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ASPECTOS DOS PROCESSOS, DETERMINANTES E IMPLICAÇÕES DO MODELO DE CRIAÇÃO

Por:   •  5/5/2016  •  Artigo  •  4.822 Palavras (20 Páginas)  •  439 Visualizações

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ASPECTOS DOS PROCESSOS, DETERMINANTES E IMPLICAÇÕES DO MODELO DE CRIAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DOS CURSOS E PROFISSÃO DE NUTRICIONISTA NO BRASIL

Maria Letícia Galluzzi Bizzo*, Ávila Teixeira Vidal#, Thaís Coutinho de Oliveira#, Renata Vaz Serrano MendesŦ, Juliana Gouvea Schaffer#, Tatiana Jotha Mattos#, Thaisa Ferraz Torres Valladas#, Marcela Pires FreireŦ, Fernanda Maria Souza ZocateliŦ

*professor assistente, Departamento de Nutrição Social e Aplicada, Instituto de Nutrição da UFRJ, galluzzi@acd.ufrj.br; #graduandos, Nutrição, Instituto de Nutrição da UFRJ; Ŧpós-graduandos, curso de especialização em Nutrição Humana, Faculdade Arthur Sá Earp Netto - Petrópolis

Estes são resultados preliminares de um estudo em curso, que visa conhecer e compreender aspectos históricos do surgimento e consolidação dos cursos e profissão de nutricionista no Brasil. Os dados baseiam-se: no depoimento de profissionais pioneiros, muito em especial de Lieselotte Hoeschl Ornellas, remanescente da primeira geração brasileira de nutricionistas, que se compunha de duas enfermeiras que cursaram nutrição na Argentina; das “memórias” por ela datilografadas (na terceira pessoa), do acervo documental dos pioneiros e do Instituto de Nutrição da UFRJ; e da complementação por fontes bibliográficas. Dada a diversidade dos temas e as limitações de espaço, o presente trabalho destacará alguns aspectos dos distintos sub-temas de estudo.

O início de Lieselotte; a dimensão de Escudero

O primeiro centro latino-americano de fomação em nutrição foi criado na Argentina, pelo médico Pedro Escudero, personalidade científica altamente destacada, de tendências humanistas e elevado carisma. Lieselotte Hoeschl e Firmina Sant’Ana, duas enfermeiras da Escola de Enfermagem Ana Nery da Universidade do Brasil (UB, hoje UFRJ) foram as primeiras nutricionistas brasileiras, tendo tal formação visado habilitá-las a ensinar aspectos de nutrição aos futuros enfermeiros. Lieselotte, uma catarinense extremamente dotada dos pontos de vista intelectual e humano, e que viria a tornar-se um expoente na ciência da Nutrição e protagonista de várias conquistas da carreira, nos conduz ao início dessa história, narrando-nos sobre Escudero e seu curso, que ela viria a freqüentar de 1940 a 43: (...) em (...) 1933, criou-se (...) a Escola Municipal de Dietistas, a primeira no gênero no continente latino-americano e que viria a transformar-se na célula ‘mater’ de profissionais daquela especialidade (1p.8). Nesse mesmo ano, sob o ideário da racionalidade, (...) a Universidade do Brasil, que despertava para o problema da alimentação racional, convidou (...) o Prof. Escudero para ministrar um curso sintético de dietologia. Sua passagem aqui foi uma apoteose entre os acadêmicos, são palavras dos que testemunharam os fatos (1p.8). Por sua influência e prestígio, seu governo ofereceu bolsas de estudos para os cursos do Instituto (já Instituto Nacional de la Nutrición) a todos os países latino-americanos (...) (1p.9). Ao regressar aos seus países de origem, nutrólogos e nutricionistas colaboraram na organização de Instituições congêneres e na criação de cursos (...) (1p.9). A ida para Buenos Aires evidenciou o alcance da escola: Tudo pronto e partiram num navio do Lloyd Brasileiro (...). Além de 60 bolsistas argentinas, professoras escolares (...), havia o grupo de estrangeiras (Brasil, Bolívia, Colômbia, Paraguai, Chile, com 2 representantes cada um) e também 2 médicos de cada país (...). Lieselotte e sua colega foram levadas à presença do Diretor Geral, Prof. Pedro Escudero (...). Na ante-sala cruzaram com Pedro Borges, médico brasileiro que cumpria visita de observação. Em conversa com ele souberam que o curso era de 3 anos e não apenas 9 meses (...). Apesar da surpresa, não havia como recuar. A seqüência dos acontecimentos era imprevisível, e o importante era não decepcionar, como representante do Brasil (2p.13). Na Argentina, a formação de Lieselotte deu-se sob o mesmo modelo central de matérias que depois se tornaria a base do currículo tradicional brasileiro de nutrição. Falando sobre o curso, ela relata que em nenhum outro centro testemunhou tanta profundidade no ensino (2p.14). 

