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A EXPRESSÃO CORPORAL DENTRO DO CAPS

Por:   •  25/8/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.886 Palavras (8 Páginas)  •  461 Visualizações

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Enfermagem e educação

A EXPRESSÃO CORPORAL DENTRO DO CAPS

Dara Brunner Borchartt, Jane Conceição Perim Lucca, Zaléia Prado de Brum.

Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões- Campus Santo Ângelo

E-mail: darabb@hotmail.com

Introdução: O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) foi implementado através da Portaria nº 336/GM, de 19 de fevereiro de 2002, em consonância com a Lei 10.216 de 06/04/01, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtorno mental e direciona o modelo assistencial em saúde mental (BRASIL, 2002). O CAPS é a principal estratégia governamental de desinstitucionalização, podendo agenciar moradia, trabalho e lazer para as pessoas em sofrimento psíquico (SILVA, 2009; NASI, et al 2015) e é uma substituição do modelo hospitalocêntrico. Tem como objetivo evitar as internações, desenvolvendo o exercício da cidadania e reinserção social dos usuários de saúde mental. O cuidado exercido dentro do CAPS necessita de oficinas terapêuticas diversificadas, entre eles, grupo de familiares, grupo de medicação, oficinas terapêuticas, atendimento individual, visita domiciliar, entre outras. Adotando a teoria de que a doença mental não requer somente o tratamento médico ou de ordem psiquiátrica, sabe-se que existem outros fatores que possibilitem a reabilitação dos pacientes em sofrimento psíquico (AMORIM et al, 2017), e são em espaços como os CAPS que a presença de atividades terapêuticas como a expressão corporal se tornam aliadas no processo de tratamento dos pacientes. Gariba & Franzoni (2007) afirmam que a expressão corporal é uma atividade importante na promoção do contato entre pessoas ou grupos, nos aspectos subjetivos e objetivos da vida. Constitui-se numa ferramenta para que o paciente entenda o seu corpo e o utilize como uma forma de comunicação. A expressão corporal é uma intervenção prática que serve como instrumento de trocas sociais e de rompimento com a cultura do isolamento e da invalidação dos sujeitos. Ela favorece o crescimento pessoal, estimula o organismo e auxilia no estabelecimento da saúde orgânica, mental, individual e coletiva (LIBERMAN et al, 2017). Além disso, a expressão corporal auxilia no desenvolvimento da musculatura e previne a rigidez muscular dos pacientes que frequentam o CAPS, visto que, a maioria deles faz uso da medicação decanoato de haloperidol, injetável pelo menos uma vez ao mês. O decanoato de haloperidol é um medicamento usado no tratamento de manutenção de pacientes psicóticos crônicos estabilizados, que tem como efeito colateral a sedação psicomotora e diminuição da coordenação motora (ANVISA, 2015). A partir disso percebeu-se a necessidade de propor uma atividade que propiciasse aos usuários um olhar sensível sobre o corpo, refletindo e sentindo este corpo e ao mesmo tempo auxiliando na movimentação dos músculos, prevenindo a rigidez e atrofia muscular. Sabe-se que as práticas de atividades corporais estimulam a liberação de endorfina, um hormônio que propicia momentos de bem-estar e felicidade. Estudos realizados nos Estados Unidos afirmam que a prática de atividades físicas reduzem os sintomas depressivos ou de ansiedade (MELO et al, 2005). Assim, este estudo justifica-se pela importância da reflexão da oficina terapêutica como uma das ferramentas do cuidado de enfermagem no CAPS II e da construção de referencial teórico na área de saúde mental para enfermagem. Objetivo: refletir sobre uma ação da práxis da enfermagem no CAPS II. Método: Trata-se de um relato de experiência que emerge de uma das atividades desenvolvidas durante o estágio supervisionado I de enfermagem realizado no CAPS II de uma cidade de médio porte no noroeste do Rio Grande do Sul. É um estudo de abordagem qualitativa (MINAYO, 2012) do tipo descritiva (POLIT; BECK, 2011). Após conversar com o enfermeiro e a técnica de enfermagem do CAPS II sobre o decanoato de haloperidol, medicamento amplamente usado na saúde mental, surgiu a necessidade de realizar alguma atividade de expressão corporal com os pacientes intensivos que fazem uso desse medicamento, pois ele causa a diminuição da coordenação motora e atrofia dos músculos (ANVISA, 2015). Além disso, muitos foram os relatos dos pacientes afirmando tal fato, que se sentiam “travados” com o medicamento. Então a acadêmica juntamente com a técnica de enfermagem estruturaram um projeto para apresentar á coordenadora do CAPS II e ao enfermeiro. Após parecer favorável, foi agendada uma data e horário para realizar a atividade corporal com os pacientes. A oficina foi direcionada para os usuários que frequentam o CAPS e aberta à participação de acordo com o interesse de cada um. O perfil dos usuários foi bem diversificado, assim