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Artigo de pediatria

Por:   •  5/10/2015  •  Dissertação  •  4.489 Palavras (18 Páginas)  •  592 Visualizações

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J Pediatr (Rio J). 2015;91(4):346---351 www.jped.com.br ARTIGO ORIGINAL Television viewing habits and their influence on physical activity and childhood overweight, Gisele F. Dutraa, , Cristina C. Kaufmannb,c , Alessandra D.B. Prettoa e Elaine P. Albernaz a,d a Programa de Pós-Graduac¸ão em Saúde e Comportamento, Universidade Católica de Pelotas (Ucpel), Pelotas, RS, Brasil b Universidade Católica de Pelotas (Ucpel), Pelotas, RS, Brasil c Faculdade de Nutric¸ão, Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), Pelotas, RS, Brasil d Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), Pelotas, RS, Brasil Recebido em 6 de agosto de 2014; aceito em 12 de novembro de 2014 KEYWORDS Children; Cohort studies; Physical activity; Sedentary lifestyle; Television Abstract Objectives: To assess the prevalence of television (TV) viewing habits and their association with childhood sedentary lifestyle and overweight in 8-year-old children, from a cohort in a city in Southern Brazil. Methods: A prospective cohort study with hospital screening of all births that occurred from September of 2002 to May of 2003. This study refers to a cross-sectional analysis of data collected during the cohort’s follow-up conducted at 8 years of age. To evaluate the level of physical activity, a physical activity questionnaire for children and adolescents was used (PAQ-C), during the consultation at 8 years of age. Results: Of the 616 interviewed children, a prevalence of sedentary lifestyle > 70% was found, as well as the habit of watching TV for more than two hours a day in 60% of the sample, regardless of gender (p = 0.30), income (p = 0.57), or family socioeconomic level (p = 0.90). The daily time spent watching TV was inversely associated with physical activity (p < 0.05) and positively associated with excess weight (p < 0.01). Regarding physical activity, running was the most frequently practiced sports modality among the population. Conclusions: Considering the high prevalence of sedentary lifestyle and children who watch TV for an excessive period of time, it is necessary to motivate such individuals to perform interactive activities, as well as promote a more active lifestyle, by decreasing the time children spend in front of the TV. © 2015 Sociedade Brasileira de Pediatria. Published by Elsevier Editora Ltda. All rights reserved. DOI se refere ao artigo: http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2014.11.002 Como citar este artigo: Dutra GF, Kaufmann CC, Pretto AD, Albernaz EP. Television viewing habits and their influence on physical activity and childhood overweight. J Pediatr (Rio J). 2015;91:346---51. Estudo feito no Programa de Pós-Graduac¸ão em Saúde e Comportamento, Universidade Católica de Pelotas (Ucpel), Pelotas, RS, Brasil.  Autor para correspondência. E-mail: gisele fd@yahoo.com.br (G.F. Dutra). 2255-5536/© 2015 Sociedade Brasileira de Pediatria. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. Documento descarregado de http://jped.elsevier.es el 09/08/2015. Cópia para uso pessoal, está totalmente proibida a transmissão deste documento por qualquer meio ou forma. Influence of TV on exercise and childhood weight 347 PALAVRAS-CHAVE Crianc¸as; Estudos de coorte; Atividade física; Sedentarismo; Televisão Hábito de assistir a televisão e sua influência sobre a atividade física e o excesso de peso infantis Resumo Objetivos: Avaliar a prevalência do hábito de assistir a televisão (TV) e sua relac¸ão com o sedentarismo infantil e o excesso de peso em crianc¸as aos oito anos pertencentes a uma coorte de uma cidade do Sul do Brasil. Métodos: Estudo de coorte prospectivo, com triagem hospitalar de todos os nascimentos ocorridos entre setembro de 2002 e maio de 2003. O presente estudo refere-se a uma