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A Saúde do Idoso

Por:   •  27/6/2022  •  Artigo  •  6.794 Palavras (28 Páginas)  •  144 Visualizações

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  • CAPÍTULO 89

Saúde do idoso

Cristina Padilha Lemos Sergio Antonio Sirena

Aspectos-chave

  • As projeções da composição populacional por grupos de idade apontam para o envelhecimento demográfico brasileiro. Este fenômeno determina um incremento na prevalência de doenças crônicas e um desafio para as políticas sociais do país.
  • O modelo de atenção aos idosos deve estruturar-se em abordagens que encontrem respaldo no conhecimento científico e que sejam ajustadas aos diversos ambientes de atuação dos profissionais da saúde.
  • As quedas em idosos são frequentes e também uma das maiores ameaças à sua autonomia. O risco de quedas que resultam em graves consequências, inclusive a morte, acompanha várias síndromes geriátricas.
  • A aplicação de um instrumento de avaliação multidimensional durante a consulta médica em atenção primária à saúde (APS) aumenta a

eficácia diagnóstica para detecção dos problemas de saúde que mais comumente afetam a qualidade de vida do idoso

  • Os idosos com multimorbidades são heterogêneos em termos de gravidade da doença, estado funcional, prognóstico e risco de eventos adversos mesmo quando diagnosticado com condições que tem os mesmos padrões. Essa condição está associada com muitas consequências adversas, incluindo morte, incapacidade, institucionalização, aumento do uso dos serviços de saúde, perda da qualidade de vida e aumento dos níveis de efeitos adversos do tratamento e intervenções.

A esperança é o futuro grávido de possibilidades que permite o

encantamento da espera.

(Heráclito)

Envelhecimento populacional e novas demandas em saúde

Os processos de transição demográfica e epidemiológica mantêm uma correlação direta. O perfil de saúde da população modifica-se: em vez de processos agudos, que teriam um desfecho rápido para cura ou óbito, tornam-se predominantes as doenças crônicas e suas complicações, que implicam aumento da utilização dos serviços de saúde.

A população idosa se diferencia por possuir uma série de características próprias com relação ao processo saúde-doença. A incidência e a prevalência de muitas doenças aumentam, e há um alto índice de patologias múltiplas e crônicas. Essa multiplicidade de problemas médicos dificulta a atenção à saúde ao idoso de várias formas: os sintomas podem resultar de interação mútua, um processo pode mascarar o aparecimento de outro e o tratamento de um processo pode interferir no outro. Tem igual relevância o fato positivo de que o manejo de um processo pode ter um impacto positivo substancial sobre outras áreas, especialmente na capacidade funcional do paciente. Certos problemas ou condições, resultados de diferentes etiologias, são mais prevalentes, estão mais relacionados com a idade e alteram a capacidade funcional do idoso de forma

mais incisiva. Os mais frequentemente encontrados são déficits sensoriais, demência, incontinência, instabilidade e quedas, imobilidade, desnutrição, iatrogenia medicamentosa, isolamento social e depressão. Acresce-se o fato de que, como regra, as doenças se apresentam de forma atípica em um contexto de

problemas sociais e econômicos concorrentes.1 Os dados da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística mostram que 77,6% dos brasileiros de mais de 65 anos de idade relataram ser portadores

de doenças crônicas, um terço deles com mais de uma doença crônica.2 A análise da carga de doença, medida em anos de vida perdidos ajustados por incapacidade, demonstra que 14% dessa carga são por doenças infecciosas, parasitárias e desnutrição; 10,2%, por causas externas; 8,8%; por condições maternas e perinatais; e 66,3%, por doenças crônicas.

Avaliação do paciente idoso

Ainda não é conhecida inteiramente a relação entre as ações de promoção da saúde e rastreamento de problemas comuns dos pacientes idosos com qualidade de vida e longevidade. Ainda é necessário mais evidências sobre o quanto as intervenções podem influenciar positivamente.

Apesar do grau de incerteza, há consenso de que os objetivos da promoção da saúde e de prevenção de doenças nos pacientes idosos são a redução da mortalidade prematura por doenças agudas ou crônicas, a manutenção da independência funcional, a extensão da expectativa de vida ativa e a melhora na qualidade de vida.

As ações de promoção e manutenção da saúde consistem na aplicação de modalidades de rastreamento e ações terapêuticas com o objetivo de preservar a saúde e a autonomia funcional do idoso. Entretanto, a maioria dos estudos de rastreamento não está dirigida ao estudo da população de idosos e, por isso, há certa escassez de dados com base em evidência para firmar recomendações. Em função disso, o médico de família e comunidade deve fazer um balanço entre os riscos e os benefícios na investigação de anormalidades em um teste de rastreamento, bem como ter em mente que nesse grupo populacional algumas dessas alterações se explicam pela própria fisiologia heterogênea do

envelhecimento.3

Um grupo de estudos4 definiu alguns princípios para a promoção e a proteção da saúde dos idosos que podem servir de guia para a ação dos profissionais de

saúde:

  • A velhice não é uma enfermidade, e sim uma etapa evolutiva da vida.
  • A maioria das pessoas com mais de 60 anos estão em boas condições de saúde, mas, ao envelhecer, perdem a capacidade de recuperar-se das doenças de forma rápida ou completa e tornam-se suscetíveis a incapacidades e à necessidade de ajuda para seu cuidado pessoal.
  • É possível melhorar a capacidade funcional mediante reabilitação e estímulo, ou evitando novos agravos à saúde.
  • Do ponto de vista social e psicológico, os idosos são mais heterogêneos do que os jovens.
  • A promoção da saúde na velhice deveria dirigir-se para a preservação da saúde mental e física, ao amparo social e, na mesma medida, à prevenção de doenças e incapacidades.
  • Muitas medidas que afetam a saúde dos idosos transcendem o setor saúde, sendo necessárias ações intersetoriais.

Os objetivos tradicionais de prevenção costumam ser direcionados à redução da morbimortalidade. Entretanto, no cuidado do idoso, as ações que visam à redução das incapacidades e da dependência, com o objetivo de prevenir a ruptura familiar e manter o idoso no seu domicílio, são fundamentais. Assim, o propósito da manutenção da saúde não é apenas retardar ou prevenir doenças, mas também otimizar a qualidade de vida, a satisfação em viver e manter a

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