como suas histórias de vida e a maneira que chegaram até o CAPS. Os participantes foram pessoas com sofrimento psíquico com intensidades diversas e diagnósticos diferentes. Resultados e Discussões: A oficina de expressão corporal aconteceu no ginásio aberto do CAPS II. Foram dois encontros na semana no turno da manhã. O primeiro ocorreu com o grupo de pacientes intensivos que frequentam o CAPS nas segundas-feiras e quintas-feiras e o segundo encontro ocorreu no com o grupo que vem nas quartas-feiras e sextas-feiras. Inicialmente ocorreu uma conversa com os pacientes a fim de explicar o objetivo da atividade e benefícios. A oficina de expressão corporal teve duração de aproximadamente 30 minutos, contendo o repertório de três músicas. Os responsáveis na condução da oficina de dança, juntamente com os usuários, escolhiam as músicas de acordo com os ritmos preferidos, respeitando seus gostos musicais e valorizando a subjetividade de cada integrante. Como recursos foram utilizados um aparelho de som e pendrive. A música é capaz de resgatar sentimentos positivos, melhorar a autoestima, transformar realidades, proporcionar alegria, relaxamento e tranquilidade, promovendo bem-estar. Ela exerce funções que vão além da simples distração (SEKI; GALHEIGO, 2010). A oficina foi estruturada em três partes: num primeiro momento feito um “aquecimento”, no qual foram coordenados exercícios de relaxamento e alongamento corporal para desinibir e proporcionar o surgimento de um clima descontraído. Na sequência, foi colocada a primeira música animada para início da atividade. Os passos foram simples, para não comprometer o desenrolar da atividade e causar a desistência.  Na oficina não se visava a técnica da dança, mas o “dançar” como atividade prazerosa de socialização e expressão. Lima e Guimarães (2014) afirmam que ao utilizar a arte devemos utilizá-la como um instrumento para inventar novas maneiras de existir e de experimentar. No desenvolvimento da atividade, foi possível identificar a alegria dos pacientes em dançar. Eles inventavam seus próprios passos, se davam as mãos, faziam ciranda. Lima e Guimarães (2014) alegam que a alegria é peça fundamental no processo de reconstrução de si, de recuperação, e na criação de uma nova maneira de estar consigo e com o mundo. Essa alegria relatada e expressada pelos usuários era justificada por eles, quando diziam que se sentiam amados e aceitos, se sentiam felizes, que estavam gostando da atividade e que na próxima semana queriam mais. Anderson et al (2014) mostra a relevância da dança em pacientes com diversos graus de agravos da saúde mental, que obtiveram melhora na motivação, diminuição considerável do grau de isolamento e melhora na maturidade emocional. Corroborando com a ideia de Assumpção et al (2016) que diz que a dança tem efeitos positivos para o humor e na redução dos agravos mentais da população. Para finalizar, realizamos um grande circulo com os participantes onde todos ficaram de mãos dadas. Foi comunicado aos participantes do grupo que eles poderiam sugerir outras músicas para os próximos encontros. Neste sentido, o dançar pode ser estratégia de recursos terapêuticos para tratamento de pacientes com diversos tipos de transtornos mentais. Significa a possibilidade de colocar em gestos, os sentimentos, os pensamentos, as ideias, as emoções e cenas vividas (CASTRO, 2006). Como participante ativa observei cada integrante na sua forma de ser no mundo, retratando seu ritmo lento, acelerado ou até um ritmo descoordenado. Percebi que os participantes aprenderam a sentir a música e refletir em seus movimentos como estavam se sentindo. A dança promove um aumento da qualidade de vida e da saúde psicológica e para pessoas mais tímidas é difícil libertarem-se no início, mas quando o fazem, verifica-se um aumento da autoestima e da confiança em si mesmo e nas suas capacidades. Esta atividade promove também o desenvolvimento da atenção, raciocínio e memória (ATLAS DA SAÚDE, 2018). A dança melhora as relações interpessoais, e é uma excelente forma de superar a solidão e a timidez. Ajuda a expressar emoções e a canalizar a adrenalina (ATLAS DA SAÚDE, 2018). Conclusão: Percebe-se que a oficina terapêutica proporcionou o bem estar físico e mental dos usuários, visando o resgate da autonomia e do autocuidado tendo como veículo a liberdade e a expressão. Procuramos estimular a singularidade de cada integrante durante os encontros, valorizando suas expressões, sugestões, oferecendo um espaço propicio para o diálogo e troca de experiências. Espera-se que a oficina se constitua como um dispositivo de produção de vida e um local onde possam ser vivenciadas diferentes formas de existência, possibilitando uma maior autonomia e a valorização da singularidade dos participantes. Além de se constituir em uma forma de prevenção e promoção da saúde, também oportuniza aos usuários momentos de lazer e diversão.

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