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Diagnóstico da vegetação nativa do bioma Caatinga

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Por:   •  17/4/2014  •  Pesquisas Acadêmicas  •  10.033 Palavras (41 Páginas)  •  544 Visualizações

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Diagnóstico da vegetação nativa do bioma Caatinga

Jair Fernandes Virgínio Associação Plantas do Nordeste Luciano Paganucci de Queiroz Universidade Estadual de Feira de Santana Maria Angélica Figueiredo Universidade Federal do Ceará Maria de Jesus Nogueira Rodal Universidade Federal Rural de Pernambuco Maria Regina de Vasconcellos Barbosa Universidade Federal da Paraíba Raymond M. Harley Universidade Estadual de Feira de Santana / Royal Botanical Gardens, Kew

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Gravatá

INTRODUÇÃO

Dentre os biomas brasileiros, a Caatinga é, provavelmente, o mais desvalorizado e mal conhecido botanicamente. Esta situação é decorrente de uma crença injustificada, e que não deve ser mais aceita, de que a Caatinga é o resultado da modificação de outra formação vegetal, estando associada a uma diversidade muito baixa de plantas, sem espécies endêmicas e altamente modificada pelas ações antrópicas. Apesar de estar, realmente, bastante alterada, especialmente nas terras mais baixas, a Caatinga contém uma grande variedade de tipos vegetacionais, com elevado número de espécies e também remanescentes de vegetação ainda bem preservada, que incluem um número expressivo de táxons raros e endêmicos. Quem primeiro reconheceu esta situação foi Andrade-Lima (1981), que publicou uma primeira aproximação para a classificação dos diferentes tipos de caatingas, utilizando aspectos fisionômicos e dados florísticos para caracterizar os agrupamentos, destacando, também, a importância de fatores abióticos como clima, especialmente a precipitação, e solo. Para o Workshop de Avaliação e Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade da Caatinga, realizado em Petrolina, em 2000, Rodal & Sampaio (2002) propuseram mudanças no sistema de Andrade-Lima, analisando as unidades propostas e associando-as ao recente Zoneamento Agroecológico do Nordeste ZANE (Silva et al. 1993). Porém, a diversidade de padrões de vegetação detectados, não permitiu, até o momento, a elaboração de um sistema de classificação ideal, persistindo inúmeras questões não respondidas e lacunas a serem preenchidas. A falta de informação sobre locais que provavelmente têm grande importância científica mas que requerem mais pesquisa, foi um dos grandes problemas detectados. De particular interesse poderiam ser citados os enclaves de “caatinga” existentes fora do Nordeste e que são classificados em outros tipos de vegetação. Poderiam ser destacados:

1) áreas mais ao sul da região da Caatinga, especialmente em Minas Gerais;

2) possíveis enclaves de caatinga na Amazônia, onde ocorrem espécies típicas da caatinga nordestina, como Schinopsis brasiliensis (baraúna), recentemente referida para a região, provavelmente associada com áreas rochosas, onde o desenvolvimento de floresta é mais restrito; e

3) áreas dentro da zona de Mata Atlântica, como, por exemplo, Pedra Azul, em Minas Gerais, e Cabo Frio, no Rio de Janeiro.

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Adriano Gambarini

A água, como um fator limitante na Caatinga, também destaca um ponto muito importante, que é a preservação dos rios permanentes. Esses rios têm um papel essencial, provendo água durante todo o ano, tanto para as espécies da fauna e flora, como para as populações que nela residem. A conservação de tais rios depende da proteção

de suas cabeceiras, que geralmente estão localizadas fora da zona da Caatinga, por exemplo, nos brejos ou florestas montanas da Borborema, Chapada Diamantina, Serra do Araripe, dentre outros. Dessa forma, a conservação dessas florestas torna-se prioritária para a manutenção da principal fonte de água da região da Caatinga.

ESPÉCIES ENDÊMICAS DA CAATINGA

Nas últimas décadas, os biólogos têm voltado sua atenção para a Caatinga. Em vários dos seus trabalhos, AndradeLima (1981,1989) chamou a atenção para a riqueza da flora da Caatinga e destacou os exemplos fascinantes das adaptações das plantas aos hábitats semi-áridos. Dessa forma, a Caatinga, tem se destacado por conter uma grande diversidade de espécies vegetais, muitas das quais endêmicas ao bioma, e outras que podem exemplificar relações biogeográficas que ajudam a esclarecer a dinâmica histórica vegetacional da própria Caatinga e de todo o leste da América do Sul. A lista mais ampla de espécies de angiospermas endêmicas da Caatinga havia sido elaborada por Prado (1991), que relacionou 12 gêneros e 183 espécies endêmicas, e demonstrou as fortes relações florísticas existentes entre esse bioma e outros tipos vegetacionais da América do Sul, especialmente os das áreas periféricas do Chaco, no Paraguai, Bolívia e noroeste da Argentina. Harley (1996), analisando a flora herbácea das caatingas, mencionou sete gêneros endêmicos, parte deles ligados às áreas próximas a lagoas temporárias. Para o Workshop da Caatinga, Giulietti et al. (2002) listaram para o bioma, 18 gêneros e 318 espécies endêmicas, pertencentes a 42 famílias, incluindo tanto plantas de áreas arenosas como rochosas (Anexo 1). A família com maior número de espécies endêmicas (80) é a Leguminosae, que é também o grupo mais bem representado nas caatingas (Queiroz 2002). Outra família com grande número de espécies endêmicas (41) é a Cactaceae, que tem sido muito estudada por Taylor & Zappi (2002). Dessas, várias estão incluídas como vulneráveis ou em perigo de extinção. Outras famílias destacam-se pelo número de gêneros endêmicos: Scrophulariaceae (3); Malpighiaceae (2); Compositae (2). Dentre os gêneros da família Scrophulariaceae, Anamaria e Dizygostemon, são exclusivos das margens de lagoas temporárias do oeste de Pernambuco e limite com Piauí e Bahia, e Ameroglossum foi descrito em 2000, sendo restrito aos vãos dos blocos de granito da região de Bonito, PE, e também da Paraíba (Castro et al. 2002). A família Malpighiacae inclui os gêneros monotípicos Barnebya e Macvaughia, o primeiro ocorrendo principalmente no Raso da Catarina e o segundo recoletado pela equipe da Associação Plantas do Nordeste – APNE – no mesmo local do material-tipo (Filadélfia, BA), durante o trabalho de campo realizado por ocasião da preparação do material para o Workshop da Caatinga. A realização de novas coletas na região Nordeste e o estudo e identificação dos espécimes já depositados nos herbários da região, levarão, com certeza, à detecção de novos táxons endêmicos. Deve-se, também, enfatizar

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