análise transversal dos dados coletados no acompanhamento da coorte ocorrido aos oito anos. Para avaliar o nível de atividade física, um questionário de atividade física para crianc¸as e adolescentes foi usado (PAQ-C), durante a visita aos oito anos. Resultados: Nas 616 crianc¸as entrevistadas, encontrou-se uma prevalência de sedentarismo superior a 70% e o hábito de assistir a TV por um período superior a duas horas diárias em 60% da amostra, independentemente do gênero (p = 0,30), renda (p = 0,57) ou nível socioeconômico (p = 0,90). O tempo diário assistindo a televisão associou-se inversamente à prática de atividade física (p < 0,05) e positivamente ao excesso de peso (p < 0,01). Com relac¸ão à atividade física, corrida foi a prática esportiva mais frequente na populac¸ão. Conclusões: Diante da elevada prevalência de sedentarismo e de jovens que assistem a TV por um período excessivo, faz-se necessário o estímulo a atividades interativas, bem como a promoc¸ão de um estilo de vida mais ativo, com a reduc¸ão do tempo que jovens dispensam em frente à TV. © 2015 Sociedade Brasileira de Pediatria. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados. Introduc¸ão De acordo com dados da última Pesquisa de Orc¸amentos Familiares (POF), a populac¸ão brasileira, em todas as faixas etárias a partir dos cinco anos, acompanha a tendência mundial de ganho de peso.1 Por outro lado, também na populac¸ão de pré-escolares, dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutric¸ão (PNSN-1989) e das Pesquisas Nacionais de Demografia e Saúde da Crianc¸a e da Mulher (PNDS-1996 e 2006/07) apontam que o excesso de peso aumentou drasticamente nos últimos 17 anos.2 Embora a proporc¸ão de adultos obesos seja maior do que a de crianc¸as e adolescentes, a prevalência de obesidade infantil cresce contínua e rapidamente no país e triplicou nos últimos 20 anos.1 A importância da prevenc¸ão da obesidade infantil é amplamente reconhecida, porém muitas intervenc¸ões tendem a atingir apenas uma pequena parte da populac¸ão, especialmente em países desenvolvidos. Assim, estratégias de prevenc¸ão baseadas na populac¸ão procuram apoiar e facilitar o aumento da atividade física e dietas mais saudáveis, por se tratar de fatores passíveis de intervenc¸ão.3 Resultados satisfatórios no controle da obesidade infantil têm sido percebidos por meio de táticas que investem na reduc¸ão de comportamentos sedentários.4 De acordo com Santaliestra-Pasías et al.,5 crianc¸as e adolescentes ocupam grande parte do seu tempo de lazer com atividades de baixa intensidade e gasto calórico. Além disso, em estudo recente, Ghavamzadeh et al.6 evidenciaram relac¸ão direta entre o hábito de assistir a televisão (TV) e o excesso de peso em adolescentes iranianos, independentemente da prática de atividade física e do consumo de alimentos obesogênicos. Por outro lado, estudo feito por Giammattei et al.7 evidenciou que escolares mais sedentários consomem maior quantidade de refrigerantes e, por conseguinte, são mais obesos. Além disso, de acordo com Thivel & Chaput,8 o tempo gasto em comportamentos sedentários é agravado pela ingestão excessiva de calorias. Dessa forma, o maior dispêndio de tempo com atividades menos vigorosas, como assistir a televisão, usar computador e jogar videogame, tem colaborado para o ganho de peso dos adolescentes, uma vez que a principal fisiopatologia desse distúrbio é o balanc¸o positivo na ingestão energética.9 Nesse sentido, Friedrich et al.10 sugerem, com base em revisão sistemática, que programas de intervenc¸ão no âmbito escolar podem ter efeitos positivos na reduc¸ão do tempo em frente à tela. Dessa forma, o objetivo deste estudo foi avaliar a prevalência do hábito de assistir a televisão (TV) e sua relac¸ão com o sedentarismo infantil e o excesso de peso em crianc¸as aos oito anos pertencentes a uma coorte de uma cidade do Sul do Brasil. Métodos Entre setembro de 2002 e maio de 2003 todos os nascimentos hospitalares ocorridos na cidade de Pelotas foram identificados. O presente estudo refere-se a uma análise transversal dos dados coletados no acompanhamento da coorte ocorrido aos oito anos. Detalhes sobre a metodologia encontram-se descritos em publicac¸ões prévias.11,12 No presente estudo, descreveram-se as práticas de atividade física nas crianc¸as aos oito anos. Para isso, foi usado o questionário de atividade física para crianc¸as e adolescentes Documento descarregado de http://jped.elsevier.es el 09/08/2015. Cópia para uso pessoal, está totalmente proibida a transmissão deste documento por qualquer meio ou forma. 