Saude No Trabalho
Ensaios: Saude No Trabalho. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: rhunopar • 21/9/2014 • 4.392 Palavras (18 Páginas) • 299 Visualizações
SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 17(2) 2003
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U
SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA
DO TRABALHO
Resumo: Este artigo objetiva, mediante algumas incursões teóricas e de uma análise sociopsicológica, discutir
a forma como o trabalho está organizado em nossa sociedade, bem como as repercussões psíquicas provocadas
pelo trabalho sem sentido. As condições e as exigências do mercado de trabalho na atualidade rotinizam e
amortecem o sentido da vida, deixando no corpo as marcas do sofrimento, que se manifestam nas mais variadas
doenças classificadas como ocupacionais, além de atentar contra a saúde mental.
Palavras-chave: psicodinâmica; trabalho; saúde mental.
Abstract: The objective of this paper is to discuss, trhough some theoretical incursions and a socio-psycological
analysis, the way labor is organized in our society and the psychic repercussions criated by the non-sense
labors. Conditions and requirements imposed by the current work market make life a matter of routine and
deaden its sense, leaving scares of sufferings on bodies which are manifested by various diseases taken as
occupational ones and constitute an attack to mental health.
Key words: psychodynamic; labor; mental health.
JOSÉ ROBERTO HELOANI
CLÁUDIO GARCIA CAPITÃO
2): 102-108, 2003
m dos objetivos mais recentes da saúde mental
não se restringe apenas à cura das doenças ou a
sua prevenção, mas envidar esforços para a
balhar em excesso e a divertir-se muito pouco; outras, pelo
contrário, passam os dias a divertirem-se; outras ainda não
conseguem fazer nem uma coisa nem outra. Sabe-se hoje
que tanto o trabalho, quanto a diversão em proporções
satisfatórias são critérios para avaliar um funcionamento
psíquico saudável.
Na realidade, ao contrário do que muitos possam supor,
a organização do trabalho não cria doenças mentais
específicas. Os surtos psicóticos e a formação das neuroses
dependem da estrutura da personalidade que a pessoa
desenvolve desde o início da sua vida, chegando a certa
configuração relativamente estável, após o período de
ebulição da adolescência – quando as condições sociais
são relativamente favoráveis –, antes mesmo da pessoa
entrar no processo produtivo. No entanto, “o defeito crônico
de uma vida mental sem saída mantido pela organização
do trabalho, tem provavelmente um efeito que favorece
as descompensações psiconeuróticas” (Dejours,
1992:122).
Atualmente, observa-se uma pressão constante contra
a grande massa de trabalhadores existente em quase todo
o mundo. Uma ameaça com objetivo certeiro faz com que
milhares de pessoas sintam-se sobressaltadas, pois a úniimplementação
de recursos que tenham como resultado
melhores condições de saúde para a população.
Na visão de Bleger (1984), não interessa apenas a ausência
de doenças, mas o desenvolvimento integral das
pessoas e da comunidade. A ênfase, então, na saúde mental,
desloca-se da doença à saúde e à observação de como
os seres humanos vivem em seu cotidiano.
Para Dejours (1994), a psicopatologia tradicional está
alicerçada no modelo clássico da fisiopatologia das doenças
que afetam o corpo. Dedica-se, exclusivamente, ao
diagnóstico das doenças mentais, dos transtornos mentais
orgânicos, da esquizofrenia, dos transtornos do humor e
dos inúmeros transtornos de personalidade. O debate, porém,
que este artigo pretende explorar abrange as condições
de milhares de pessoas sem imunidade que, embora
suportem as pressões, conseguem, de alguma forma, escapar
de um transtorno psicótico severo, mas que se mantêm,
por assim dizer, no campo da normalidade.
Não é raro encontrar pessoas que, por uma condição
de sua psicodinâmica interna, possuem a propensão a tra103
SAÚDE MENTAL E PSICOLOGIA DO TRABALHO
ca ferramenta de que dispõem, sua força de trabalho, pode
ser dispensada a qualquer momento.
O desprezo assola o universo do trabalho e traz conseqüências
drásticas para todos os que têm em seu trabalho
sua única forma de sobrevivência.
Contudo, a força de trabalho exigida precisa de especial
qualificação, mesmo que seja, como antigamente, para
apertar um simples botão. Assim, para a maior parte das
atividades,
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