeinados todos os dias, embora as taxas médias diárias de consumo variem consideravelmente por país. A China (16 mg) e o Quênia (50 mg) estão na extremidade baixa do consumo de cafeína, e o Brasil (300 mg) e a Dinamarca (390 mg) estão na extremidade alta. Já nos Estados Unidos, a grande maioria dos adultos são usuários regulares de cafeína (90 %), e as estimativas de consumo diário variam de 168 mg a 220 mg (LIPTON et al., 2017).
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