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O Itinerário Terapêutico

Por:   •  17/5/2023  •  Trabalho acadêmico  •  1.684 Palavras (7 Páginas)  •  86 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM EM SAÚDE PÚBLICA

 

THAIS BATISTA SALES SILVA MELO

 

 

ITINERÁRIO TERAPÊUTICO

 

 

 

JOÃO PESSOA - PB

2023

ITINERÁRIO TERAPÊUTICO

De acordo com o ITINERÁRIO TERAPÊUTICO EM SITUAÇÕES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA PEDIÁTRICA EM UMA COMUNIDADE QUILOMBOLA (2014?):

O termo Itinerário Terapêutico (IT) refere-se à busca de cuidados terapêuticos e procura descrever e analisar práticas individuais e socioculturais em termos dos caminhos percorridos pelos indivíduos na tentativa de solucionarem seus problemas de saúde, incluindo a lógica que direciona essa busca, que é tecida em múltiplas redes formais e informais, de apoio e de pertença .(SIQUEIRA, S.M.C. et al, 2014?)        

                

É importante ressaltar que o itinerário terapêutico é influenciado pelos determinantes sociais da saúde, ou seja, essas práticas individuais e socioculturais de saúde orientam os caminhos trilhados pelos indivíduos na tentativa de solucionar seus problemas de saúde e estão envoltos em uma rede complexa de escolhas possíveis dentro de um contexto em que o indivíduo está inserido, sobretudo frente à diversidade de possibilidades disponíveis ou não relacionados ao cuidado em saúde. Compreender a saúde dos indivíduos e as tomadas de decisões destes em relação ao enfrentamento da doença requer a análise de suas práticas a partir do contexto em que elas tomam forma.

Para exemplificar um itinerário terapêutico, vamos pensar no caso de uma mulher adulta de 23 anos que se chama Laura, trabalha de balconista em uma farmácia, recebe um salário mínimo e reside com sua mãe e seu padrasto no município de Cabedelo. Ela reclamava que desde 2020 tinha tido fortes dores abdominais, rotineiramente, além de diarreia e distensão abdominal sem explicação. Laura buscou atendimento médico privado após passar mal durante 6 semanas e o motivo é que ela não se sentia à vontade com médicos, pois sempre teve experiências negativas quando buscou ajuda.

“Não gostava de ir ao médico, desde pequena quando passava mal, sempre fui mal atendida, as filas eram enormes e tinha que ficar esperando o atendimento!” (Laura, 23 anos, paciente índice)

A jovem foi para o Hospital Samaritano de João Pessoa utilizando Uber, visto que não conseguiria utilizar o transporte público por causa da sua condição de saúde, já no atendimento a médica fez algumas perguntas sobre a sua dor, o tempo que ela durava, se havia algum gatilho que a paciente tinha observado (ela não soube informar) e fez a apalpação do abdômen que se encontrava distendido. Com as informações colhidas, a médica elencou alguns possíveis diagnósticos e passou exames para a paciente, como exame de intolerância a glúten e a lactose, hemograma completo e exame de fezes, contendo a investigação de sangue ou parasitoses e medicação para alívio dos sintomas como Buscopan, Luftal e Omeprazol. Esses exames retornaram normais com exceção do igA e da lactose que deu positivo para intolerância (de acordo com a lembrança da paciente Laura). Com esses exames em mãos ela retornou ao médico e lhe foi aconselhado procurar um gastroenterologista para uma investigação mais especializada. Entretanto, ela não possuía condições financeiras para arcar com os custos da consulta deste especialista, pois já havia ultrapassado suas economias com a primeira consulta no generalista e com os exames que este lhe passou.

        Laura fez o que é muito comum na nossa sociedade em relação à própria saúde, quando seus sintomas melhoraram ela cessou a compra do omeprazol que deveria tomar todo dia antes do café da manhã durante 6 meses, ela concluiu 4 meses e não comprou mais, visto que se sentia melhor e também não tinha como ter mais gastos naquele momento. Assim, a paciente foi lidando com suas dores e distensões abdominais da forma que podia, orava bastante pela sua melhora, apesar de não frequentar mais a igreja, tentava não comer tão mal etc.

“Eu tomava um remédio que minha mãe passava, às vezes um chá que era melhor do que dipirona né? e ficava na cama esperando melhorar.” (Laura, 23 anos, paciente índice)

        No final de 2021, Laura começou a sentir dores mais incômodas, isso ocorria até quando ela ingeria água, então ela recorreu a internet, pois como dito anteriormente, ela não tinha facilidade em procurar o médico. No google ela encontrou que poderia ser câncer intestinal ou esofagite, nesse momento ela lembrou de uma bisavó que, muito velhinha, havia falecido de câncer de intestino. Desse modo, Laura se sentiu coagida pelo medo a procurar atendimento médico indo até a USF mais próxima da sua casa em janeiro de 2022 (quando entrou de férias do emprego).

        “Daí eu lembrei logo da minha bisa, né? Foi muito sofrido pra ela, eu era pequena, mas me lembro bem… Então eu fui logo buscar o médico, porque podia ser bem sério, né?” (Laura, 23 anos, paciente índice)

        Na USF, ela foi muito bem tratada por um médico de espectro autista e seu assistente, ele analisou os exames que ela já havia feito e passou eles novamente para atualizá-los e incluiu o requerimento de endoscopia digestiva com biópsia para o diagnóstico de doença celíaca. Laura marcou o exame e fez em duas semanas, entretanto o município de Cabedelo não possui clínica para analisar o biópsia retirada na endoscopia; ela retornou a USF para buscar auxílio do seu médico e ele lhe aconselhou a tentar fazer pela USF de João Pessoa, já que ela tinha um irmão residente do município e assim poderia fazer o exame completo pelo SUS.

        “Aquele médico foi muito importante pra mim querer continuar indo atrás do meu diagnóstico, todo mundo me dava papelada pra me atrasar, mas ele me deu informações importantes e um encaminhamento com urgência que me ajudou muito.” (Laura, 23 anos, paciente índice)

        A paciente Laura fez todo o processo de consulta pela USF novamente e pediu o encaminhamento para o centro de regulação, que é uma etapa burocrática necessária para que ela conseguisse realizar o exame. Ao chegar no centro de regulação ela não conseguiu realizar o encaminhamento para alguma policlínica, visto que seu cartão do SUS ainda era o de Cabedelo e ela precisaria mudar o local para conseguir ser atendida (esse processo aumenta a sobrecarga da capital da Paraíba, mas é o único modo dela obter tratamento). A paciente, ainda gastando muito com todas as passagens utilizadas, se direcionou até a secretaria de saúde e mudou a cidade do seu cartão do SUS. Quando ela retornou outro dia ao centro de regulação para conseguir seu encaminhamento a validade da biópsia tinha encerrado, Laura não havia sido informada sobre esse fator e nesse momento buscou ajuda financeira de familiares, novamente, para conseguir realizar mais uma biópsia. Por fim, ela conseguiu que analisassem seu exame e no fim, com todos os exames em mãos, retornou a sua USF e obteve o diagnóstico de intolerância a lactose, esofagite de eosinófilos, gastrite enantematosa, intolerância a lactose e Síndrome do Intestino Irritável (SII).

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