A HISTÓRIA DA PSICOPATOLOGIA NO BRASIL
Por: Melina Machado • 17/6/2018 • Trabalho acadêmico • 2.221 Palavras (9 Páginas) • 1.217 Visualizações
A HISTÓRIA DA PSICOPATOLOGIA NO BRASIL1
Benilton Bezerra Jr
No transcorrer deste relatório buscaremos enumerar os comentários que consideramos mais importantes da entrevista de Benilton Bezerra Jr, correlacionando-os com os conteúdos referentes a disciplina de Saúde mental e destacando os textos que abalizam as ideias expostas por Benilton.
A princípio, Benilton Bezerra Jr. Buscou apresentar-nos brevemente o conceito Psicopatologia, o entrevistado define a mesma como um campo específico do conhecimento: “Psico-Pathos-Logos” – ou seja, o estudo do sofrimento psíquico, definição essa que podemos encontrar com outra roupagem,no entanto, com a mesma perspectiva ideológica no trabalho de SERPA JUNIOR: “a inclusão as subjetividade no ensino da psicologia interface comunicação saúde e educação” . O trabalho de Serpa Junior traz também a ideia de que a psicopatologia está totalmente incluída no contexto da vida cotidiana, o autor explica tal afirmação defendendo que atualmente tem sido cada vez mais comum a absorção de conceitos, palavras e ideias inerentes a psiquiatria para utilização nas relações sociais a todo tempo, com o intuito de definir a própria natureza humana e dar nome a determinados sentimentos, ideia também ratificada por Benilton no transcorrer da entrevista.
Na sequência da entrevista, Benilton afirma, que embora a psicopatologia seja uma parte do campo médico, ela tem como pretensão muitas vezes se apresentar como uma atividade científica. No entanto, o mesmo defende que a psicopatologia é uma atividade permanente que gira em torno de um exercício constante de demarcação do que é a normalidade e do que é a diferença mas não patologia ,ou seja, a delimitação do que é uma diferença considerada patológica e uma diferença considerada não patológica, e , portanto, que não merece algum tipo de intervenção. Essa ideia é especialmente discutida na obra SERPA JUNIOR, onde o autor mostra conformidade com as ideias de Benilton. Seguindo o raciocínio anteriormente descrito e ainda se baseando no texto citado, entende-se que a psicopatologia é uma área do conhecimento da qual a sociedade participa na medida que cauciona, crítica, aponta, nomeia e classifica positiva ou negativamente certas experiências psíquicas e determinados comportamentos. O que faz com que, uma experiência ou uma conduta seja considerada patológica ou não, seguindo essa linha de pensamento, não é algo que se decida cientificamente e com uma objetividade isenta de avaliação subjetiva. Muito pelo contrário, há de se levar, em conta a experiência pessoal de cada indivíduo.
Como foi exposto acima, a psicopatologia envolve a demarcação das fronteiras entre normalidade, diferença e patologia, e é um exercício constante de toda a sociedade .Para poder exemplificar esse conceito, Benilton passa a enumerar uma série de diagnósticos que num passado recente eram tidos como corretamente aplicados a determinadas situações clínicas e que na atualidade já não fazem mais sentido .Ainda nesse contexto, ele cita o caso da homossexualidade ,a mesma ,como mostra os relatos históricos, começou a ser considerada como uma patologia no século 19,e deixou de ser considerada como patologia há muito pouco tempo atrás, em 1974. A razão dessa transformação teria sido a pressão exercida dos movimentos “gays”, os quais provocaram uma votação e uma espécie de plebiscito, no qual se decidiu que a homossexualidade não deveria ser considerada uma patologia.
Outro importante exemplo citado pelo entrevistado foi o da depressão, a qual, nos anos 50 acometia, cerca de 2% da população, atualmente, depois das modificações nos parâmetros de classificação das doenças e diagnósticos e segundo as previsões e cálculos epidemiológicos, atingirá uma em cada quatro pessoas ao longo da vida. Então, fica facilmente perceptível que o quadro das chamadas doenças mentais varia conforme o contexto. Alguns diagnósticos simplesmente aparecem do nada, logo após desaparecem com igual rapidez, já outros vão mudando de nome, como é o caso da psicose maníaco depressiva que se transformou no transtorno bipolar, trazendo a popularização dessa nomenclatura, todo esse contexto também é abordado no trabalho SERPA JUNIOR, o qual se utiliza de uma linguagem e uma forma de perspectiva um pouco mais prolixa, no entanto com o mesmo teor de opinião.
Em 1980 surgiu a 3ª edição do DSM. O DSM é um sistema de classificação diagnóstico de doenças psiquiátricas criado pela psiquiatria americana mais adotado pelo mundo inteiro. Desde de então esse recurso transformou-se em uma espécie de bíblia do psiquiatra. Até o final da II Guerra Mundial, a psicopatologia ela era fundada numa certa concepção do sofrimento psíquico, como uma espécie de dilaceração interna, vivido como um conflito, um enigma a ser decifrado. De maneira resumida, todo sintoma era considerado uma manifestação de alguma experiência intima vivida pelo paciente, assim, por exemplo, a própria depressão, uma fobia, um delírio, esses “sinais” tinham alguma significação, e remetiam a algum aspecto especial na trajetória singular daquele indivíduo e na sua relação com o meio, conceito comentado tanto no discurso de Benilton quanto no texto de CECCARELLI”O sofrimento psíquico na perspectiva da psicopatologia fundamental”. Desta forma, o paciente que era tomado por algum sintoma, era quase automaticamente investigado com o objetivo de se averiguar o que estava ocorrendo em seu íntimo, ou seja, quais circunstâncias levaram o mesmo a estar sofrendo daquela forma.
Outro aspecto relevante citado por Benilton e enumerado no texto de CECCARELLI diz respeito a mudança proporcionada pela DSM relacionada a indústria farmacêutica, a qual teve um sucesso extraordinário com a ampliação de diagnósticos psiquiátricos, passando a ser uma das áreas da economia mais lucrativas, fato esse que teve um impacto poderoso na mudança do paradigma da psicopatologia. Um outro elemento fundamental na modificação do paradigma citada pelo entrevistado e enumerada pelo texto supracitado, foi a crise de legitimidade da psiquiatria por volta dos anos 60. Crise esta que foi provocada em parte por críticas e acusações que afirmavam que o diagnóstico psiquiátrico não teria confiabilidade. Segundo os críticos da época, cada psiquiatra diagnosticava de maneira muito pessoal, e as escolas francesa, alemã, inglesa e americana tinham cada uma delas um sistema de qualificação particular. Além disso, um outro elemento importante foi o fato de que os psiquiatras que até os anos 50, apenas, trabalhavam dentro de asilos com condições tacanhas de tratamento ou em consultórios fazendo psicoterapia, começaram a sofrer a concorrência de outros profissionais que também eram capazes de atuar na investigação dos aspectos psicológicos dos indivíduos, os mesmos tinham desvantagem por não poderem medicar, mas os médicos, por não terem acesso amplo aos medicamentos que hoje existem, não tinham muito diferencial com relação aos outros profissionais, aspecto também foi frisado por Benilton e por CECARELLI
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