348 Dutra GF et al. (PAQ-C),13 o qual caracteriza o nível de atividade física nos sete dias anteriores a sua aplicac¸ão, que foi traduzido e adaptado para excluir atividades físicas e esportivas não praticadas no Brasil.14 O questionário é composto por questões sobre a prática de esportes e jogos; as atividades físicas na escola e no tempo de lazer, incluindo o fim de semana. Cada questão tem valor de 1 a 5. O escore final é obtido pela média das questões. Os escores de 1 a 5 representam, respectivamente, as categorias muito sedentário, sedentário, moderadamente ativo, ativo e muito ativo. Assim, podem-se classificar os indivíduos como ativos (escore ≥ 3) ou sedentários (escore < 3). Além disso, contém uma pergunta sobre a média diária de tempo despendido em frente à televisão. Para a homogeneidade da coleta de dados, os entrevistadores, previamente treinados, receberam um manual de instruc¸ões. Aplicou-se o questionário padronizado às mães ou aos cuidadores e às crianc¸as, concernente a aspectos da saúde infantil, incluindo a frequência, o tipo e a intensidade da atividade física na última semana. Uma amostra aleató- ria de 10% respondeu a um questionário sintetizado, aplicado pelo supervisor do trabalho de campo, com vistas a avaliar a qualidade e a veracidade das informac¸ões coletadas. Para comparac¸ão dos resultados, usou-se o coeficiente de Kappa (0,94). Para o cálculo do tamanho da amostra do estudo de coorte, usou-se um nível de significância de 95% e poder estatístico de 80% e estimaram-se as exposic¸ões, que variaram entre 15 e 80% e um risco relativo de 2. Ao tamanho inicialmente calculado acresceram-se 15% para possíveis perdas e controle dos fatores de confusão em potencial. Para a visita aos oito anos, tentou-se localizar todas as crianc¸as dos acompanhamentos anteriores, mas devido aos novos objetos de estudo e ao elevado número de perdas fez- -se cálculo a posteriori do poder estatístico com a amostra de 616 crianc¸as. Para análise dos principais desfechos avaliados (sedentarismo, excesso de peso e tempo despendido em frente à TV), o poder estatístico foi superior a 80% e manteve-se um valor alfa de 5%. Foram analisadas as seguintes variáveis: demográficas (sexo da crianc¸a e idade materna em anos completos) e socioeconômicas (renda familiar, classe econômica segundo a Associac¸ão Brasileira de Empresas de Pesquisa [Abep]15 e escolaridade materna), paridade (número de filhos, incluindo o do estudo), situac¸ão marital (viver ou não com companheiro) e características da crianc¸a (idade gestacional, peso ao nascer em gramas, estado nutricional, prática de atividade física e hábito de assistir a TV). Para caracterizar a amostra estudada, foi feita análise univariada (frequência e percentual). Com o objetivo de verificar a diferenc¸a na frequência de atividades físicas e o tempo gasto em frente à TV, entre os gêneros, renda e estratos econô- micos e sua associac¸ão com o excesso de peso, efetuou-se análise bivariada, cruzaram-se os desfechos com as referidas variáveis, por meio do teste de qui-quadrado, e foram considerados significativos valores de p < 0,05. Os dados foram duplamente digitados no programa Epi- -Info 6.0 (Epi InfoTM Help Desk Centers for Disease Control and Prevention, EUA) para identificac¸ão e correc¸ão dos erros de digitac¸ão. A análise dos dados foi feita a partir do pacote estatístico SPSS para