Quanto à personalidade de Escudero, repercutira positivamente na comunidade científica e em seus alunos, e contribuiu para a propagação da profissão: Confirma-se, assim, o que dele foi dito, em 1934, pelos (...) professores Berardinelli e Helion Póvoa – ‘prega Escudero uma política majestosa de união fraterna, de comunhão internacional. Pedro Escudero não é só um mestre argentino de medicina, é um estadista sul-americano, é pioneiro de uma cruzada nacionalista: verdadeira política alimentar.’ (1p.9). E, no testemunho de Lieselotte: Hay cursos de alto nivel en (...). Todavia no se comparan con su Escuela de Dietistas. Faltam la concentración, la unidade, el sentido de doctrina polarizado por su personalidad invulgar, que es la flama que alimenta el entusiasmo de sus discipulos (3).

No decorrer dos estudos, acusada de “quinta-coluna”, Lieselotte teve de explicar-se: Era o ano de 1942, em plena 2a Grande Guerra Mundial; na época, toda a correspondência internacional era aberta pela censura e, ‘até provar ao contrário’, as acusações criaram embaraços na volta (2p.15). Ao regressar, alocada na Divisão de Organização Sanitária, e falecido seu pai, conta: Havia superado a fase de muito idealismo e sentia as restrições que a realidade impõe. Achava o campo muito limitado para a aplicação dos conhecimentos adquiridos (...), pois sequer havia o curso de dietista no Brasil (2p.17). Lieselotte freqüentou depois um curso de pós-graduação em nutrição na Inglaterra, de 47 a 49. Lá, aprendeu sobre o sistema de racionamento alimentar: A experiência da guerra anterior (...) provou que as dificuldades de transporte e aumento de consumo trariam escassez de alimentos. (...) foram tomadas medidas para (...) que não houvesse desigualdade na possibilidade de aquisição dos gêneros por classes sociais de nível econômico diferente (4). Em 1951, outra bolsa de pós-graduação, pelo programa Ponto IV, dos EUA, com duração de 1 ano e plano de estudos definido pela Federal Security Agency. Diz Lieselotte: O que mais impressionava (...) era a liberdade, descontração do estudante em classe, em comparação com o sistema rígido e formal da Inglaterra (5p.31). Entretanto, notara, da parte dos ingleses, uma certa liberdade interior de pensar (...). No povo americano havia a descontração (...) na aparência (...), mas um rígido, compulsivo esquema na aplicação, na distribuição do tempo. Após conhecer os regimes argentino, inglês e norte-americano de ensino da nutrição, afirmou a superioridade do primeiro: (...) é superior aos cursos ministrados nos países pioneiros, EUA, Canadá e Inglaterra, onde há campo mais vasto, maiores recursos, porém para aperfeiçoamento isolado, nesta ou naquela matéria (...). A Escola de Escudero forma o profissional polivalente (1p.7). Essa polivalência vem a constituir-se em uma das marcas do ensino de nutrição no Brasil, a da formação generalista, discutida, mas altamente conservada. Foi de um importante congresso no Panamá que, em 1963, Sonia Moreira Alves, representante brasileira, escreveu a Lieselotte, atestando a unidade do modelo de formação latino-americano: Todas as dietistas que estão tomando parte no seminário foram alunas do instituto de Escudero e, assim, é um prazer (...) saber que o Brasil possui realmente um ‘gran maestro en Nutrición (6)’. Em anos posteriores, recomendações continentais para os currículos de nutrição continuariam tendo grande expressão.

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