Karate, da Prática a Reflexão
Por: Felipe Ventura • 5/9/2016 • Artigo • 6.960 Palavras (28 Páginas) • 421 Visualizações
KARATE: da prática à reflexão
SILVEIRA, Filipe Itamar[1]
VENTURA, Felipe Roberto[2]
MELLER, Vanderléa Ana[3]
RESUMO.
A presente pesquisa compreende um estudo de abordagem qualitativa que buscou analisar a arte marcial Karate como cultura de movimento para crianças, contemplada numa perspectiva reflexiva. Buscamos dialogar sobre a cultura perante as ações das crianças. As intervenções ocorreram no Lar Fabiano de Cristo, espaço não formal de educação, com participação de 11 crianças com idades entre 9 a 12 anos. Assumimos uma postura interdisciplinar para o desenvolvimento das ações pedagógicas e conteúdo. Foram contemplados os princípios da pesquisa-ação, numa perspectiva de reflexão-ação-reflexão. Como autores de base Kunz (2006) com os elementos teóricos e práticos da abordagem pedagógica da Educação Física Crítico Emancipatória, os quais nortearam as ações e reflexões; e Kanazawa (2010), que estabelece as diversas formas de execução de movimentos, da modalidade Karate para crianças e adolescentes. Realizamos aulas teórico/práticas a fim de desenvolver os objetivos de aprendizagem evidenciando a reflexão-ação-reflexão. Os instrumentos de coletas foram: plano de ensino, planos de aula e relatórios de análise de intervenção. Os dados coletados foram analisados na dimensão qualitativa, identificamos o quanto foi enriquecedor o Karate para as crianças, pois ampliou o repertório motor a partir das experiências corporais e tornou-se uma prática muito prazerosa. Mobilizou a percepção e reconhecimento de possibilidades de movimento. As crianças estabeleceram relações de valores éticos e morais, bem como o autocontrole do corpo e emoções. Ocorreu a compreensão da cultura oriental e estabeleceram relações interdisciplinares, com diversos saberes envolvidos. Os diálogos reflexivos despertaram noções críticas em torno da intencionalidade da arte na relação das lutas e brigas, discernindo gestos violentos e técnicos. As lutas possuem inerentes à cultura saberes fundamentais para serem problematizados e abordados de forma crítica.
PALAVRAS CHAVE: Educação Física. Karate. Cultura de movimento.
INTRODUÇÃO
O tema Karate foi evidenciado a partir de uma análise pautada na perspectiva crítica a fim de adequar sua prática com crianças, pois consideramos que os modelos tradicionais de desenvolvimento da cultura e das técnicas específicas não contribuem com as características e necessidades das crianças. Buscamos a valorização da prática pedagógica do Karate e encontramos no ambiente não formal de educação uma possibilidade de pensar uma proposta com intuito de inovar e agregar novas culturas de movimento nas aulas de Educação Física.
A escolha do tema ocorreu devido às experiências pessoais que os professores estagiários possuíam na modalidade Karate como praticantes e ensino em clubes e associações de bairros.
A partir de uma visão crítica sobre lutas tornou-se importante desenvolver a prática do ensino reflexivo na infância, a fim de promover uma série de competências pessoais e valorização dos processos sociais e globais que envolvem as relações com a vida. Entendemos que artes marciais não tem um objetivo único no enfoque do combate, os estímulos às percepções corporais são muito evidenciadas e necessárias para atingir os objetivos originais da cultura e o sucesso de todos, portanto devemos proporcionar às crianças reflexões sobre atitudes e diferentes valores envolvidos, as relações de contato, raciocínio estratégico e tomada de decisões.
Com esse entendimento definimos a questão problema: Como desenvolver a arte marcial Karate como cultura de movimento para crianças evidenciando uma postura reflexiva?
O objetivo geral foi analisar a arte marcial Karate como cultura de movimento para crianças, contemplada numa perspectiva reflexiva.
O Karate nas aulas de Educação Física vem para superar barreiras do preconceito referentes às lutas para crianças em locais educacionais. Entendemos que se trata de uma possibilidade de socialização entre grupos heterogêneos, onde a prática desta luta pode promover movimentos corporais de defesa e ataque, estabelecendo o autocontrole e colaborando com a cidadania, e a formação dos sujeitos. Também destacamos a necessidade de rever preconceitos estabelecidos em torno da cultura do Karate.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Karate na Educação Física
Os conteúdos da Educação Física trabalham com determinadas modalidades historicamente e socialmente produzidas; esportes, jogos, brincadeiras, ginásticas e lutas fazem parte deste universo. Neste contexto Kanazawa (2010) expressa que a palavra Karate significa a arte da mão vazia. Ao proporcionar às crianças a prática não devemos percebê-lo a partir dos princípios da esportivização, mas como uma prática corporal que rica em significados, numa relação de filosofia de vida, que favorece a consciência corporal e habilidades gerais do ser humano. O objetivo da arte é a união do BU - guerreiro - e do DÔ - caminho – o meio de aplicação da sua filosofia.
A partir da realidade pesquisada com as possibilidades para a prática do Karate como uma forma de refletir sobre os diversos conteúdos da Educação Física, evidenciamos que esta arte agrega saberes relevantes ao universo de movimentos. Os espaços educativos possuem a responsabilidade de articular saberes que possam contribuir com a promoção do sujeito autônomo e integrado. Gohn (2010 p.15 - 16) expressa que “[...] a educação não formal é aquela que se aprende no mundo da vida, via os processos de compartilhamento de experiências, principalmente em espaços e ações coletivos cotidianos.”
Ao agregar o Karate, na Educação Física, no espaço não formal de educação, devemos possibilitar a ampliação da cultura de movimento. Para Nakayama (1977), o Karate é uma arte de defesa pessoal de mãos vazias, em que o sujeito domina todos os movimentos do corpo por meio de técnicas bem controladas, de acordo com sua força de vontade, as quais são dirigidas para o alvo de maneira precisa e espontânea. É classificado como um tipo de luta, entendido como disputa, em que os oponentes devem ser subjugados, mediante técnicas e estratégias de desequilíbrio de imobilização ou exclusão de um determinado espaço, na combinação de ações de ataque e defesa.
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