Windows, versão 21.0 (IBM Corp. SPSS Statistics for Windows, EUA). O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Católica de Pelotas e após receber informac¸ões detalhadas sobre a pesquisa os pais ou responsáveis concordaram com a participac¸ão das crianc¸as no estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Resultados Dos 3.449 nascimentos ocorridos no período de triagem do estudo, 81% (2.799) eram recém-nascidos cujas mães residiam na cidade de Pelotas. Desses, 10 tiveram alta precoce, 26 mães eram HIV positivo (foram excluídas, pois os objetivos iniciais da coorte eram relacionados ao aleitamento materno) e 22 recusaram-se a participar do estudo. Chegou- -se a 2.741 bebês, dos quais se selecionou uma amostra aleatória de 30%, ou 973 bebês. No acompanhamento feito aos oito anos, 616 crianc¸as foram entrevistadas, as quais representaram 63,3% da amostra inicial. As perdas foram atinentes a cinco recusas, 17 óbitos, 93 mudanc¸as para outros estados ou cidades e 242 enderec¸os não localizados. Apesar das perdas, a amostra visitada aos oito anos não mostrou diferenc¸as estatisticamente significativas ao ser comparada com a coorte inicial. Verificou-se que pouco mais de metade da amostra era do sexo masculino, cerca de 60% assistia a TV mais de duas horas por dia e 71% eram sedentárias. Outras características encontram-se na tabela 1. Pode-se observar que a taxa de sedentarismo foi maior entre as meninas (75,3%) do que entre os meninos (67,4%) (p < 0,05). Entretanto, foi independente da renda (p = 0,95) ou do estrato socioeconômico (p = 0,78) e não se associou ao excesso de peso, com Razão de Prevalências (RP) 1,12 e Intervalo de Confianc¸a (IC95%) 0,86- 1,46; p = 0,38 (dados não apresentados em tabela). O hábito de assistir a TV por um período maior do que duas horas por dia não mostrou associac¸ão com o gênero da crianc¸a (p = 0,30), a renda familiar (p = 0,57) ou o nível socioeconô- mico (p = 0,90), mas apresentou associac¸ão inversa à prática de atividade física (RP = 0,78; IC95% 0,61-0,99; p < 0,05). Além disso, associou-se positivamente ao excesso de peso (RP = 0,83; IC95% 0,73-0,95; p < 0,01). No tocante à atividade física, na figura 1 percebe-se que a corrida foi a mais frequente na populac¸ão geral. A aná- lise por sexo demonstra que essa prática também foi a mais prevalente em ambos os sexos. Em relac¸ão à participac¸ão em cada atividade conforme o gênero, futebol (p < 0,01), basquete (p < 0,01) e skate (p < 0,01) foram praticados com frequência significativamente maior entre os meninos do que entre as meninas. No sexo feminino, danc¸a (p < 0,01) e vôlei (p < 0,01) foram as atividades praticadas com maior frequência (fig. 2). Discussão A atividade mais praticada entre ambos os sexos nesta populac¸ão foi a corrida, o que difere do resultado encontrado no estudo de Azevedo et al.,16 em adolescentes também da cidade de Pelotas, no qual a maioria relatou praticar futebol. Na análise das atividades mais feitas de acordo com o sexo, também a corrida foi o esporte mais praticado tanto por meninos como por meninas. Esse resultado diverge de estudos prévios, os quais verificaram que o futebol é a atividade física mais prevalente no sexo masculino, enquanto Documento descarregado de http://jped.elsevier.es el 09/08/2015. Cópia para uso pessoal, está totalmente proibida a transmissão deste documento por qualquer meio ou forma. Influence of TV on exercise and childhood weight 349 Tabela 1 Características da amostra estudada, Pelotas (RS), 2011 Variável N % Renda familiara ≤ 1 85 13,8 1,01-3 308 50,0 3,01-6 144 23,4 > 6 66 10,7 Ignorado 13 2,1 Classe econômica (Abep)b A1 e A2 24 3,9 B1 e B2 202 32,8 C1 e C2 325 52,8 D e E 65 10,5 Idade maternac ≤ 25 52 8,4 26-35 311 50,5 > 35 249 40,4 Ignoradod 4 0,6 Escolaridade materna Analfabeto/3a série fundamental 34 5,5 4 a série fundamental completo 176 28,6 Fundamental completo 133 21,6 Médio completo 213 34,6 Superior completo 53 8,6 Ignoradoe 7 1,1 Mãe vive com