Exposição Zuzu Angel

Relatório da exposição Ocupação Zuzu, localizada no Itaú Cultural, na Avenida Paulista, na cidade de São Paulo.

Obra escolhida: Coleção do desfile International Dateline Collection III – Holiday and Resort

Primeiro desfile a usar a moda como forma de prostesto político, o International Dateline Collection III – Holiday and Resort aconteceu em setembro de 1971-apenas poucos meses depois de seu filho ter sido preso e dado como desaparecido pelas autoridades-, no consulado brasileiro em Nova Iorque. Teoricamente em território brasileiro, não sofrera as punições da lei imposta pelo regime militar, instaurado em abril de 1964, que proibia que brasileiros criticassem o país no exterior. Com grande resistência, Zuzu lutou, a partir do desaparecimento de Stuart, seu filho, contra o regime militar e, principalmente, pelo direito de ter a certeza de que Stuart estava morto e enterrá-lo.

As peças referenciadas acima apresentavam diversas características das peças tradicionais de Zuzu, como estampas folclóricas e representantes da natureza brasileira, temas regionais, desenhos simples, cortes variados (ainda que houvesse a preferência por vestidos), proeminência do uso de tecidos brancos como base de trabalho e detalhes em pedras brasileiras, conchas e contas de madeiras, como o bambu. No entanto, havia sutis mudanças que indicavam seu engajamento político, como, por exemplo, o tradicional anjo, que era o maior ícone de sua marca, agora aparecia ferido e amordaçado, em uma clara alusão ao sofrimento de seu filho. Os pássaros, também frequentes em outras coleções, ao invés de livres, se encontravam em gaiolas, criticando a falta de liberdade de expressão e do direito de ir e vir criada pela opressão do regime militar. Novos desenhos, como canhões e tanques surgiam quase despretensiosamente em meio a outros desenhos mais leves, indicando a violência e a brutalidade com as quais os militantes e civis eram tratados pelo governo vigente.

Além do desfile, Zuzu adotou como vestimenta eterna o luto; sendo vista apenas com cores escuras, véus, crucifixos e, sempre, com o anjo, que representava Stuart. A combinação de seu hábito com este desfile propiciou que o drama vivido por Zuzu alcançasse dimensões internacionais, com grande destaque para a imprensa da América do Norte. Tanto no Canadá, quanto nos Estados Unidos, sua situação foi disseminada através dos jornais, uma vez que a política fora o tema de maior força no desfile, e também, através de grades boutiques, como a Bergdof Goodman, que passaram a vender suas roupas, o que possibilitou que Zuzu se utilizasse deste prestígio para envolver clientes de grande relevância em sua causa.

O mais importante a ser mencionado aqui é que toda a sua luta contra o regime que matou e torturou seu filho foi feita de modo legal, não permitindo que as autoridades interferissem de forma legitimada contra ela, o que comprova sua genialidade em usar seu prestígio e posição social, além das leis do próprio inimigo, para atingir seus fins.