companheiro Sim 480 77,9 Não 128 20,8 Ignoradoe 8 1,3 Número de filhos Um 143 23,2 Mais de um 473 76,8 Idade gestacional < 37 semanas 66 10,7 ≥ 37 semanas 550 89,3 Peso do recém-nascido < 2.500 g 49 8,0 ≥ 2.500 g 567 92,0 Número de horas diárias que assiste a TV ≤ 2 horas 250 40,6 > 2 horas 366 59,4 Nível de atividade física Sedentário 439 71,2 Ativo 177 28,8 Excesso de peso Sim 231 37,5 Não 385 62,5 Total 616 100,0 a Em salários mínimos. b Classificac¸ão de acordo com a Associac¸ão Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), enfatiza o poder de compra das pessoas, sem classificá-las em classes sociais. Classe econômica A compreende as pessoas com maior poder aquisitivo e classe econômica E aquelas com menos poder de compra. c Em anos completos. d Óbito materno. e Crianc¸as que não moram com a mãe. 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 5 + vezes 1-4 vezes Nenhuma Bicicleta Salto Playground Dança Caçador Vôlei Basquete Natação Skate Ginástica Correr Futebol Esconder Caminhada Figura 1 Frequência semanal de diferentes tipos de atividade física aos oito anos, Pelotas (RS). 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Meninos Meninas Bicicleta Salto Playground Dança Caçador Vôlei Basquete Natação Skate Ginástica Correr Futebol Esconder Caminhada Figura 2 Percentual de diferentes tipos de atividades físicas de acordo com o gênero, Pelotas (RS). vôlei é o mais praticado pelas meninas.16,17 Entretanto, neste estudo, ao analisar as atividades mais prevalentes em cada sexo, percebe-se que futebol foi praticado com frequência significativamente maior entre os meninos (p < 0,01), da mesma forma que basquete (p = 0,01) e skate (p < 0,01). Por outro lado, o vôlei, que figurou nos estudos supracitados como o mais praticado pelas meninas, neste também foi praticado com frequência significativamente maior no sexo feminino, além da danc¸a (p < 0,01). Convém ressaltar que também no estudo de Azevedo et al.16 a danc¸a foi das atividades mais praticadas pelas meninas e ficou atrás apenas do vôlei. Ainda de acordo com esses autores, essas diferenc¸as entre o tipo de atividade praticada conforme o gênero podem ser explicadas, em parte, por fatores culturais e sociais. A prática de futebol mais prevalente entre os meninos seria pela forc¸a do esporte no país, enquanto que o vôlei entre as meninas estaria relacionado ao fato de, no passado, existir um incentivo maior a essa modalidade devido ao fato de não haver contato físico entre os praticantes.16 Documento descarregado de http://jped.elsevier.es el 09/08/2015. Cópia para uso pessoal, está totalmente proibida a transmissão deste documento por qualquer meio ou forma. 350 Dutra GF et al. O fato de a corrida ter sido o esporte mais praticado nesta amostra pode se dar pela menor validade do questionário para a nossa cultura, uma vez que a conjuntura sociocultural influencia diretamente a prática de atividade física, o que é um fator limitante do estudo.14 Além disso, outra limitac¸ão é o grande número de perdas em relac¸ão à amostra inicial. Mas, apesar disso, a amostra visitada aos oito anos foi representativa da populac¸ão original. E não é possível descartar a hipótese de que a associac¸ão encontrada entre o tempo assistindo a TV com o sedentarismo e o excesso de peso possa ser reflexo do viés de causalidade reversa, já que essas variáveis foram coletadas simultaneamente. Em relac¸ão ao tempo despendido assistindo a TV, cerca de 60% das crianc¸as gastam mais de duas horas diárias nessa atividade. Esse fato é preocupante, pois, de acordo com a Academia Americana de Pediatria,18 crianc¸as devem assistir a não mais do que duas horas diárias de televisão. Além disso, diverge do proposto pela Organizac¸ão Mundial da Saúde (OMS) com vistas à prevenc¸ão da obesidade em crianc¸as e adolescentes, que implica, entre outras práticas, a promoc¸ão de um estilo de vida ativo, com restric¸ão do período dispensado ao tempo de tela.19 Nesse contexto, estudos prévios já demonstraram a associac¸ão direta entre as horas gastas em frente à TV e o peso.20,21 Esse fato pode estar associado à falta de controle dos pais sobre esse hábito, o qual muitas vezes desperta a vontade das crianc¸as de adquirir guloseimas divulgadas nas propagandas televisivas.22 Em estudo desenvolvido para avaliar escolhas alimentares de crianc¸as e adolescentes expostos e não expostos a propagandas de alimentos veiculadas pela televisão, Mattos et al.23 demonstraram que alimentos anunciados foram mais escolhidos do que os demais produtos. Esse fato é relevante, pois, em outro estudo que objetivou analisar a quantidade e o horário das propagandas alimentícias difundidas pela televisão, os autores identificaram 239 propagandas em 336 horas de gravac¸ão e 85% dessas divulgavam produtos fonte de ac¸úcares, óleos e gorduras, além da total ausência de frutas e hortalic¸as.24 A falta de associac¸ão entre tempo gasto em frente à TV e sexo, nível socioeconômico e renda diverge de estudos pré- vios. Vasconcellos et al.,25 ao avaliar o tempo de tela de escolares da cidade de Niterói (RJ), verificaram que entre o gênero femininos essa prática foi significativamente mais prevalente. Em relac¸ão ao nível socioeconômico, estudo anterior evidenciou associac¸ão positiva entre essa variável e o tempo de tela. De acordo com os autores, isso se deve, provavelmente, à dificuldade de acesso das classes menos favorecidas a equipamentos eletrônicos.26 Por outro lado, segundo Keihner et al.,27 as crianc¸as de menor renda despendem mais tempo em atividades como a assistir televisão quando comparadas com aquelas pertencentes a famílias de maior renda. A alta prevalência de sedentarismo (71,2% entre sedentários e muito sedentários) verificada na populac¸ão pode ser explicada, em parte, pelo hábito de assistir a TV por um período maior do que duas horas diárias, visto que se observou associac¸ão significativa e direta entre ambos (p < 0,05). Esse resultado é semelhante ao constatado por Hallal et al.,17 que também encontraram associac¸ão positiva entre essas variáveis ao avaliar a prevalência de sedentarismo e fatores associados em adolescentes de 10-12 anos em Pelotas. Corroborando esses resultados, Babey et al.28 também constataram em seu estudo que adolescentes mais envolvidos em atividades físicas gastaram menos tempo assistindo a TV ou usando o computador. Além disso, a associac¸ão encontrada nesse estudo entre o excesso de peso e horas diárias assistindo a TV ratifica o resultado encontrado por Vasconcellos et al.,25 os quais também verificaram associac¸ão direta e significativa entre essas variáveis. Além do mais, corrobora o proposto por Santaliestra-Pasías et al.,5 de que a reduc¸ão do tempo despendido em comportamentos sedentários pode ser usada como forma de combate à obesidade infantil. De acordo com os resultados, encontrou-se uma elevada prevalência de sedentarismo e de crianc¸as que assistem a TV por um período excessivo. Além disso, a associac¸ão desse hábito com baixos níveis de atividade física e com o excesso de peso na amostra estudada ratifica estudos prévios que demonstram a relac¸ão entre comportamentos sedentários e o excesso de peso infantil.20,21 Dessa forma, intervenc¸ões que objetivem a reduc¸ão de tais hábitos podem ajudar no combate à epidemia da obesidade. Assim, faz-se necessário o estímulo a atividades interativas, bem como a promoc¸ão de um estilo de vida mais ativo, com a reduc¸ão do tempo que jovens dispensam em frente à TV, para a reduc¸ão do sedentarismo e, portanto, do excesso de peso nessa populac¸ão. Conflitos de interesse Os autores declaram não haver conflitos de interesse. Agradecimentos À Fundac¸ão de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) e à Universidade Católica de Pelotas (Ucpel) pela concessão de bolsas de iniciac¸ão científica e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela Bolsa de Produtividade em Pesquisa (EPA). 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